Brincadeiras, gargalhadas, amigos, cores, boas notas. A infância da
maior parte das crianças pode ser retratada por meio dessas ações. Há,
porém, para algumas delas, uma outra realidade. Trata-se da depressão
infantil, identificada como um adoecimento que se traduz por sofrimento
emocional e traz grandes prejuízos para o desenvolvimento da criança ou
do adolescente.
A depressão pode se manifestar deste o início da vida. O psicanalista
René Spitz aponta a depressão em bebês por situações de abandono,
geralmente as hospitalizadas por longos períodos ou mantidas em
orfanatos (carentes de cuidados afetivos).
Doença símbolo do século XX, cujo diagnóstico tem como sintomas (para
adultos e crianças), tristeza, desânimo, apatia, insônia ou sono
excessivo, falta ou aumento de apetite, desinteresse, falta de vontade e
energia, pensamentos negativos, irritação, ideias de morte, crises de
choro, podendo apresentar ainda descuido consigo mesmo.
Más notas
As crianças podem apresentar manifestações diferentes e relacionadas a
doenças psicossomáticas (dores abdominais, vômito, febre, asma, alergia e
problemas de comportamento). Com frequência há sintomas devido à
própria condição de imaturidade cognitiva (isolamento, despertares
frequentes, pesadelos, insegurança, rebeldia, mau rendimento e fobia
escolar).
Para a psiquiatra Márcia de Vasconcelos, problema no rendimento escolar
é um dos primeiros sintomas percebidos pelos pais, o que os levam a
procurarem ajuda. O diagnóstico precoce é fundamental para o
desenvolvimento da criança.
A psiquiatra alerta: "a ideação suicida não é algo incomum, embora, na
criança e no adolescente, isso não seja muito claro. Pode vir por meio
de comportamentos destrutivos, uso de álcool e drogas. Na confusão
diagnóstica, a criança fica sem ajuda, e o suicídio pode aparecer,
geralmente, a partir de sete anos. Os prejuízos se tornam irreversíveis,
e a criança e o jovem também podem ser conduzidos para a delinquência e
marginalidade".
Refletem o que sentem
Ao tratar da criança, o profissional investigará o histórico e ambiente
familiar. Com frequência, há relatos de depressão nos pais, irmãos,
avós, tios. A psiquiatra pontua: "o que é entendido como depressão
congênita é a que tem um substrato orgânico (base hereditária). Não
necessariamente a depressão, mas uma doença mental, deixa a criança mais
vulnerável".
Geralmente, contudo, são os fatores contextuais que levam à criança a
uma condição depressiva como o abandono de um dos pais, desemprego,
conflitos, experiências de rejeição, situação de violência, abusos,
cobranças excessivas de desempenho e comparações com colegas e irmãos e
separação dos pais.
Brincar e amar
Muito cedo, as crianças são levadas a assumir múltiplas tarefas (novos
idiomas, dança, esportes, reforço escolar), comprometendo o tempo para
brincar 'como criança' e, assim, estimular a criatividade e o
desenvolvimento cognitivo, físico e emocional.
"A televisão oferece temas e histórias que já estão prontas, seus
enredos e imagens. Não permite que a criança desenvolva a criatividade e
trabalhe com o próprio conteúdo para a solução dos seus problemas",
diz. "Muitos adultos deprimidos até conseguem lembrar de eventos de
infância e adolescência em que ocorriam medo, angústia, tristeza e que
naquele instante eles não eram capazes de entender que aquilo já era um
estado de adoecimento", conclui.
Por
Mimosa Pessoa - Especial para o vida
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