Petista fez discurso político, atacou o Ministério Público - e sugeriu candidatura em 2018

O ex presidente Luiz Inácio Lula da Silva
concede entrevista coletiva sobre a denúncia do Ministério Público
Federal contra ele e sua esposa Marisa Letícia por crimes de corrupção,
em um hotel no centro de São Paulo - 15/09/2016 (Nelson
Antoine/FramePhoto/Folhapress)
Apontado pelo Ministério Público Federal como chefe do megaesquema de corrupção
desvendado pela Operação Lava Jato, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva discursou nesta quinta-feira cercado de aliados: e, ainda que
tenha falado por mais de uma hora, não emitiu uma explicação para as
graves denúncias que pesam contra ele. Lula abriu o pronunciamento
dizendo que não falava como político, mas como cidadão indignado.
Mentiu. Sua fala foi apenas política: sobraram ataques ao MP e à
imprensa. O petista também reforçou a intenção de se lançar candidato em
2018: “A história mal começou. Alguns pensam que terminou. E ainda vou
viver muito. Por isso estou me preparando”.
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Ao longo do discurso, Lula falou aos seus: ressaltou os feitos do
Partido dos Trabalhadores, chamou de ‘seus’ os alunos do Prouni e
reforçou o discurso que compara o impeachment de Dilma Rousseff a um
golpe. “Tenho profundo orgulho de ter criado o mais importante partido
de esquerda da América Latina”, afirmou, já na abertura da fala. Ao
final, conclamou os petistas a usar vermelho, cor símbolo da legenda:
“Cada petista do país tem que começar a andar de camisa vermelha. Quem
não gostar, coloque de outra cor, esse partido tem que ter orgulho”.
Aproveitou ainda para atacar a ‘brutalidade’ da Polícia Militar, em uma
crítica ao governo Geraldo Alckmin, citado nominalmente quando Lula
exaltou o movimento de estudantes secundaristas formado no ano passado.
Embora tenha afirmado que não pretendia fazer de seu pronunciamento um ‘show de pirotecnia’, em referência à apresentação da denúncia contra ele pelo procurador Deltan Dallagnol,
Lula foi Lula: chorou, contou histórias e atacou adversários. “Eles
construíram uma mentira, como se fosse o enredo de uma verdade, e está
chegando o fim do prazo. Já cassaram Cunha, já elegeram Temer pela via
indireta, já cassaram a Dilma. Agora precisa concluir a novela. Quem é o
bandido e quem é o mocinho? Vamos ao fecho: acabar com a vida política
do Lula. Não existe explicação para o espetáculo de pirotecnia feito
ontem”, afirmou. “Provem uma corrupção minha e eu irei a pé para a
delegacia”, provocou.
Em uma tentativa de defesa que parecer ter sido emprestada do dilmês,
Lula afirmou: “As pessoas achincalham muito a política, mas a profissão
mais honesta é a do político, porque todo ano, por mais ladrão que ele
seja, ele tem que ir pra rua e pedir voto”.
Dirigindo-se aos procuradores, pediu respeito à sua família e
afirmou: “Por favor, parem de procurar caspa onde não tem, procurem em
outro lugar”. “Eu acho que os companheiros que compõem o Ministério
Público têm que ficar atentos porque não podem permitir que meia dúzia
de pessoas estraguem a história de uma instituição tão importante no
país”, prosseguiu. “Me dedicaram um apartamento que não tenho, uma
chácara que não é minha, de ser o comandante maior. ‘Eu não tenho prova,
mas tenho convicção’”. Também afirmou que está à disposição das
‘pessoas sérias do MP.
Acusado de ter comandado não apenas o petrolão, como também o
mensalão, Lula citou o esquema, ainda que indiretamente. “Hoje nós
vivemos momento no Brasil em que a lógica não é mais do processo, não é
mais os autos, é a manchete, quem é que nós vamos criminalizar pela
manchete, quem vamos demonizar. Está acontecendo isso desde 2005. O PT é
tido como o partido que tem que ser extirpado da história política
brasileira”. Por esquecimento ou má fé, Lula não disse que o julgamento
dos acusados de envolvimento no esquema criminoso levou para a cadeia
próceres do partido, como José Dirceu – hoje novamente atrás das grades
por causa da Lava Jato.
A fala de Lula foi recheada de esquetes típicos do ex-presidente,
como histórias envolvendo líderes mundiais e passagens que ressaltam sua
origem pobre. Mas nenhuma frase expôs tanto a humildade de Lula quanto
essa: “Eu tô falando como cidadão indignado, como pai, como avô, como
bisavô, eu tenho uma história pública conhecida. Acho que só ganha de
mim aqui no Brasil Jesus Cristo. Pense num cabra conhecido e marcado
neste país”.
Ao contrário do que se viu no discurso de março,
quando foi conduzido coercitivamente pela Polícia Federal para depor,
Lula fez um discurso mais comedido. Atacou os inimigos de sempre, como
de praxe, mas não esbravejou. “Se quiseram matar a jararaca, não bateram na cabeça. Bateram no rabo, e a jararaca está viva como sempre esteve”, disse na ocasião. Nesta quinta, contudo, a jararaca sumiu.
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