
A
dificuldade do comando da CBF e da comissão técnica em enquadrar Neymar
no grupo da seleção brasileira tornaram ainda pior o clima interno após
os empates sem gols contra a África do Sul, na quinta-feira passada, e
diante do Iraque, no domingo. A situação do Brasil no torneio é
delicada, e exige uma reviravolta imediata.
O próprio grupo de atletas,
motivado pelos resultados ruins e pelo clima difícil, tem representantes
que já não mostram a mesma confiança no trabalho do treinador Rogério
Micale. Bastante ativo à beira do gramado na estreia, ele se resguardou
no banco de reservas ao longo de boa parte do jogo com o Iraque.
Algumas declarações dele, ainda no início da preparação, também não repercutiram bem entre os atletas. Entre elas, a de que gostaria de ser dependente de Neymar
e de que, se ele estivesse feliz, todos estariam. O status de
'presidente' da seleção, como foi chamado pelos jogadores mais jovens,
acabou reforçado com a cessão da braçadeira. Enquanto alguns esperavam
que o posto fosse de Fernando Prass, que acabaria cortado, o grupo tomou
conhecimento de que Neymar seria o capitão ainda nos primeiros dias de
trabalho. Inicialmente, a escolha foi bem aceita.
Pessoas
próximas a alguns dos jogadores também indicam insatisfação do grupo com
a organização tática da equipe. As reclamações são de que a seleção
brasileira joga de forma exposta aos adversários e que essa ideia de
jogo sobrecarrega alguns atletas, em especial Thiago Maia, que
distribuiu faltas contra o Iraque e acabou suspenso, além do próprio
Renato Augusto.
A utilização de quatro atacantes ao mesmo tempo
também é vista por parte do grupo como uma tática suicida e que deixa os
defensores vulneráveis. O zagueiro Rodrigo Caio, em entrevistas, já
havia feito ponderação sobre isso. Ainda há críticas até à utilização de
Zeca, que joga pela esquerda no Santos, como lateral direito. Há a
possibilidade de que, contra a Dinamarca, essa posição passe a ser do
colorado William.
Entre os mais criticados da equipe, Renato
Augusto deu sinais de insatisfação com o papel que foi atribuído a ele
no time. Publicamente, após Brasil 0 x 0 Iraque, ele admitiu que mudou
de posicionamento quase por conta própria, após papo com o treinador, e
que em alguns momentos do jogo preferiu se resguardar para dar mais
respaldo ao sistema defensivo.
"Não tenho como mudar isso (chega
pouco à frente), porque é a forma como a equipe joga. Entendo da parte
tática e por isso seguro mais. Quando o Rafinha entrou (aos 10min do
segundo tempo), a gente tinha um jogador a mais no meio, e falei para o
Micale que eu iria para a função de centroavante, para dar mais
profundidade ao time", explicou Renato Augusto no último domingo. Ele
teve a bola do jogo nos acréscimos, mas perdeu sem goleiro.
Nesta
terça-feira, a seleção volta a falar após uma segunda em silêncio. Mais
uma vez, Renato Augusto assumiu a condição de líder da equipe e
concederá entrevista coletiva ao lado de Rogério Micale.
* Colaborou: Bernardo Gentile, em Brasília
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