Relatório do Ministério Público do
Ceará (MPCE) identificou três facções criminosas que atuaram dentro dos
presídios cearenses durante a crise do sistema penitenciário. O
documento é resultado da apuração de responsabilidade sobre as rebeliões
nas unidades prisionais da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), no
último dia 21 de maio.
O
episódio deixou 14 detentos mortos, e o Governo do Ceará teve um
prejuízo de R$ 12 milhões devido à depredação das penitenciárias.
Agentes penitenciários do comando de greve foram identificados e devem
ser denunciados na semana que vem.
De acordo com o
coordenador da comissão que apurou as rebeliões, promotor de Justiça
Humberto Ibiapina, os estudos apontaram que o Comando Vermelho (CV), o
Primeiro Comando da Capital (PCC) e os Guardiões do Estado (GDE) estão
em todas as unidades da RMF. “Eles se organizaram nos presídios, que
foram dominados. Ficou fácil articular uma ação conjunta em vários
presídios, que normalmente não teriam articulação. Um é em Caucaia,
outro em Itaitinga, mas, por meio de celulares, eles conseguiram mandar
um salve (comunicado coletivo)”, relata.
Sejus
O
relatório apontou ainda que houve permissividade da Secretaria da
Justiça e Cidadania (Sejus) ao aceitar que os presos saíssem das celas e
passassem a conviver livremente nas chamadas vivências. A situação
abalou a disciplina interna e fez com que os presos adquirissem
celulares, chips e armas. Nas incursões do Batalhão de Choque nos
presídios, foram apreendidos 700 celulares logo após as rebeliões.
“Podem
entrar (aparelhos celulares) pelos malotes, rebolos (materiais
arremessados sobre o muro). Conseguimos em alguns depoimentos a
comprovação de que existe efetivamente uma situação de corrupção entre
os agentes penitenciários. E muitos deles colaboram para que esses
celulares entrem nas unidades carcerárias. Pendrives, vídeos, cartões de
memórias... Os oito volumes do relatório possuem documentos que podem
comprovar tudo aquilo que foi dito”, relatou o promotor
Apesar
da verificação de colaboração dos agentes na entrada desses aparelhos, o
MPCE não soube precisar os profissionais responsáveis pela prática
delituosa. Já os integrantes do comando da greve foram identificados no
relatório que foi encaminhado ao promotor.
Conforme Humberto
Ibiapina, o prazo é para que, na próxima semana, seja oferecida a
denúncia que responsabiliza dez agentes penitenciários e a Sejus.
Procurado pelo O POVO, o órgão afirma que mais de 500 agentes
participaram das ações. Conforme o MPCE, há profissionais que criaram
barricadas e incitaram os detentos a causarem o quebra-quebra, mas não
foram identificados, pois, apesar de as câmeras terem flagrado as ações,
todos usavam balaclavas.
Saiba mais
“Abriram as portas do
inferno e não souberam fechar”. Essa foi a frase que o MPCE utilizou
para abrir o relatório apresentado ontem. A frase é do tenente-coronel
Alexandre Ávila, comandante do Batalhão de Choque, o primeiro a ser
ouvido sobre a atitude dos agentes.
Os autos seguem
agora para a comarca de Itaitinga. Os agentes penitenciários podem
responder por desobediência, desobediência a ordem judicial e
prevaricação.
Para entender
21/5. A partir da 0h é deflagrada a greve dos agentes penitenciários do Ceará. Visitas são impedidas.
Manifestações das esposas dos detentos e rebeliões são registradas no Complexo de Itaitinga e em Caucaia (RMF). São confirmadas mortes nas unidades. No fim do dia, o Governo atende às reivindicações dos agentes e concede 100% de gratificação.
Manifestações das esposas dos detentos e rebeliões são registradas no Complexo de Itaitinga e em Caucaia (RMF). São confirmadas mortes nas unidades. No fim do dia, o Governo atende às reivindicações dos agentes e concede 100% de gratificação.
22/5. Novas
rebeliões são registradas e corpos de presos são retirados pela Perícia
Forense. A Sejus divulga que cinco presos foram mortos, todos
carbonizados. Em dois dias, foram registradas oito rebeliões e
distúrbios em presídios.
24/5. A Sejus
divulga que teria havido 18 mortes durante as rebeliões, mas, após
realização de exames de DNA, divulga que 14 detentos morreram durante
os conflitos.
28/5. O Conselho
Penitenciário do Ceará denuncia negligência do Estado e
irresponsabilidade do sindicato dos agentes penitenciários, atitudes que
teriam resultado na morte dos presos.
Jéssika Sisnando
jessikasisnando@opovo.com.br
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