Constância de segundo turno nos pleitos da Capital revela equilíbrio de forças políticas e eleitorado flutuante
Por
Beatriz Jucá - Repórter
Das oito eleições para prefeito de Fortaleza realizadas desde a
redemocratização brasileira, a partir da Constituição de 1988, quatro
tiveram a disputa encaminhada para o segundo turno. Enquanto as eleições
da década de 1990 foram marcadas pela definição no primeiro turno, a
partir do ano 2000 o pleito na Capital ficou mais acirrado. Tanto que,
desde então, apenas Luizianne Lins (PT) venceu a disputa na primeira
etapa, em 2008.
Cientistas políticos avaliam que esse acirramento maior revela a
ausência de forças políticas antigas e de lideranças consolidadas, tendo
em vista que não há grupos ideológicos consistentes, o que provoca
grande rotatividade nas alianças eleitorais.
Esse aspecto pode ser observado nos dois últimos pleitos. Em 2012, por
exemplo, Moroni Torgan (DEM) disputou o primeiro turno contra Roberto
Cláudio (PDT), com quem divide chapa neste ano. Já o vice-prefeito,
Gaudêncio Lucena (PMDB), agora tenta manter-se no cargo, porém pela
chapa de oposição, liderada por Capitão Wagner.
O grande número de partidos e a troca frequente de legendas pelos
candidatos, apontam especialistas, vêm aumentando o descrédito da
população pela política e tornando o eleitorado mais flutuante. Assim,
Fortaleza tem revelado surpresas nos resultados eleitorais e maior
competitividade nas disputas, embora essas características não reflitam
pluralidade e qualidade nas candidaturas.
O cientista político Rui Martinho diz que as sucessivas disputas em
segundo turno indicam que não existe uma liderança superior entre os
candidatos a prefeito de Fortaleza. "As forças políticas estão mais
equilibradas, e Fortaleza não é uma cidade seduzida por um grupo de
forma majoritária. Por outro lado, ela tem um eleitorado flutuante".
A ocorrência de viradas de última hora, explica o professor, revela que
grande parte da população não tem vinculação com partido ou admiração
por um grupo específico. "Isso deixa os eleitores sem opção definida e,
mesmo aqueles que já escolheram um nome, não parecem ter suas escolhas
consolidadas".
Consolidação
Para Rui Martinho, a multiplicação dos partidos e das candidaturas
contribuem para o acirramento. Neste ano, por exemplo, Fortaleza teve
oito prefeituráveis, dividindo o eleitorado.
O professor salienta os postulantes do segundo turno têm trajetórias
políticas recentes e não representam grupos de longa duração no poder,
embora tenham padrinhos que não sinalizam renovação. Candidato a
reeleição, o prefeito Roberto Cláudio conta com o apoio da família
Ferreira Gomes. Já Capitão Wagner é apoiado pelos senadores Tasso e
Eunício. "A posição dos padrinhos na campanha é relativa do ponto de
vista de transferência de votos", pondera.
O cientista político Francisco Moreira acredita que as alianças entre
políticos que antes se opunham também têm acirrado as disputas, visto
que tornam o eleitorado mais indeciso e menos ideológico. "Essas
alianças criam dificuldade de identidade do eleitor com os partidos".
Conforme o professor, isso ocorre porque falta consistência na posição
dos grupos políticos.
O cientista político Josênio Parente avalia que as eleições de
Fortaleza são historicamente competitivas e que apenas a vitória de
Luizianne (PT) no primeiro turno do pleito de 2008 foi atípica. "O
normal é que vá para o segundo turno. Esta eleição foi atípica porque o
Lula (correligionário) estava bem avaliado no governo federal, e
Luizianne tinha a simpatia da esquerda, que na eleição anterior levou a
disputa ao segundo turno porque os votos foram divididos com o Inácio
Arruda (PCdoB)", avalia.
Em 2004, Lula apoiou Inácio, e Luizianne disputou a Prefeitura de
Fortaleza pelo PT mesmo sem o apoio do colega de partido. A petista
venceu a eleição no segundo turno, contra Moroni Torgan (DEM). No pleito
seguinte, foi reeleita no primeiro turno, já com o apoio de Lula.
Segundo Josênio Parente, Fortaleza já foi marcada por lideranças
autônomas, mas com o atual descrédito dos políticos, há uma necessidade
da consolidação de grupos mais ideológicos para fidelizar o eleitorado e
reduzir o número de eleitores flutuantes, que tem deixado o voto cada
vez menos seguro e consciente.
"O (ex-prefeito) Juraci Magalhães não era o PMDB para o eleitorado. O
PT tem voto independente de suas lideranças porque fidelizou votos com a
luta pela redemocratização. Com toda a crise do partido, o PT ainda
manteve isso e conseguiu interferir na eleição de Fortaleza. Cid Gomes
tem organizado o PDT e precisa se fixar porque, sem partido ou movimento
que fidelize o eleitor, vai ficando mais difícil eleger candidatos",
afirma o cientista político.
Candidatos que disputaram o segundo turno na Capital
2000 - Juraci Magalhães (PMDB) e Inácio Arruda (PCdoB)
2004 - Luizianne Lins (PT) e Moroni Torgan (DEM)
2012 - Roberto Cláudio (PSB) e Elmano de Freitas (PT)
2016 - Roberto Cláudio (PDT) e Capitão Wagner (PR)
Fonte: Diário do Nordeste
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