Entra ano,
sai ano, o mosquito se mantém firme e forte. Depois da dengue e da zika, agora
é a vez de a chikungunya causar preocupação
Ele
definitivamente é um dos vilões da saúde pública brasileira e, mesmo assim,
após três décadas de retorno ao território nacional, o Aedes aegypti se tornou
um mosquito doméstico. Vive dentro de casa e perto das pessoas de uma forma
cada vez mais adaptado porque encontra no País, condições para se proliferar e
ampliar leque de vítimas. No Ceará, após 28 anos, entre 1986 e 2014, era
conhecido apenas como o vetor da dengue. A partir daí, se fortaleceu e agora
também transmite chikungunya e zika. Após anos de luta, ainda travamos uma
guerra sem trégua contra ele. Para especialistas, a inoperância de ações
governamentais e a leniência da população no combate aos focos de reprodução,
são principais causas que transformaram o transmissor de tantas doenças em
protagonista dos constantes ciclos de colapsos sanitários.
Segundo
infectologistas, como Anastácio Queiroz, por sua capacidade de se amoldar às
novas condições, só será derrotado, se governos federal, estaduais, municipais
desenvolver políticas contínuas, em consonância com pesquisadores e apoio ativo
das pessoas em geral. Por enquanto, batalhas anuais deixam rastros de dor e
sofrimento para pacientes e suas famílias. No Estado, somente em relação à
dengue, desde 1986, já são mais de 590,7 mil infectados, com 614 mortos.
"Há 31 anos, sabemos quais os principais criadouros, sabemos de sua enorme
eficiência em se moldar e continuamos a patinar no mesmo lugar", aponta.
Ele explica
que a dengue é a mais mortal das três doenças. O chikungunya tem maior
morbidade porque as dores nas juntas podem persistir por meses e até anos,
evoluindo para a forma crônica, o que pode acontecer em até 30% dos casos. Já a
zika é mais perigosa para as gestantes, pelo perigo da microcefalia.
"Nossa preocupação este ano é com a segunda enfermidade. Os casos
confirmados se multiplicam e o alerta estar no exercito de pessoas com a doença
que pode ficar com sequelas persistentes e sem fim", ressalta.
O
pesquisador da Fiocruz, médico Rivaldo Venâncio, aponta que alguns fatores
contribuíram e contribuem para tornar o Aedes em um agente tão eficiente para a
transmissão desses vírus. Há 30 anos, comenta, ele preferia água limpa e parada
para se reproduzir. Hoje, a fêmea deposita os ovos em locais sujos e até com
presença de matéria orgânica. "Um aspecto que também favorece a reprodução
é o fato de a fêmea colocar em média cem ovos de cada vez, mas não fazer isso
em um único local. Em vez disso, ela os distribui por diferentes pontos",
explica.
O Aedes
aegypti é, geralmente, diurno: prefere sair em busca de sangue pela manhã ou no
fim da tarde, evitando os momentos mais quentes do dia. "Mas ele é
oportunista. Se não tiver conseguido se alimentar de dia, vai picar de noite.
Isso não ocorre com o pernilongo, por exemplo, que é noturno e só vai aparecer
quando o sol começa a se pôr", afirma a bióloga e pesquisadora da Fiocruz,
Denise Valle.
No Brasil,
ele chegou a ser erradicado duas vezes. No início do século passado, o
epidemiologista brasileiro Oswaldo Cruz comandou uma campanha intensa contra
ele no combate à febre amarela. O mosquito voltou a ser detectado no fim dos
anos 1960. Foi erradicado novamente em 1973 e retornou mais uma vez três anos
mais tarde. "Hoje não falamos mais em erradicação. Sabemos que isso não é
possível", frisa, Venâncio.
No caso da
dengue, diz o pesquisador, se fala de uma doença que existe, de forma
ininterrupta, há mais de 30 anos no Brasil. Todos os anos, com exceção de 1988,
houve epidemia de dengue no país. No Ceará, foram sete, desde 1996 - 1987,
1994, 2001, 2008, 2011, 2012 e 2015. "No entanto, infelizmente, o País
continua, todos os anos, contando os mortos por essa doença. Não era mais para
haver mortes por dengue, salvo raríssimas exceções. Em relação às três doenças,
apenas a dengue tem vacina já no mercado e outras duas ainda sendo testadas.
Contra a chikungunya e zika, apenas a prevenção pode proteger a
população", alerta.
Diante de
tantos desafios, a ciência busca solução para, se não acabar com o Aedes
aegypti, conseguir acabar com a força da fêmea de disseminar as doenças. Uma
delas, é o uso da bactéria chamada wolbachia, que é inofensiva aos humanos e
impede os mosquitos de transmitirem os vírus. A iniciativa faz parte de um
projeto internacional chamado "Eliminar a Dengue: Nosso Desafio",
liderado pela Universidade de Monash, na Austrália, e trazido para o Brasil
pelo pesquisador Luciano Moreira, da Fundação Oswaldo Cruz.
Rivaldo
adianta que os primeiros resultados demonstram que a fêmea com a bactéria a
transmite naturalmente para os filhotes. Além disso, se a fêmea não tem a
bactéria, mas é fecundada por um macho com a Wolbachia, ela fica estéril: os
ovos não viram novos mosquitos. "Mas, ainda é cedo para contarmos com
isso".
O Ceará
realiza mobilização permanente no combate ao Aedes aegypti, com investimento
anual de R$ 5 milhões, informa a Secretaria de Saúde do Estado (Sesa). Entre as
principais ações, que conseguiram reduzir os casos graves da dengue, a criação
do Comitê Gestor de Políticas de Enfrentamento à Dengue, Zika e Chikungunya;
implantação e monitoramento de Brigadas de Controle do mosquito em prédios
públicos estaduais e federais; distribuição de telas de nylon para cobertura de
grandes depósitos; a aquisição de 230 pulverizadores costais motorizados para
uso em municípios com casos de arboviroses.
Saiba mais
No mundo, o
Aedes aegypti é chamado de mosquito da febre amarela. No Brasil, é conhecido
como vetor da dengue - e, mais recentemente, também da zika e da chikungunya.
Considerado
uma das espécies de mosquito mais difundidas no planeta pela Agência Europeia
para Prevenção e Controle de Doenças, o - nome que significa "odioso do
Egito" - é combatido no país desde o início do século passado.
A partir de
meados dos anos 1990, com a classificação da dengue como doença endêmica,
passou a estar anualmente em evidência. Isso ocorre principalmente com a
chegada do verão, quando a maior intensidade de chuvas favorece sua reprodução.
Fonte: Diário do Nordeste
Por Lêda Gonçalves - Repórter
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