Um estudo da UFRJ mostrou que doces e refrigerantes estão mais na rotina alimentar dos jovens do que as frutas, hortaliças e sucos naturais
Adolescentes brasileiros seguem uma dieta de alto risco para
problemas cardiovasculares, doenças renais e obesidade. De acordo com
dados do Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes (Erica)
divulgados na última quinta-feira pelo Ministério da Saúde, o consumo de
refrigerante e balas por jovens entre 12 e 17 anos supera o de frutas,
verduras, hortaliças e suco natural.
Endocrinologista do Centro de Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão
Oswaldo Cruz, Tarissa Petry diz que, por praticidade, brasileiros estão
deixando de consumir alimentos naturais, mas que isso pode trazer
sérias consequências para a saúde. “Estamos diagnosticando a obesidade
cada vez mais cedo. Esses jovens vão ter diabete, hipertensão, enfarte e
AVC mais cedo também.”
Felizmente, o arroz e o feijão, alimentos considerados saudáveis,
estão no topo da lista dos 20 alimentos mais consumidos pelos
adolescentes. Depois aparecem pães, sucos e carnes. Mas, logo em
seguida, a qualidade cai e o ranking é dominado pelos produtos
industrializados. Na sexta posição estão os refrigerantes, seguidos por
doces e sobremesas, café, frango, hortaliças, massas, biscoitos doces,
óleos e gorduras, tubérculos, salgados frios e assados, carnes
processadas, bebidas lácteas, queijos e outros derivados do leite,
biscoitos salgados, bolos e tortas.
Segundo especialistas, esse conjunto de hábitos é preocupante e
reflete diretamente os índice de obesidade e sobrepeso, que atingem,
respectivamente, 17,1% e 8,4% dos adolescentes. Também preocupam o
consumo excessivo de sódio e o déficit de vitamina E e cálcio. De acordo
com o levantamento, 80% dos adolescentes consomem sódio acima do
recomendado e pouco mais da metade (51,8%) bebe menos de cinco copos
d’água por dia – quando o recomendado é de oito copos.
“Vivemos em uma transição do padrão africano, onde a fome era
prevalente, para o padrão americano, onde a obesidade predomina. Nossa
tarefa é tentar reverter esse padrão, sobretudo com população mais
jovem”, afirmou a diretora do Departamento de Vigilância de Doenças e
Agravos não Transmissíveis e Promoção à Saúde, Fátima Marinho. A
epidemiologista considera que o fenômeno identificado agora entre
adolescentes já ocorre há alguns anos na população adulta.
Mais da metade tem o hábito de comer em frente à TV, seja uma
refeição completa ou um lanche. Dos entrevistados, 40% disseram que
petiscam enquanto estão com o aparelho ligado e 73,5% passam duas horas
ou mais vendo TV ou no computador. Além disso, menos da metade (48,5%)
toma sempre ou quase sempre café da manhã, e 21,9% nunca tomam.
A pesquisa, feita em parceria com a Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ), ouviu cerca de 75 .000 estudantes com idade entre 12 e
17 anos, de 1.247 escolas em 124 municípios.
Vigitel
O padrão entre adultos é ainda mais desanimador. Dados do Vigitel
2015 (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas
por Inquérito Telefônico), mostram que 19% do brasileiros têm o hábito
de consumir refrigerantes e sucos artificiais e 20% consomem doces 5
vezes por semana ou mais. O hábito reflete diretamente na obesidade:
18,6% são obesos – em 2010, eram 15%.
O estudo, feito por telefone com moradores com mais de 18 anos das
capitais do país, revelou também que menos da metade dos brasileiros tem
o hábito de comer frutas e hortaliças regularmente. O consumo de doces e
refrigerantes também é considerado excessivo.
Propaganda
O ministro da Saúde, Ricardo Barros, destacou que a propaganda de
alimentos ricos em sal, açúcar e gordura e com excesso de álcool poderia
ser “aprimorada”, sem dizer, no entanto, o que poderia ser feito. Ele
também assinou uma portaria que proíbe a venda, promoção, publicidade ou
propaganda de alimentos industrializados, processados, com excesso de
açúcar, gordura e sódio dentro das unidades do ministério. O mesmo vale
para eventos patrocinados.
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