A sonda não tripulada vai orbitar o planeta 37
vezes durante um ano terrestre, utilizando uma série de instrumentos de
pesquisa. (NASA/JPL-Caltech/Michael Benson, Kinetikon
Pictures/VEJA/VEJA)
Na madrugada da última terça-feira (5), a sonda Juno completou uma viagem de cinco anos no espaço e, finalmente, chegou ao seu destino: Júpiter.
A missão, que custou 1,13 bilhão de dólares aos cofres da Nasa, busca,
por meio do estudo do planeta, desvendar alguns mistérios sobre a
formação do sistema solar. Assim que chegou, a sonda não tripulada
começou a orbitar o planeta – fará isso 37 vezes durante um ano
terrestre, utilizando uma série de instrumentos fornecidos por
Itália, França e Bélgica. Ela vai estudar o funcionamento do gigante
gasoso e analisar sua composição para responder a algumas
perguntas como: do que Júpiter é feito? Como é o seu núcleo (se é que
ele existe)? Como é seu campo magnético? Ao respondê-las, conseguiremos
compreender a formação não só de Júpiter, mas de todo o sistema solar,
que inclui a Terra.
A Nasa batizou a missão segundo um episódio mitológico. Segundo a
mitologia romana, Juno (equivalente a Hera, na mitologia grega) é a irmã
e esposa de Júpiter (Zeus, na mitologia grega), a única capaz de
penetrar nas nuvens em que seu marido se envolveu para camuflar suas
infidelidades. Delicadamente, ela consegue descobrir a verdadeira
natureza de Júpiter – o mesmo objetivo da missão espacial.
Missão – Acredita-se que Júpiter foi um dos
primeiros planetas a se formar, quase na mesma época que o Sol. Entre os
segredos que o planeta ainda esconde, um deles é onde exatamente ele
foi formado. Se o gigante gasoso realmente surgiu na mesma época que
nossa estrela, então os elementos que compõem os dois deveriam ser muito
similares; mas, então, por que Júpiter tem maiores concentrações de
elementos pesados como carbono e nitrogênio? De acordo com algumas
explicações científicas, isso acontece porque Júpiter pode ter migrado
desde que se formou. Galileo, a primeira missão que orbitou o planeta,
em 1995, forneceu informações que sugerem que o planeta teria se formado
mais longe do Sol e posteriormente “migrado” para a órbita em que está
hoje. Juno pretende trazer mais dados que confirmem ou não a teoria.
A sonda também vai vasculhar a atmosfera de Júpiter para verificar
qual a quantidade de água que existe no planeta e, assim, identificar
com precisão do que ele é composto, qual sua temperatura e como se dá
o movimento das nuvens. Por fim, a missão pretende explorar e estudar a
magnetosfera (região formada pelo campo magnético que envolve um astro,
constituindo a parte exterior da atmosfera) dos polos do planeta,
especialmente as auroras – as luzes a sul e norte do planeta –, dando
novas possibilidades sobre como o enorme campo magnético afeta sua
atmosfera.
Confira abaixo por que a missão Juno é relevante para o estudo do sistema solar e quais respostas busca trazer:
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1. Por que estudar Júpiter?
(NASA/JPL-Caltech/SwRI/MSSS/Reuters)
Os astrônomos ainda não sabem ao
certo como o sistema solar se formou; mas há algumas teorias. A maioria
delas afirma que ele surgiu a partir do colapso de uma nebulosa (uma
gigantesca nuvem de gás e poeira) que formou nosso Sol. Assim como nossa
estrela, o planeta gigante Júpiter é composto, basicamente, de
hidrogênio e hélio, indício de que ele teria se formado muito cedo,
captando a maior parte do material que o Sol deixou para trás.
Entretanto, ainda não se sabe como isso aconteceu e Júpiter pode ter as
chaves para decifrar esses mistérios. Por isso, a sonda Juno viajou até
ele: acredita-se que planetas gigantes tenham estado nos primórdios da
formação planetária, e compreendê-los significa entender também a
formação do sistema solar – que inclui a Terra. Assim como estudamos
nossos antepassados, estudar Júpiter é compreender como o nosso lar, a
Terra, se formou.
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2. Do que o planeta é formado?
(NASA/JPL/University of Arizona/VEJA)
Uma das principais respostas que
Juno tentará trazer é sobre a composição de Júpiter. O aspecto
principal que a sonda vai investigar é qual a quantidade de oxigênio que
há na atmosfera do planeta. De acordo com a Nasa, essa informação
ajudará a determinar quão longe do Sol o planeta se formou.
