Apesar de não ser o autor do stêncil, Felipe Yarzon ouvia reclamações e propôs ao amigo Jemison Sousa, verdadeiro autor, de corrigi-lo
Quem anda por Fortaleza constantemente
é surpreendido com a frase “Vai dá certo”. Seja na parede, em caixas
telefônicas ou até mesmo em capacetes, a expressão já faz parte do
vocabulário local. Alguns até se aventuram na abreviação “vdc”, muitas
vezes acompanhada de outra expressão, formando a frase “Vai dar certo,
pivete”.
São mais de 700 frases espalhadas por
Fortaleza, Caucaia, Beberibe e Aracati. Mas o que incomoda à maioria das
pessoas é o erro na ortografia do verbo “dar”. Por isso, mesmo sem ser o
autor do stêncil, o publicitário Felipe Yarzon, de 30 anos, propôs a
correção da frase.
Há quatro anos ele registra sua arte em muros, caixas telefônicas, postes e até lixeiras. As mensagens chamam a atenção pela originalidade e surpresa que provocam.
Conhecido por frases como “Quer? Então queira de com força“; “Sinal fechou? Lembra do cheiro dela”; “Queria ter netos só para contar que te conheci” e “Bebi da paixão até você virar ressaca”,
muitas vezes o nome de Felipe Yarzon era ligado aos stêncils “Vai dá
certo” e, consequentemente, recebia reclamações em virtude
da ortografia errada.
“A ideia veio do número de reclamações
que a gente ouviu pelas ruas. E já que está errado, vamos consertar”,
sugere Yarzon, amigo do verdadeiro autor da frase, Jemison Sousa.
O objetivo da mudança é passar uma tinta por cima da frase e fazer
outra, com a ortografia correta. “Lendo errado, deu certo. Mas vai ficar
melhor”, aposta Yarzon. Jemison e Yarzon são amigos desde 1997, quando
estudavam no Colégio Militar.
Deu certo
Jemison Sousa, autor do stêncil “Vai dá certo”, começou a pintar a
frase há 1 ano e meio. “Vi alguns amigos fazendo intervenções e resolvi
aderir ao movimento com o propósito de passar uma mensagem positiva, principalmente para quem está no trânsito caótico de Fortaleza”, explica.
Ele conta que sempre recebeu reclamação por causa da ortografia, mas
se defende. “Existe uma coisa chamada licença poética. É uma gíria e está escrito assim de propósito”.
Todavia, se incomoda quando criticam a sua escolha. “Essas pessoas
acham que eu nunca estudei? Eu não sei que está escrito errado? Estudei
no melhor colégio de Fortaleza, sei muito bem como se escreve”,
defende-se.
Engana-se quem pensa que pode sair espalhando frases e grafites de
qualquer forma. As ruas também possuem regras, como não passar por cima
de pichação e não apagar um grafite existente. E foi assim que Yarzon
sugeriu a correção. “Não só conversei com ele como o levei para corrigir
as frases comigo”, acrescenta. Para ele, toda expressão é válida.
“Qualquer intervenção vale mais do que as propagandas irregulares que a
gente encontra”, opina.
As correções iniciaram nas avenidas Senador Virgílio Távora e Beira Mar. Porém, Jemison não
pretende corrigir todas as frases, e sim realizar novas intervenções,
em lugares que ainda não existem, da forma correta. Ele conta que, no
início, a frase era reconhecida como gíria de favela, e que, depois de
espalhada pelas ruas, as pessoas passaram a percebê-la e usá-las,
inclusive reproduzindo em redes sociais.
Quando está pintando nas ruas, as
pessoas também vão até ele, agradecendo e parabenizando pela iniciativa.
“Fico feliz pelos depoimentos de pessoas que estavam passando por
dificuldades, viram a frase e isso deu esperança a elas”, conclui.
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