A carnificina que teria sido
protagonizada por 44 policiais militares do Ceará na madrugada em que se
deu a Chacina da Grande Messejana, de 11 para 12 de novembro do ano
passado, foi uma “ação de represália, vingança e justiçamento”. Além
disso, os PMs teriam agido de maneira “planejada e intencional” num
“cerco territorial” que resultou na execução sumária de 11 inocentes e
na lesão, por tiro, de outras sete vítimas.
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O
consenso sobre a matança de Messejana é do procurador geral da Justiça
do Ceará, Plácido Rios, e dos promotores Marcus Renan Palácio, Joseana
França, Alice Iracema, Humberto Ibiapina, Rinaldo Janja, Felipe Diogo e
Manoel Epaminondas. Eles compõem o Grupo de Atuação Especial de Combate
às Organizações Criminosas (Gaeco) e o grupo especial criado para
investigar o caso. Ontem, concederam coletiva na sede da Procuradoria
Geral de Justiça (PGJ), em Fortaleza, para detalhar as 45 denúncias que
levaram à prisão de 44 PMs acusados dos assassinatos. A PGJ divulgou o
nome dos presos.
Segundo a denúncia, não poderia haver chance
de defesa para quem foi surpreendido pela invasão de dezenas de PMs à
paisana, encapuzados ou não. Quem foi executado estava nas calçadas,
ruas e até dentro de casa naquela sequência de horror.
“As
entradas do Curió estavam todas interceptadas pela Polícia. Ninguém
entrava e ninguém saia”, afirmou a promotora Alice Iracema. Só entrava
na área onde aconteciam as execuções, carros, motos e viaturas do grupo
criminoso. O “pisca-alerta” ligado, segundo o promotor Manoel
Epaminondas, era o código definido entre os matadores para circular
naquele perímetro.
Ciops
Pedir socorro
policial para o local foi em vão. A denúncia descreve que vários
moradores ou familiares dos mortos e feridos ligaram até 15 vezes para a
Ciops e nenhuma viatura atendeu a ocorrência. Segundo os promotores, de
maneira proposital. Na coletiva, foram apresentados à imprensa diversos
áudios. “É pros caras fazer (sic) uma chacina grande hoje. Chacina
mesmo. E matar de 40 que é pros caras saber que foi a Polícia que
matou”, diz um deles. Outros áudios mostram que a Ciops não conseguiu
deslocar patrulhas para o local.
O sitiamento não
permitiu sequer a aproximação de ambulâncias. Os socorristas que
chegavam tinham medo de ir a locais dos crimes. “Sem saber precisamente o
que se passava e sem o apoio efetivo da PM, as ambulâncias não tinham
segurança para parar e fazer os atendimentos preliminares”, diz o
documento.
Na ação criminosa, afirma a denúncia do MP,
houve “divisão de tarefas”. Segundo os autos, a identificação dos
policiais se deu mediante a coleta de provas materiais e eminentemente
técnicas, como captação de conversas em redes sociais, diálogos via
rádio, telefonemas, georreferenciamento dos celulares, imagens de
câmeras de segurança de condomínios e comércios, fotossensores, GPS de
viaturas, além de laudos e perícias. “O material é suficiente para
demonstrar que eles participaram de forma ativa ou se omitiram de forma
deliberada”, afirmou o procurador-geral de Justiça, Plácido Rios.
A
primeira audiência judicial sobre a chacina está marcada para 7 de
outubro, às 9 horas, na 1ª Vara do Júri do Fórum Clóvis Beviláqua. Na
ocasião, serão ouvidas as sete vítimas sobreviventes.
VINCULAÇÃO DE CADA UM DOS PRESOS
A
denúncia do Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) detalha como
os policiais militares estariam vinculados aos crimes durante a
madrugada do dia 12 de novembro de 2015. O POVO lista abaixo
informações que constam no documento encaminhado à Justiça
- Ideraldo Amâncio
Disse
que não esteve em qualquer um dos locais da chacina, mas provas
periciais apontaram que o carro dele estaria em ruas onde ocorreram os
crimes.
- José Haroldo Uchoa
- Francinildo José da Silva Nascimento
- Gaudioso Menezes de Matos Brito Goes
O
três policiais teriam sido acionados duas vezes para atender a
ocorrências de tiros no Curió e teriam informado não tê-las achado. Com
base em registro de câmeras de vigilância, a viatura teria passado na
rua Lucimar de Oliveira, e na presença de baleados, não teria parado
para prestar socorro.