Acreditava-se que Júpiter havia se formado na mesma órbita em que se
encontra hoje, mas, quando a missão Galileo orbitou Júpiter, em 1995,
ela descobriu que a atmosfera do planeta era composta de diversos
elementos pesados, como carbono e nitrogênio, que só podem ser formados
em locais de baixa temperatura (ou seja, muito longe do Sol). Esses
componentes se misturavam na atmosfera de Júpiter com outros que se
formavam em locais mais quentes (como o hidrogênio e o hélio), o que
indica que o planeta pode ter mudado de órbita.
Como a existência da vida na Terra depende tanto da existência de
oxigênio quanto desses outros elementos mais pesados, descobrir como
Júpiter os adquiriu pode também nos dar pistas importantes sobre a nossa
origem.
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3. O que está no núcleo de Júpiter?
(Nasa/Esa/Reuters)
A maioria das teorias que
existem sobre o núcleo de Júpiter indica que o planeta é formado por um
"coração" de gelo, rochas e metal. Esse núcleo cresceu e, conforme foi
ganhando massa, atraiu gases como hélio e hidrogênio, os elementos mais
leves que existem; ao puxar cada vez mais gás, formou o que conhecemos
hoje como Júpiter.
Há uma outra teoria, no entanto, que diz que Júpiter não possui nenhum
núcleo e que, em vez disso, é formado apenas de gás e nuvens que
rodeavam o Sol logo após a formação da estrela. Após esse longo momento
de turbulência, esses gases foram resfriando e se condensando para
formar o que é hoje Júpiter.
Para verificar qual das teorias é verdadeira, Juno buscará compreender o
campo magnético do planeta. Ele indicará se o núcleo de Júpiter existe
ou não; em caso positivo, o tamanho do "coração" também será observado.
Juno ainda vai verificar a veracidade de uma terceira possibilidade: a
de que o núcleo de Júpiter existiu, mas foi aniquilado.
Juno vai pairar sobre os polos do planeta para analisar o gás
hidrogênio, que, condensado a uma grande pressão, se transforma em uma
substância conhecida como hidrogênio metálico, que funciona como um
condutor. Acredita-se que esse elemento seja responsável pelo campo
magnético de Júpiter. Esse ambiente está na origem das auroras mais
brilhantes do nosso sistema solar, vistas justamente nos polos do
planeta – isso trará resposta sobre esses fenômenos.
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4. Já houve uma missão. Por que outra?
(Universidade de Stanford/Divulgação)
Júpiter começou a ser explorado
nos anos 1970 pelas sondas Pioneer e Voyager – mas elas não orbitaram o
planeta, apenas se aproximaram dele. Foi assim também com as sondas
Ulysses, Cassini e, a mais recente delas, New Horizons, que passou
próximo ao planeta, em 2007, rumo a Plutão. “A primeira a orbitar o
planeta foi a sonda Galileo, que chegou lá em 1995. A Galileo tinha
objetivos mais gerais, como o estudo da atmosfera e magnetosfera de
Júpiter, seus anéis e suas luas, principalmente as quatro maiores. Juno
tem objetivos bem mais precisos e contará com tecnologia mais avançada”,
afirmou Daniel Mello, astrônomo do Observatório do Valongo, da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Juno está equipada com um conjunto de instrumentos de tecnologia de
ponta que permitirá realizar estudos no período de vinte meses. Há
instrumentos de estudo de estrutura (gravimétricos – que medem o campo
gravitacional – e instrumentos que operam em micro-ondas e
infravermelho), medidores de partículas carregadas e campo magnético,
câmeras para imagem e espectrógrafos para análise química. Todos os
dados obtidos serão enviados para o centro de controle da Nasa, a Deep
Space Network (DSN).
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5. Qual o papel de Júpiter no sistema solar?
(NASA/JHU/APL/VEJA)
Segundo a Nasa, Júpiter é
considerado um protetor da Terra. Em outros sistemas solares, planetas
como Júpiter, enormes e gasosos, já foram vistos migrando de suas
órbitas para perto de suas estrelas; ao fazer essa trajetória, eles
“engoliram” outros pequenos planetas rochosos (como a Terra) que estavam
no caminho, ou simplesmente os enviou para fora do sistema planetário.
Mas, aqui, Júpiter permanece em sua órbita, sem se aproximar (mais) do
Sol. Graças a sua enorme massa, ele mantém as órbitas dos seus planetas
vizinhos em “ordem” (com uma órbita quase circular), garantindo que a
Terra não tenha uma órbita elíptica – o que causaria um grande impacto
no clima por aqui. Júpiter ainda serve como um "porteiro", pois impede
que muitos asteroides "mirem" nos seus planetas vizinhos e os atinjam.
Saber mais sobre a movimentação do planeta é também compreender como se
dão as interações entre os planetas do sistema solar.
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