Número compreende hospitais das redes
municipal, estadual e federal, e reflete a desorganização da gerência
das diferentes filas de espera para acesso à saúde pública. Estado e
Município projetam soluções
MAURI MELO
Diante do expressivo número de
pacientes que buscam a Justiça para resolver suas demandas, Defensoria
Pública firmou termo de cooperação com Estado e Município
Fernando Romão, 65, espera há três
anos pela retirada da hérnia de disco que lhe faz doer as costas e
prejudica o trabalho como eletricista. O soldador Francisco Luís Alves,
39, espera há um ano por transplante de rim. Doralice Viana, 39, que
labuta “na roça, no Interior”, esperou três anos para conseguir consulta
médica; espera há dois pela ressonância magnética necessária para
tratar uma hérnia.
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Para
acessar serviços de saúde como consultas, exames e cirurgias, pacientes
de hospitais públicos de Fortaleza — entre municipais, estaduais e
federais — se submetem a diferentes filas de cuja gerência é desalinhada
e custosa, principalmente, pela descentralização do controle, a alta
demanda e a frequente falta de material. Para entender a dimensão do
problema, somente à espera de cirurgia na Capital existem, atualmente,
cerca de 23 mil pessoas. Não se sabe ao certo quantos aguardam os outros
serviços.
O entrave no acesso às cirurgias tem origem ainda
no encontro entre médico e paciente, segundo Mozart Rolim, coordenador
da Central de Regulação das Internações de Fortaleza (Crifor). “O médico
te dá o diagnóstico, te coloca na fila e é ele quem vai fazendo ela
andar”, explicou. Além da desorganização na gerência dos processos,
outros obstáculos agravam a situação, como a significativa demanda do
Interior e o insuficiente aporte do Sistema Único de Saúde (SUS).
Uma
fila que consegue “andar relativamente mais rápido”, conforme Mozart, é
a da espera por cirurgias oncológicas, dada a gravidade do estado do
paciente e o maior financiamento do SUS.
Entretanto, as
cirurgias mais requisitadas na Capital são as ortopédicas de média
complexidade, como, por exemplo, a retirada de hérnia. “Quase 50% das
filas são do HGF (Hospital Geral de Fortaleza)”, revelou o coordenador
da Crifor, que contabilizou entre três e quatro mil a média mensal de
cirurgias eletivas na Capital. “Com as de urgência, chega a sete mil”.
A gerência das filas
Conforme
O POVO divulgou no último dia 29 de setembro, tem se discutido no
Tribunal de Justiça Federal (TJF-CE) a possibilidade de atribuir a
gerência de todas as filas de cirurgia em Fortaleza somente à Crifor.
“A
ideia é que a gente consiga acompanhar do momento em que se pede uma
cirurgia até sua realização”, projeta Rolim. Se a centralização vai ser a
única solução para sanar a espera por operações e repercutir nas outras
filas, ele acredita que não, mas entende que “quando você consegue
unificar e gerenciar, consegue aproveitar melhor o recurso”.
Em
contrapartida, o Estado pretende constituir o próprio sistema unificado
para “visualizar melhor essas filas”. No entanto, “devido a restrições
financeiras”, conforme nota enviada pela Secretaria Estadual da Saúde
(Sesa), a medida não deve ser implantada antes de fevereiro de 2017.
“Nossos sistemas estão dando conta das urgências e emergências, as (cirurgias) eletivas precisam de ampliação”, admitiu Mozart.
Saiba mais
Por enquanto, o
termo de cooperação firmado entre Defensoria Pública, Governo do
Estado e Município de Fortaleza abrange somente demandas por fraldas,
medicamentos, consultas, exames e alimentação especial, mas o órgão
recebe outras reclamações.
Segundo o coordenador da
Central de Regulação das Internações de Fortaleza (Crifor), números de
pacientes em filas de espera podem ser confusos porque, às vezes, o
mesmo paciente está em três hospitais diferentes à espera de cirurgia.
Na semana passada, O
POVO divulgou que a Defensoria Pública vistoriou o HGF para avaliar a
situação da unidade diante das reclamações de demora no atendimento,
tanto no que diz respeito às emergências quanto às urgências. Na
ocasião, a defensora pública Silvana Feitoza chegou a dizer que os
pacientes recorrem à Defensoria com a recomendação, “inclusive”, do
hospital, para judicializar a causa.
Em nota enviada pela
assessoria de imprensa da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa), o HGF
prestou contas: “Atualmente, o hospital realiza, por mês, uma média de
600 cirurgias eletivas. Mensalmente, são cerca de 210 mil exames
laboratoriais e mais de oito mil exames de imagens. São realizadas
aproximadamente 24 mil consultas por mês”. Não informou, contudo, se
chegou a suspender a realização de cirurgias eletivas nem disse o que
tem feito para minimizar a espera por atendimento.
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