O
ex-vereador petista Alexandre Romano, delator que levou à prisão do
ex-ministro Paulo Bernardo, revelou que negociou, em uma viagem com o
ex-presidente Lula à África, um financiamento de R$ 260 milhões para a
empreiteira Engevix, enrolada na Lava Jato. Romano receberia R$ 2,6
milhões para facilitar o empréstimo junto ao Banco do Nordeste. Para
isso, fez uma visitinha ao ex-líder do governo Dilma na Câmara José
Guimarães (PT-CE), cujo apadrinhado estava à frente do Banco e Guimarães
foi logo ao ponto: "Como você me ajuda depois?". Confira abaixo a
reportagem da revista Veja.
O delator que levou à prisão do
ex-ministro Paulo Bernardo integrou a comitiva do então presidente Lula
em uma viagem à África em 2007. Nos depoimentos prestados como parte do
acordo de delação premiada firmado como o Ministério Público, o
ex-vereador petista Alexandre Romano, o Chambinho, contou que nessa
viagem conseguiu abrir uma nova frente de negócios - àquela altura,
graças à proximidade com petistas graúdos, como o ex-tesoureiro Paulo
Ferreira, ele já intermediava facilidades no governo em troca de
propinas para os políticos que o ajudavam.
Chambinho contou que, nessa viagem com
Lula, ele conheceu executivos da empreiteira Engevix que mais tarde o
acionaram para facilitar a obtenção de um empréstimo de 260 milhões de
reais no Banco do Nordeste, presidido àquela altura por um apadrinhado
do deputado José Guimarães (PT-CE). A Engevix queria o dinheiro para a
construção de três usinas. Chambinho se prontificou a ajudar. Ele diz
que procurou o próprio José Guimarães em seu gabinete na Câmara. Na
conversa, sem rodeios, Guimarães quis logo saber quanto levaria no
negócio. "Como você me ajuda depois?", perguntou o deputado, segundo o
relato de Chambinho.
O agora delator respondeu que havia
combinado com a Engevix que receberia uma comissão de 1% sobre o valor
total do empréstimo. No depoimento, ele disse que, se tudo desse certo,
passaria uma parte do dinheiro para Guimarães. O deputado topou. E o
negócio avançou. O Banco do Nordeste aprovou o empréstimo alguns meses
depois, em 2011. Chambinho afirma que, em vez do 1% acertado
previamente, que renderia 2,6 milhões em comissão, a Engevix acabou
pagando apenas 1 milhão de reais. Desse valor, diz ele, 95.000 foram
repassados ao deputado Guimarães por meio de dois cheques - um de 65.000
e outro de 30.000 reais. O parlamentar sustenta que "jamais se
beneficiou de recursos públicos".
Alexandre Romano é o pivô da Operação
Custo Brasil, que levou à prisão do ex-ministro Paulo Bernardo nesta
quinta-feira. Era ele o responsável por gerenciar a propina oriunda de
um contrato milionário da empresa de informática Consist no Ministério
do Planejamento. O negócio rendeu comissões da ordem de 100 milhões de
reais, dinheiro que, segundo a Polícia Federal, era dividido entre o PT e
pessoas ligadas ao partido que haviam facilitado a celebração do
contrato (a Paulo Bernardo, sustentam os investigadores, foram
destinados 7 milhões de reais).
Na Operação Custo Brasil, a Polícia
Federal também levou para prestar depoimento o empresário Carlos
Cortegoso, conhecido como o "Garçom de Lula". Dono de empresas obscuras
que receberam milhões de reais para supostamente prestar serviços a
campanhas petistas - inclusive as campanhas presidenciais -, ele também
foi destinatário de parte da propina arrecadada no Ministério do
Planejamento.
Fonte: Diário do Poder
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