Os alvos desta fase são grandes empresas construtoras, incluindo alguns de seus executivos e sócios. (Foto: Estadão)
A
Operação Abismo, 31ª fase da Lava Jato, deflagrada nesta segunda-feira,
4, aponta que o ex-vereador do PT, em Americana, Alexandre Romano, o
Chambinho, intermediou propinas sobre obras do Centro de Pesquisa da
Petrobrás (Cenpes) para o ex-tesoureiro do PT Paulo Ferreira, que ‘teria
recebido os valores na condição de agente do Partido dos
Trabalhadores’. O juiz federal Sérgio Moro, a pedido do Ministério
Público Federal, determinou a prisão de Paulo Ferreira – que já está
custodiado preventivamente na Operação Custo Brasil.
Segundo os investigadores, Alexandre Romano confessou que usou suas
empresas, a Oliveira Romano Sociedade de Advogados, a Link Consultoria
Empresarial e a Avant Investimentos e Participação Ltda., para receber
mais de R$ 1 milhão das construtoras integrantes do Consórcio Novo
Cenpes – que construiu o Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo
Américo Miguez de Mello, no Rio.
“Os valores foram recebidos por meio de contratos simulados e
repassados a pessoas físicas e jurídicas relacionadas com Paulo
Ferreira, inclusive em favor dele próprio, familiares, blog com matérias
que lhe são favoráveis e escola de samba”, apontam os investigadores
que não informaram o nome da escola de samba.
A 31.ª fase da Lava Jato, deflagrada nesta segunda-feira, 4, cumpre
medidas cautelares pedidas pelo Ministério Público Federal ‘com a
finalidade de obter provas adicionais de crimes de organização
criminosa, cartel, fraudes licitatórias, corrupção e lavagem de dinheiro
oriundo de contratos da Petrobrás, em especial do contrato celebrado
pelo Consórcio Novo Cenpes’. Foram expedidos 22 mandados de busca e
apreensão, 1 mandado de prisão preventiva, 4 mandados de prisão
temporária e 7 mandados de condução coercitiva.
Os alvos desta fase são grandes empresas construtoras, incluindo
alguns de seus executivos e sócios, e Paulo Ferreira, preso recentemente
na Operação Custo Brasil.
Segundo a Procuradoria da República, em 2007, a Petrobrás submeteu à
licitação três grandes obras de construção civil: Sede Administrativa em
Vitória/ES, Centro Integrado de Processamento de Dados (CIPD), no Rio, e
o Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de
Mello (CENPES), também no Rio.
As investigações em curso na Operação Lava Jato, corroboradas pelo
acordo de leniência e acordos de colaboração celebrados com a empresa
Carioca Engenharia e seus principais executivos, indicaram que as
principais empreiteiras participantes daquelas licitações se ajustaram
num grande cartel, fixando preços e preferências de modo a frustrar o
procedimento competitivo da Petrobras e a maximizar os seus lucros. A
Construtora OAS, Carioca Engenharia, Construbase Engenharia, Schahin
Engenharia e Construcap CCPS Engenharia, integrantes do Consórcio Novo
Cenpes, ficaram com a obra do Cenpes.
No caso específico da licitação para a obra do Cenpes, os
procuradores afirmam que houve um imprevisto, pois a empresa WTorre
Engenharia e Construção S/A, que não havia participado dos ajustes,
apresentou proposta de preço inferior. As empresas que formavam o
Consórcio Novo Cenpes ajustaram, então, vantagem indevida de dezoito
milhões de reais para que a WTorre saísse do certame, permitindo que o
Consórcio renegociasse o preço com a Petrobrás.
“Concretizado o acerto espúrio, o Consórcio Novo Cenpes celebrou, em
21/01/2008, contrato com a Petrobras no valor de R$ 849.981.400,13”,
informam os procuradores.
