O saldo
positivo pode aumentar, já que ainda falta mais de uma semana para o mês acabar
Ponte de
madeira foi arrastada pelas águas, em Banabuiú ( Foto: Leila Márcia )
Fortaleza/Iguatu/Quixadá.
Como previsto pela Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos
(Funceme), na sexta-feira (17), o Ceará atingiu a média mensal de chuvas para
fevereiro com as precipitações deste fim de semana. Na manhã de ontem, o volume
alcançou 127,8mm, desvio positivo de 7,8% da média histórica de 118,6 mm. Isso
não acontecia desde 2012. De lá para cá, os registros não foram animadores, com
índices negativos que colaboravam com o quadro de seca. No ano passado, choveu
apenas 53,2 mm (-55,2%). Em 2015 e 2014, apesar de maiores quantidades em
relação a 2016, 96,3mm e 91,9mm, os desvios continuaram negativos (-18,9% e
-22,5%, respectivamente). Em 2013, o número também foi baixo, apenas 61,6mm
(-48,1%).
Em janeiro
deste ano, porém, o registro não foi satisfatório. As precipitações (68 mm) não
atingiram a média de 98,7mm normal para o mês, resultando em um desvio negativo
de 31,1%. Em 2016 havia sido melhor, quando choveu 191,8mm, fato que não se
repetiu nos anos anteriores, em que o mês também fez registros abaixo da média.
Com o saldo
positivo deste fevereiro de 2017, no entanto, o Estado pode ultrapassar os
138,1mm (16,4%) de 2012 referente a este período, já que ainda estamos no
penúltimo fim de semana do mês. Com a condição de nebulosidade variável ao
longo do dia, a expectativa para esta segunda-feira (20) e terça-feira (21) é
de que continue chovendo em todas as regiões do Estado, com destaque para a
região Centro-Norte nos próximos dias, como ressalta o meteorologista da
Funceme, Raul Fritz.
Segundo
destaca, a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), principal indutor das
precipitações no Ceará durante a quadra chuvosa, se mantém numa posição
favorável à continuidade das chuvas, mas deve ser observada nos próximos dias.
"Ela se inclinou mais e isso foi bom, mas tende, com o tempo, a perder um
pouco essa inclinação. Ou seja, como ela oscila, é possível que as chuvas
possam diminuir se ela se inclinar e ficar paralela à costa. Nessa posição, a
influência é maior na região litorânea e começam a diminuir as chuvas do Centro
para o Sul".
Das 7h de
sábado às 7h de domingo, a Funceme registrou precipitações em 40 municípios,
com destaque para o Cariri e Centro-Sul: Cedro (45mm), Lavras da Mangabeira
(42mm) e Orós (42mm). Fortaleza registrou apenas 24.4 mm.
Nesta
terça-feira (21), a Funceme divulgará o novo prognóstico da quadra chuvosa no
Estado, referente ao trimestre março/abril/maio. "Vamos utilizar um quadro
mais recente porque houve mudanças nas condições do Oceano. O La Niña deixou de
existir completamente. O Atlântico não está tão favorável à condição de chuvas
intensas e estamos dependendo de respostas de alguns modelos para saber se
continua a maior probabilidade de chuvas dentro da média ou se vai cair",
explica Fritz.
Consequências
Precipitações
mais significativas ocorreram entre sexta-feira e sábado passados, quando a
Funceme registrou chuva em 111 municípios e as cinco maiores foram em Alto
Santo (178mm), Ibicuitinga (157mm), Morada Nova (155mm), Independência 114mm e
Quixeré (104mm).
Só em Morada
Nova, foram registradas, no sábado, três chuvas acima de 100mm: na localidade
de Lacraia (155,6mm), na sede urbana (127mm), Patos (108mm) e Cipoaba (107mm).
As precipitações provocaram pontos de alagamento, estragaram estradas vicinais
e deixaram algumas casas alagadas.
Apesar das
boas chuvas, Fritz observa que os modelos meteorológicos observados não são
favoráveis para a ocorrência de chuvas acima da média e recuperação do nível
dos reservatórios médios e grandes, estratégicos para o abastecimento das
grandes cidades.
