País critica corrupção, mas 72% das pessoas praticam desvios Esse percentual refere-se apenas a 2016, segundo pesquisa da Ipsos em 72 cidades brasileiras

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Carteira falsa. Mecanismo que dá desconto em cinemas e eventos é um dos exemplos de pequenas corrupções diárias

É muito mais fácil apontar os erros dos outros. Difícil mesmo é ter que resistir à falsificação de um documento de estudante para ter desconto no cinema, furar fila ou comprar produtos pirateados. As irregularidades que ganharam até um nome próprio – o “jeitinho brasileiro” – já foram reconhecidas como atos praticados neste ano por 74% dos 1.200 entrevistados na pesquisa Corrupção e Ética, realizada pela Ipsos em 72 cidades do país.
 
E então, com esses “pequenos desvios” praticados no dia a dia, o brasileiro segue criticando a corrupção, principalmente no âmbito político, mas tolerando as próprias falhas. Para 54% dos que já cometeram algum “deslize” tais atitudes são mais um “jeitinho” que um ato corruptivo. Por exemplo: para um quarto dos pesquisados, pagar um funcionário da companhia elétrica para fazer o relógio de energia marcar um consumo menor não é corrupção.
 
Porém, apesar das reclamações com relação à corrupção nas vidas pública e empresarial serem unânimes, a pesquisa revela que o índice de confissões dos que flertam com a ilegalidade aumentou de 49%, em 2014, para 62%, em 2016.
 
Com base nesse cenário, a Central Nacional Unimed preparou o teste “Como é a sua tolerância à corrupção?” com sete perguntas para avaliar o nível de consciência das pessoas sobre seus direitos e atitudes, quando esbarram no problema. “Somos signatários do Pacto Empresarial pela Integridade e contra a Corrupção, por isso, o teste faz parte do nosso Código de Conduta, que é atualizado a cada três anos e será trabalhado em todas as 327 Unimeds”, afirma a supervisora de responsabilidade social da empresa, Rosemeire Capelossa.
 
Teste da honestidade
 
Análise. Aceitar determinadas atitudes e condenar outras é a mesma coisa que o “rouba, mas faz”, segundo o advogado especialista em direito eleitoral e diretor do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), Luciano Santos. “O maior desafio é conseguir conscientizar o cidadão das consequências no dia a dia”, ressalta.
 
Para o advogado, existe a ideia de que a corrupção é sempre dos outros. “Não adianta ir à manifestação na rua para combater a corrupção alheia, se as pessoas nunca se veem nessa condição. Pequenas ações são as atitudes que levam à corrupção, sem importar o tamanho dela. Com isso, o reflexo do que os adultos praticam é o que as crianças aprendem, gerando um círculo vicioso que aceita tolerar todo tipo de corrupção”, analisa Santos.
 
Outro problema é a ausência de mecanismos eficazes para que o cidadão tema ser punido. “Chega ao cúmulo de termos casos de detentos saindo da prisão porque não tem tornozeleira eletrônica. Dessa forma, se a punição não é aplicada como deveria, as pessoas não levam muito a sério”, critica Santos.
 
Em países onde a conscientização é mais sólida, a exemplo dos Estados Unidos, conforme cita o advogado, o conceito da presunção da verdade está muito presente. “É a cultura do povo, eles estão acostumados. Então, se a pessoa não fala a verdade, por exemplo, ao declarar a quantia de dinheiro ao entrar no país, é crime”, diz Santos.
 
Outubro. Nas próximas eleições, o MCCE vai trabalhar com campanhas contra a compra de votos e o combate ao caixa 2. “As últimas pesquisas têm mostrado que o combate à corrupção já está à frente das preocupações com a saúde e a educação”, afirma.

 Litza Mattos

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