Além dos ajustes e fraude na licitação, houve oferecimento, promessa e
efetivo pagamento de propina a funcionários da Petrobras da Diretoria
de Serviços e a agente político vinculado ao Partido dos Trabalhadores,
visando à maximização dos lucros no contrato. No período de 2007 a 2012,
foram pagos aproximadamente R$ 18 milhões para que a empresa com melhor
preço abandonasse a licitação e foram identificados pagamentos ilícitos
de R$ 16 milhões transferidos a Adir Assad, R$ 3 milhões para Roberto
Trombeta e Rodrigo Morales, USD 711 mil para Mario Goes e R$ 1 milhão
para Alexandre Romano.
Para a elucidação dos crimes, foram importantes as contribuições
prestadas no âmbito de acordos de colaboração e de leniência celebrados
pelo Ministério Público Federal, as quais foram corroboradas por provas
documentais de fraude à licitação, de pagamentos no exterior e no Brasil
e de contratos fictícios feitos com empresas de fachada ou usadas para
fazer repasses de propinas.
Dirigentes da empresa Carioca Engenharia, em colaboração, por
exemplo, reconheceram a fraude à licitação em benefício do consórcio
Novo Cenpes e pagamentos de propinas, o que foi corroborado por eventos
que confirmam manipulação da licitação e por contratos fictícios e
transferências bancárias. Pedro José Barusco Filho, ex-gerente de
engenharia da Petrobrás indicou que a obra ganha pelo Consórcio Novo
Cenpes rendeu propinas de 2% do valor do contrato, tendo sido estas
destinadas também ao ex-Diretor da Petrobrás Renato de Souza Duque e a
agentes do Partido dos Trabalhadores. Mario Frederico de Mendonça Goes,
também colaborador, admitiu a intermediação de propinas, realizando
pagamentos em espécie e depósitos em contas no exterior. Há, inclusive,
prova documental de que executivos da Carioca Engenharia transferiram
USD 711.050,00 no exterior em favor dele.
De acordo com o Ministério Público Federal, ‘existem também provas do
envolvimento de outros operadores financeiros no pagamento de propinas
durante a execução das obras do Cenpes’. Foram identificadas
transferências bancárias que somam mais de R$ 15 milhões provenientes
das construtoras integrantes do Consórcio Novo Cenpes para empresas de
Adir Assad, preso na última semana, na Operação Saqueador, que prendeu o
contraventor Carlinhos Cachoeira, na semana passada.
"Além disso, também comprovam os estratagemas criminosos empregados
para lavar o dinheiro sujo obtido pelo Consórcio Novo Cenpes dois
contratos falsos firmados por este com empresas controladas pelos
operadores financeiros Roberto Trombeta e Rodrigo Morales, no valor
aproximado de R$ 3 milhões”, sustentam os investigadores.
Para o procurador da República Roberson Pozzebon, chama a atenção a
presença de mais um político como alvo da Lava Jato que recebeu
benefícios: “O povo brasileiro já não aguenta mais agentes políticos que
flertam, namoram ou mesmo se casam com a corrupção. É preciso que as
duas principais causas da corrupção descoberta na Lava Jato, as falhas
do sistema político e a impunidade, sejam atacadas mediante reforma
política e 10 medidas contra a corrupção”. O procurador da República
Júlio Noronha destacou que esse caso é um exemplo do uso de colaborações
premiadas, pois “a palavra do colaborador nunca é usada isoladamente.
Neste caso as declarações de mais de 5 colaboradores e uma leniência
foram usadas em conjunto com provas documentais bastante consistentes,
como transferências bancárias no Brasil e no exterior e contratos
fictícios com empresas para repasse disfarçado da propina.”
O coordenador da força-tarefa da Lava Jato, Deltan Dallagnol,
ressaltou a interconexão com investigações deflagradas na última semana:
“Três operações da última semana, Saqueador, Custo Brasil e a de hoje,
são ramos de uma mesma árvore. Juntas formam um ícone da recente
articulação da Justiça que começa a cercar em diversas frentes de
investigação megaesquemas criminosos de desvio de dinheiro público que
se interconectam. É expressão disso o fato de que há alvos em comum
entre Lava Jato e as demais, como Adir Assad, no caso da Saqueador, e
Paulo Ferreira, na Custo Brasil. É preciso uma atuação
interinstitucional firme contra a corrupção se desejamos que os demais
ramos dessa mesma árvore possam produzir frutos como a Lava Jato.”
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