Plantios
Onde a terra
está mais molhada, como no Cariri, os agricultores já iniciaram o plantio das
sementes de milho, feijão e sorgo. Nos municípios de Cedro e de Várzea Alegre,
os produtores rurais já estão no campo, fazendo os primeiros cultivos. "A
gente tem de aproveitar as primeiras chuvas, a umidade do solo", disse o
agricultor João Mota, da localidade de Várzea da Conceição.
Em Várzea
Alegre, o casal, Luís Gomes e Maria das Graças Gomes, iniciou o cultivo de um hectare
de milho e feijão, na localidade de Olho D'Água. "Se continuar chovendo, a
gente vai plantar arroz, que exige mais água. A maioria está esperando chover
um pouco mais para plantar na próxima semana", disse.
Na região
Centro-Sul, a distribuição das sementes do Programa Hora de Plantar será
concluída hoje. Apesar das chuvas localizadas e reduzidas em Iguatu, os
agricultores estão animados. "Agora, a terra já está com a umidade
favorável na maioria das áreas de cultivo", disse o gerente regional da
Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ematerce), Joaquim Virgulino
Neto. "Houve dificuldades de transporte por isso neste ano a entrega retardou
um pouco mais", completou.
Os
agricultores reclamam da redução de 50% da quantidade de semente de feijão, que
é um dos grãos mais demandados. "O governo obteve dificuldade para comprar
sementes selecionadas de feijão, por isso a oferta caiu em todo o Estado, na
campanha deste ano", explicou Virgulino Neto.
Mudança
Além do
clima ameno, a água voltou a correr em diversos rios. Em um deles, o Jaguaribe,
a barragem das Pedrinhas, em Limoeiro do Norte, voltou a sangrar, transformando
a principal atração turística daquela região, faltando apenas uma semana para o
Carnaval. Não foi diferente em Banabuiú, no Sertão Central, no rio que corta o
município e outros seis (Mombaça, Piquet Carneiro, Senador Pompeu,
Quixeramobim, Jaguaretama e Morada Nova) e deságua no Jaguaribe. Logo abaixo da
barragem do Açude Arrojado Lisboa, as máquinas estão trabalhando na formação de
um piscinão, onde a população se concentrará durante o dia para brincar o
Carnaval. Com a mudança meteorológica, o local ficará ainda melhor para os
brincantes. Da quarta para a quinta-feira a situação era outra. Não houve
registro de chuvas no Estado pela segunda vez no mês. Agora, as águas estão
voltando a rolar, para a alegria de todos.
Acesso
Interrompido
As chuva do
sábado, em Banabuiú, superiores a 150mm, conforme informações de moradores
daquela cidade, encheram o rio homônimo, provocando os primeiros transtornos na
região. Uma ponte de madeira, acesso improvisado da cidade à vila da Barra do
Sitiá, foi arrastada pela correnteza. Os moradores ainda se esforçaram, tentado
desbloquear o curso da água. Por volta do meio-dia do sábado, a estrutura não
suportou a força do rio.
Na noite
anterior, estudantes retornaram às pressas para aquela localidade, situada a
30Km do Centro da cidade. Havia receio de a ponte desabar. As chuvas começaram
a se tornar mais frequentes ainda na sexta-feira. Apesar do transtorno, os
moradores não ficaram isolados. Existe um acesso por estrada, pela localidade
de Lagoa da Serra. A expectativa é de mais chuvas na região.
Na última
terça-feira, o diagnóstico foi bem diferente. Conforme a Funceme, as
precipitações acumuladas durante janeiro ficaram abaixo da média mensal, e
causaram diferentes impactos nas regiões cearenses.
O último
mapa do Monitor de Secas do Nordeste (MSNE) apontava discreta melhora para a
região noroeste do Estado. A notícia só não chegou a ser positiva porque, no
comparativo com o mapa do MSNE de dezembro de 2016, foi observada nas demais
regiões a permanência dos graus mais severos de estiagem ou até o avanço da
seca mais grave, como ocorreu no Baixo Jaguaribe.
Por Renato Bezerra/Honório Barbosa /Alex Pimentel - Repórter/Colaboradores
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