A presidenta afastada Dilma Rousseff defendeu nesta quinta, 10, em
entrevista especial concedida à TV Brasil, uma consulta popular caso o
Senado não decida pelo seu impedimento. Ao apresentador Luís Nassif,
Dilma disse que é a população que tem que dizer se quer a continuidade
de seu governo ou a realização de novas eleições. "O pacto que vinha
desde a Constituição de 1988 foi rompido e não acredito que se
recomponha esse pacto dentro de gabinete. Acredito que a população seja
consultada", disse.
Para ela, o país não conseguirá superar a crise com o governo
interino. Dilma acredita que o povo não terá confiança no comando de
Temer pelo fato de ele não ter passado pelo crivo das urnas. "Como você
acha que alguém vai acreditar que os contratos serão mantidos se o maior
contrato do país, que são as eleições, foi rompido?", indagou. "Não
acho possível fazer pacto nenhum com o governo Temer em exercício",
completou.
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Dilma criticou uma vez mais a admissibilidade do processo de
afastamento usando como o argumento o fato de que, embora a Constituição
preveja o impeachment, ela também estipula que é preciso haver crime
para que se categorize o impedimento. "Não é possível dar um jeitinho e
forçar um pouquinho e tornar esse artigo elástico e qualificar como
crime aquilo que não é crime. Os presidentes que me antecederam fizeram
mais decretos do que eu. O senhor Fernando Henrique [Cardoso] fez entre
23 e 30 decretos do mesmo tipo", disse, referindo-se aos decretos de
suplementação orçamentária que embasaram o pedido de impeachment feito
pelos advogados Hélio Bicudo, Miguel Reale Jr. e Janaína Pascoal.
"Não é o meu mandato, mas as consequências que tem sobre a democracia
brasileira tirar um mandato. Isso não afeta só a Presidência da
República, afeta todos os Poderes", disse ela.
Dilma disse que reivindica voltar ao posto por compreender que não
cometeu crime. Ela criticou os que defendem um semiparlamentarismo, ou
eleição indireta, por considerar que isso traria um grande risco ao
país. A presidenta afastada defendeu que haja uma reforma política que
discuta o tema. "Não temos que acabar com o presidencialismo, temos que
criar as condições pela reforma política".
Nesse contexto, ela defendeu novamente a consulta popular. "Só a
consulta popular para lavar e enxaguar essa lambança que está sendo o
governo Temer". Segundo ela, nos momentos de crise pelo qual o Brasil
passou, na história da democracia recente, foi com o presidencialismo
que o país superou as crises. "Foi sempre através do presidencialismo
que o país conseguiu dar passos em direção à modernidade e à inclusão".
(AE)
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