Temer avisou que num "determinado momento" o governo irá tomar medidas impopulares (Foto: Beto Barata)
O presidente em exercício Michel Temer pretende definir nesta
terça-feira, 5, o valor da nova meta de resultado das contas públicas
para o ano de 2017 e, para isso, vai administrar uma divisão em sua
equipe. A ala econômica defende um déficit de R$ 150 bilhões, resultado
melhor do que os R$ 170,5 bilhões fixados para este ano. Para tanto, não
descarta aumentar impostos. Desde o ano passado, a área técnica
trabalha em medidas nessa direção, para serem adotadas em caso de
necessidade.
Porém, há conselheiros políticos pregando que a manutenção da meta em
R$ 170,5 bilhões é suficiente para garantir a disciplina e o apoio do
setor produtivo, principalmente no atual quadro de retração econômica. É
esse o dilema que Temer vai arbitrar. "Uma meta de R$ 150 bilhões é
muito pouco", disse um interlocutor do presidente, que defende a meta
mais folgada.
A divergência pode estar justamente nas medidas no campo tributário. A
equipe econômica admite que, sem elas, o rombo das contas do ano que
vem pode ser, de fato, maior do que R$ 150 bilhões. Mas há forte
resistências de integrantes da ala política do governo, que avaliam que o
momento delicado e o cenário de recessão não comportam mais pressão
para o lado dos contribuintes.
Temer avisou nesta segunda-feira, 4, em encontro com empresários do
agronegócio, que num "determinado momento" o governo irá tomar medidas
impopulares. Ele acrescentou que não teme fazer isso, porque não tem
pretensão eleitoral e se contenta em "colocar o País nos trilhos". As
medidas, porém, deverão ficar para depois da votação do impeachment da
presidente Dilma Rousseff pelo Congresso Nacional.
Outro ponto de dúvida é a inclusão ou não dos valores previstos com a
venda de ativos. Neste ano, o governo adotou uma estratégia de dar
realismo às contas públicas e não incluiu no orçamento nenhum recurso
que não fosse líquido e certo. Há um impasse na definição se essa linha
será mantida.
O presidente em exercício discutiu a questão durante a tarde de
ontem, no Planalto, em seu gabinete, com a presença dos ministros
Henrique Meirelles (Fazenda), Eliseu Padilha (Casa Civil), Geddel Vieira
LIma (Secretaria de Governo) e Dyogo Oliveira (Planejamento). O número
final deverá ser fechado em reunião do núcleo econômico de Temer na
tarde desta terça-feira, que terá a participação de todos os integrantes
da equipe econômica, composto por dez ministros.
Disputa
Entre os integrantes da ala política, é clara a torcida pela escolha
da meta com maior déficit. Padilha, por exemplo, chegou a defender
publicamente a manutenção da meta em R$ 170,5 bilhões. "Gov Temer:
crescendo zero o déficit Público em 2017, será um corte de 47,82% em
relação a 2016. Estabilidade com tendência de baixa. Ótimo!", escreveu
ele no Twitter, no último sábado.
A ideia que o congelamento do déficit é uma forma de enxugamento tem
como base o fato de diversas despesas do governo federal possuírem uma
dinâmica própria de crescimento. É o caso dos gastos com a Previdência e
com os programas assistenciais, que sobem com o salário mínimo. Há
também um conjunto de reajustes salariais sancionados pelo governo que
impactarão nas contas do ano que vem, pois foram concedidos de forma
parcelada.
O projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2017 foi
enviado pela equipe da presidente afastada, Dilma Rousseff, em abril
passado, prevendo um déficit de até R$ 65 bilhões. É esse valor que será
alterado pela equipe de Temer. (AE)
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