José Lucena/Futura Press/Estadão Conteúdo 10.dez.2015 - Ato na praia de Copacabana em homenagem aos policiais militares mortos em 2015
Quatro policiais militares morreram na queda de um helicóptero em meio a
um tiroteio na favela Cidade de Deus, na zona oeste do Rio de Janeiro,
no último sábado (19). Os agentes, parte de uma equipe especializada em
registrar imagens para ajudar os policiais em terra durante confrontos,
somam-se aos outros 24 policiais militares mortos em serviço entre
janeiro e setembro de 2016, de acordo com os dados mais recentes do
ISP (Instituto de Segurança Pública) –mais do que em todo o ano de 2015,
quando 23 policiais morreram trabalhando.
O número de policiais mortos neste ano pode ser ainda maior se levado em conta um relatório da PM obtido pelo UOL, que aponta 27 mortes de agentes em serviço nos primeiros dez meses de 2016, sendo uma delas em outubro.
Considerando-se também os 87 policiais mortos em horário de folga, o
número de PMs que morreram até outubro chega a 114, segundo o relatório.
Destes, 41 agentes morreram em confrontos com criminosos ou atingidos
por armas de fogo. Em 2015, 65 PMs fora de serviço morreram, segundo o
Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O ISP não divulga o número de
policiais mortos fora do trabalho.
"Não só no Rio como no resto
do país, os policiais morrem fazendo bico, em conflitos privados e
quando reagem a um assalto. É extremamente perigoso ser policial",
afirma o sociólogo Ignácio Cano, coordenador do Laboratório de Análise
da Violência da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro).
A
polícia mata muita gente, há um excesso do uso da força. E os
criminosos se vingam depois, quando os PMs estão fora de serviço e são
reconhecidos como policiais.
Ignácio Cano, sociólogo
A Polícia Militar não comentou o aumento e se limitou a dizer que
"lamenta a morte de qualquer um de seus membros". O Estado conta com
47.188 policiais.
Para o secretário de Segurança do Rio, Roberto
Sá, o país passa por "uma crise de segurança pública". "A gente tem de
rever, tem de ter um novo pacto. A polícia sangra", afirmou no domingo
(20), após o velório de três dos quatro policiais, em entrevista ao
jornal "O Estado de S. Paulo".
Um dia depois da queda do
helicóptero, os corpos de sete jovens foram encontrados na Cidade de
Deus, após uma operação policial. "Um policial é morto e, na sequência,
várias pessoas morrem, como se fosse uma vingança da instituição. E isso
acontece com frequência. Quem tem que investigar é a Policial Civil,
mas quem faz a operação é a Policia Militar", disse Ignácio Cano.
Ele cita como exemplo a morte de nove pessoas em uma operação realizada no Complexo da Maré após o assassinato de um sargento no Bope (Batalhão de Operações Especiais) em 2013.
Nesta segunda (21), um desdobramento da ocupação policial da Cidade de Deus por tempo indeterminado foi realizado na Maré e deixou ao menos dois mortos. As duas comunidades têm áreas dominadas pela facção criminosa Comando Vermelho.
Segundo Cano, o governo nunca esclareceu qual foi a justificativa da
operação na Maré em 2013. "Temos um histórico de ações na sequência de
mortes de policiais que não se justificam nem legal nem
institucionalmente."
25 mortos para cada PM assassinado
Para cada policial assassinado no Rio de Janeiro em 2015, outras 25 pessoas morreram em decorrência de intervenções policiais, de acordo com levantamento feito pelo UOL com base em dados do ISP.
Considerando os números registrados entre janeiro e setembro deste ano,
dado mais recente divulgado pela Secretaria de Segurança, 24 pessoas
morreram para cada policial morto no Estado.
Em nota divulgada
após a morte dos policias, a Anistia Internacional criticou a situação
da Segurança Pública no Rio que, para a organização, não protege moradores nem policiais.
"As operações policiais no Rio de Janeiro seguem um padrão de alta
letalidade, deixando centenas de pessoas mortas todos os anos, inclusive
policiais no exercício de suas funções", afirma a organização.
"Em geral, são operações altamente militarizadas, que seguem uma lógica
de guerra (neste caso, guerra às drogas), que enxerga as áreas de
favelas e periferias como territórios de exceção de direitos e que
resultam em inúmeros outros abusos além das execuções, tais como invasão
de domicílio, agressão física e verbal, e cerceamento do direito de ir e
vir."
Paula Bianchi
Do UOL, no Rio
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