Segundo estudo publicado na 'Science', elas são anteriores ao surgimento do homem. Os micro-organismos afetam a imunidade, humor e comportamento

Estudos recentes mostram que em nosso corpo há dez bactérias para cada célula. (iStockphoto/Getty Images)
Certas bactérias de nosso intestino surgiram há pelo menos 15
milhões de anos, muito antes dos humanos. De acordo com uma pesquisa
publicada na edição desta sexta-feira da revista Science, a descoberta sugere que a evolução tem um papel maior na composição do microbioma intestinal do que se pensava anteriormente.
Estudos recentes mostram que, em nosso corpo, há dez bactérias para
cada célula. Há algum tempo os cientistas sabem que essas bactérias
estão presentes em humanos e em chimpanzés, principalmente no intestino,
compondo um conjunto chamado microbioma. Elas contribuem para as fases
iniciais de desenvolvimento do corpo, treinam o sistema imunológico para
combater patógenos e podem ainda afetar o humor e comportamento.
Os pesquisadores não sabiam, entretanto, como adquirimos esses
micro-organismos. Eles vieram de nossos ancestrais ou do ambiente? Para
resolver o mistério, o biólogo Andrew Moeller, pesquisador da
Universidade da Califórnia em Berkeley, nos Estados Unidos, resolveu
estudar as bactérias de 47 chimpanzés, 24 bonobos, 24 gorilas e 16
pessoas de Connecticut, nos Estados Unidos.
Estudo
Utilizando amostras fecais, Moeller em conjunto com cientistas da
Universidade do Texas em Austin analisou a evolução de um gene presente
no microbioma primata e humano. O resultado do estudo mostrou que,
quando os seres humanos e os grandes primatas evoluíram em diferentes
espécies a partir de um ancestral comum, as bactérias presentes nos
intestinos deste último também evoluíram em diferentes linhagens.
Assim, a primeira diferenciação de bactérias intestinais ocorreu
cerca de 15,6 milhões de anos atrás, quando a linha dos gorilas divergiu
da dos hominídeos. A segunda aconteceu 5,3 milhões de anos atrás, no
momento em que o ramo humano se separou dos chimpanzés.
Em seguida, linhagens de bactérias evoluíram em paralelo,
adaptando-se às dietas, ambientes e doenças no sistema digestório de
seus hospedeiros.
“É surpreendente que as bactérias de nosso intestino, que podemos
adquirir de fontes ambientais variadas, tenham evoluído dentro de nós
por um período tão longo”, afirmou o cientista Howard Ochman, um dos
autores do estudo, ao site da Science.
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Os pesquisadores também compararam o microbioma do grupo de pessoas
de Connecticut com o de um grupo de indivíduos do Malaui e perceberam
que as bactérias dos africanos e dos americanos começaram a divergir há
cerca de 1,7 milhões de anos. A data coincide com as primeiras viagens
dos ancestrais humanos para fora da África, o que sugere que os
micro-organismos podem ser indícios confiáveis para reconstruir
migrações humanas.
De acordo com os pesquisadores, o estudo do microbioma e de sua
evolução pode ajudar na compreensão de alguns hábitos humanos, seu
impacto na saúde e comportamento social.
(Com AFP)
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