- Thiago Aurélio de Souza Augusto
- Francisco Fabrício Albuquerque de Sousa
- Ronaldo Silva Lima
- Ronaldo Silva Lima
A
equipe teria sido acionada para ocorrência na avenida Odilon
Guimarães, esquina com rua Elza Leite Albuquerque, onde quatro pessoas
foram alvejadas. Os policiais teriam informado que não encontraram
nada no local, o que teria encerrado o monitoramento. Outros três
assassinatos aconteceram em seguida. A viatura só teria chegado ao
local mais de uma hora depois da segunda ocorrência. A investigação
aponta omissão.
- Fábio Oliveira dos Santos
- Kelvin Kessel Bandeira de Paula
- Samuel Araújo de Aquino
Os
policiais teriam recebido informação sobre ocorrência de tiros na rua
Elza Leite Albuquerque e teriam avistado carros estacionados com
pisca-alertas ligados (o que seria um sinal acertado entre os policiais)
e não teriam feito diligências. Investigação aponta omissão e comunhão
com os crimes.
- Farlley Diogo de Oliveira
- Renne Diego Marques
- Francisco Flávio de Sousa
Câmeras de vigilância teriam registrado a viatura dos três policiais no local onde estavam os corpos de duas vítimas. Eles não teriam prestado socorro ou iniciado diligências. Eles também teriam passado pelo comboio de carros em que, supostamente, estariam os algozes. A investigação aponta coautoria nos crimes.
Câmeras de vigilância teriam registrado a viatura dos três policiais no local onde estavam os corpos de duas vítimas. Eles não teriam prestado socorro ou iniciado diligências. Eles também teriam passado pelo comboio de carros em que, supostamente, estariam os algozes. A investigação aponta coautoria nos crimes.
- Gerson Vitoriano Carvalho
- Josiel Silveira Gomes
- Thiago Veríssimo Andrade Batista de Carvalho
A
investigação aponta que eles estariam cientes dos crimes, informados
pela Ciops, e teriam passado pelos corpos estendidos no chão da rua
Lucimar de Oliveira, sem prestar socorro. E não teriam realizado
diligências em busca de carro suspeito. Omissão dolosa é impetrada pela
acusação aos policiais.
- Antônio José de Abreu Vidal Filho
O
policial afirmou que teria ido à casa da namorada e, depois, voltado
para a própria casa. A quebra de sigilo telefônico teria apontado a
presença do policial durante a madrugada na Lagoa Redonda e no Curió. A
investigação aponta que o policial “corroborou na autoria” dos crimes.
- Marcus Vinícius Sousa da Costa
Câmeras
do Detran teriam identificado o carro de Marcus nas adjacências do
local dos crimes. De acordo com as investigações, um veículo semelhante
ao carro dele teria transitado próximo ao 35º DP, nas proximidades do
local onde ocorreu o homicídio de um dos adolescentes vítima na chacina.
Em depoimento, Marcus teria afirmado que observou a existência de dois
corpos no chão com uma viatura parada ao lado, assim como identificou a
presença de homens encapuzados transitando no local.
- Marcílio Costa Andrade
Morador
do Curió. Após saber de uma briga da irmã com Raimundo Cleiton Pereira
da Silva, teria efetuado disparos contra Cleiton, porém, acaba por
matar Francisco de Assis Moura de Oliveira, conhecido como Neném, no
dia 25 de outubro de 2015. A partir daí, teria recebido ameaças de
traficantes da região. No dia 30 de outubro, o pai de Neném é
assassinado e, segundo indícios, o crime teria sido motivado pelas
ameaças feitas ao policial. O conflito envolvendo Marcílio, somado à
morte do soldado Valtemberg Charles Serpa, em tentativa de assalto, no
dia 11 de novembro de 2015, na Lagoa Redonda, teriam culminado na
chacina. Conforme a denúncia, o cano da arma que matou o pai de Neném é
o mesmo que disparou contra uma das vítimas da chacina.
- Daniel Campos Menezes
Pela
denúncia, “um dos mais ativos” nas execuções. O veículo dele teria
sido captado por câmeras, conduzindo homens encapuzados.
