Carteira falsa. Mecanismo que dá desconto em cinemas e eventos é um dos exemplos de pequenas corrupções diárias
É muito mais fácil apontar os erros dos
outros. Difícil mesmo é ter que resistir à falsificação de um documento
de estudante para ter desconto no cinema, furar fila ou comprar produtos
pirateados. As irregularidades que ganharam até um nome próprio – o
“jeitinho brasileiro” – já foram reconhecidas como atos praticados neste
ano por 74% dos 1.200 entrevistados na pesquisa Corrupção e Ética,
realizada pela Ipsos em 72 cidades do país.
E então, com esses “pequenos desvios”
praticados no dia a dia, o brasileiro segue criticando a corrupção,
principalmente no âmbito político, mas tolerando as próprias falhas.
Para 54% dos que já cometeram algum “deslize” tais atitudes são mais um
“jeitinho” que um ato corruptivo. Por exemplo: para um quarto dos
pesquisados, pagar um funcionário da companhia elétrica para fazer o
relógio de energia marcar um consumo menor não é corrupção.
Porém, apesar das reclamações com relação à
corrupção nas vidas pública e empresarial serem unânimes, a pesquisa
revela que o índice de confissões dos que flertam com a ilegalidade
aumentou de 49%, em 2014, para 62%, em 2016.
Com base nesse cenário, a Central Nacional
Unimed preparou o teste “Como é a sua tolerância à corrupção?” com sete
perguntas para avaliar o nível de consciência das pessoas sobre seus
direitos e atitudes, quando esbarram no problema. “Somos signatários do
Pacto Empresarial pela Integridade e contra a Corrupção, por isso, o
teste faz parte do nosso Código de Conduta, que é atualizado a cada três
anos e será trabalhado em todas as 327 Unimeds”, afirma a supervisora
de responsabilidade social da empresa, Rosemeire Capelossa.
Análise. Aceitar
determinadas atitudes e condenar outras é a mesma coisa que o “rouba,
mas faz”, segundo o advogado especialista em direito eleitoral e diretor
do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), Luciano Santos.
“O maior desafio é conseguir conscientizar o cidadão das consequências
no dia a dia”, ressalta.
Para o advogado, existe a ideia de que a
corrupção é sempre dos outros. “Não adianta ir à manifestação na rua
para combater a corrupção alheia, se as pessoas nunca se veem nessa
condição. Pequenas ações são as atitudes que levam à corrupção, sem
importar o tamanho dela. Com isso, o reflexo do que os adultos praticam é
o que as crianças aprendem, gerando um círculo vicioso que aceita
tolerar todo tipo de corrupção”, analisa Santos.
Outro problema é a ausência de mecanismos
eficazes para que o cidadão tema ser punido. “Chega ao cúmulo de termos
casos de detentos saindo da prisão porque não tem tornozeleira
eletrônica. Dessa forma, se a punição não é aplicada como deveria, as
pessoas não levam muito a sério”, critica Santos.
Em países onde a conscientização é mais
sólida, a exemplo dos Estados Unidos, conforme cita o advogado, o
conceito da presunção da verdade está muito presente. “É a cultura do
povo, eles estão acostumados. Então, se a pessoa não fala a verdade, por
exemplo, ao declarar a quantia de dinheiro ao entrar no país, é crime”,
diz Santos.
Outubro. Nas próximas
eleições, o MCCE vai trabalhar com campanhas contra a compra de votos e o
combate ao caixa 2. “As últimas pesquisas têm mostrado que o combate à
corrupção já está à frente das preocupações com a saúde e a educação”,
afirma.
Litza Mattos
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