Três em cada quatro crianças que trabalham no NE são negras ou pardas

Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgada ontem pelo IBGE
No cruzamento da avenida Antônio Sales com Desembargador Moreira, pelo menos quatro meninos trabalham no semáforo TATIANA FORTES

Cerca de 79 mil crianças de cinco a 13 anos no Nordeste eram vítimas do trabalho infantil em 2016. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a maioria das crianças encontradas em violação de direitos nessa faixa etária na região é do sexo masculino (57 mil) e se autodeclara preta ou parda (60 mil). Isso significa que três a cada quatro crianças em situação de trabalho infantil são negras. Os números estão na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgada ontem.

A prevalência também ocorre nacionalmente. Tanto no grupo etário de 5 a 13 anos quanto no de 14 a 17, havia um predomínio de pretos e pardos em relação aos brancos, representando no primeiro grupo 71,8% e no segundo, 63,2%. “Analisando essas características por grandes regiões, para todo o grupo investigado, o padrão de predominância dos pretos e pardos em relação aos brancos é mantido, com exceção da região sul, onde crianças e adolescentes brancos predominam na população ocupada. Tal fato ocorre pela forte predominância da população branca na região”, analisa a pesquisa.

Cenário em Fortaleza

Em Fortaleza, ao lado da irmã, de 7 anos, o menino de 8 oferece água na Praça do Ferreira: “É só um real na promoção”, enquanto se apressa em abrir o isopor para encontrar a mais gelada. Os meninos estudam e vão aos fins de semana à praça para ajudar a mãe que trabalha lá todos os dias.

O irmão das crianças, de 15 anos, aproveita o período de aproximação do Natal para vender gorros do Papai Noel. “Cada um sai a cinco reais”, conta o adolescente. Diferentemente dos mais novos, ele abandonou a escola e recebe remuneração pela venda.

Distante alguns quilômetros, é o sinal vermelho quem aciona a hora da atividade. Neste momento, um grupo de quatro meninos se distribui para dar conta dos para-brisas dos carros parados no semáforo da esquina das avenidas Antônio Sales e Desembargador Moreira. Maioria é menino

Na divisão por sexo na faixa etária de cinco a 13 anos, o estudo mostrou que, no Nordeste, 57 mil são meninos e apenas 22 mil são meninas.

Outro ranking em que a região também alcança altos índices é a média de horas semanais destinadas a atividade cujo rendimento ajudará em casa ou a atividades relacionadas a afazeres domésticos. No Nordeste, 9,3 horas diárias é a média de trabalho entre crianças e adolescentes de cinco a 17 anos. Entre as 538 mil crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil no Nordeste, menos de 5% estuda na rede privada de ensino. 95,7% dessas crianças estão na rede pública.

Segundo o procurador do Ministério Público do Trabalho no Ceará, Antonio de Oliveira Lima, os números podem ser bem maiores do que as cerca de 998 mil crianças e adolescentes brasileiros apontados pela pesquisa em situação de trabalho infantil. “Eles retiraram desse número crianças que trabalham para o próprio consumo e os afazeres domésticos, o que corta o número quase pela metade”, critica.

Ao mesmo tempo, ele destaca a quantidade significativa da redução do trabalho infantil no Nordeste em relação a números anteriores. “Foi uma redução de quase 35% e nos últimos anos vem reduzindo acima da média nacional”, aponta.

EDUARDA TALICY
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Sobre jaguarverdade

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