- Wellington Veras Chagas
Negou
ter participado das buscas aos suspeitos de matar o policial Serpa. De
acordo com a denúncia, o carro de Wellington teria sido flagrado por
câmeras do Detran, com a placa adulterada, na região dos crimes. Seu
depoimento teria contradições. Ele teria negado saber que Marcílio havia
se mudado do Curió após ameaças de morte, mas sua participação em
grupo de WhatsApp revelou comentários dele sobre a mudança.
- Carlos Roberto Mesquita de Oliveira
Em
depoimento, disse que retornava para casa por volta das 22h10min, mas
imagens de câmeras do Detran mostram Daniel e duas outras pessoas
transitando, à 1h37min, pela região onde os crimes foram praticados.
- Francisco Fagner de Farias
De
acordo com as investigações, ele afirmou que, na noite do crime, não
saiu da casa da namorada, no Antônio Bezerra. Porém, conforme a
denúncia, o carro dele teria sido identificado por imagens do Detran na
Grande Messejana. Ele estaria envolvido em três mortes.
- Daniel Fernandes da Silva
- Gildásio Alves da Silva
- Luis Fernando de Freitas
Em
depoimento, os policiais teriam informado que não transitaram nas ruas
do Curió. No entanto, imagens de câmera de vigilância mostram a
viatura percorrendo rua onde quatro vítimas foram alvejadas e sendo
seguida pelo comboio com os supostos assassinos. A investigação aponta
“direta participação” nos crimes.
- Luciano Breno Freitas Martiniano
Depoimento
de um capitão cita que um veículo circulava na região dos crimes com a
placa coberta por um saco, mas o saco teria caído revelando sua
identificação. Há indícios de que o veículo pertence à mãe de Luciano.
Em depoimento, Luciano disse que transitou na região para ir ao
Frotinha.
- Valdemir Izaquiel Silva
- Hugo dos Santos Guedes
- Francisco Girleudo Silveira Ferreira
- Antônio Juciêudo Holando Lopes
- Fábio Paulo Sales Gabriel
Câmeras
teriam identificado o veículo de Valdemir, por volta das 2h02min, na
Grande Messejana. Em depoimento, Valdemir disse que, quando soube da
morte de Serpa, foi à base do Crack É Possível Vencer com Hugo, Girleudo
e Juciêudo para uma homenagem ao PM. Conforme a investigação, Valdemir
teria omitido a presença de Fábio no grupo. Uma interceptação
telefônica no aparelho de Valdemir teria identificado que, em uma
conversa com Hugo, ele afirmara que Fábio estragaria “tudo, pois estava
dizendo que não se recordava se tinha atirado naquele dia”.
- Jean Rodrigues de Melo
- Ismael Alves Torres
- Anderson Kelsey Ribeiro da Silva
De
acordo com a denúncia, câmeras do Detran registraram o veículo de Jean
nas adjacências de onde ocorreram os crimes. O policial afirmou em
depoimento que, após saber da morte de Serpa, foi à base do Crack É
Possível Vencer, com Ismael e Anderson. Conforme depoimento, eles teriam
saído do local e voltado à base. Conforme a denúncia, um veículo
semelhante ao de Jean teria sido identificado, junto ao comboio de
carros no momento das mortes.
- Eliézio Ferreira Maia Júnior
Câmera
de segurança teria captado o veículo de Eliézio na rua Lucimar de
Oliveira, no momento dos crimes. Eliézio disse que foi ao Frotinha, onde
o policial Serpa estava hospitalizado, e depois teria ido à residência
de Serpa, após informação de que a casa teria sido invadida. A suposta
invasão não foi comentada por nenhum outro policial.
- Antônio Carlos Matos Marçal
- José Wagner Silva de Souza
- José Oliveira do Nascimento
- Clênio Silva da Costa
- Antônio Flauber Melo Brazil
- Francisco Helder de Sousa Filho
- Maria Bárbara Moreira
- Igor Bethoven Sousa de Oliveira
A
composição teria sido designada para investigar a morte do policial
Serpa. Os policiais teriam feito abordagem a uma casa, nas proximidades
da Lagoa Redonda, à procura de um suspeito. As versões deles teriam
sido contraditórias. Conforme a investigação, os policiais teriam
adentrado a casa encapuzados e adulterado com fita isolante a placa de
uma viatura descaracterizada. Em seguida, teriam apreendido um
adolescente e uma moto. A abordagem é apontada como “ilegal e
criminosa”.
O POVO online
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