"Podemos
fazer um paralelo entre mensalão e Lava Jato de maneira mais
aprofundada neste momento", disse o delegado Luciano Flores de Lima.
(Foto: AE)
Em entrevista coletiva concedida nesta manhã (23), após
deflagração da Operação Repescagem, a força-tarefa da Lava Jato disse
que o esquema de lavagem de dinheiro funcionava desde o mensalão e, a
despeito dos casos serem distintos, os personagens dos dois esquemas
criminosos se repetem. Na operação deflagrada, foram emitidos seis
mandados de busca, duas prisões preventivas e um pedido de prisão
temporária.
O ex-assessor parlamentar de Janene foi preso e está sendo
encaminhado para Curitiba, onde se concentra a coordenação dessa
operação. Delegado da Polícia Federal Luciano Flores de Lima, da
força-tarefa da Lava Jato, disse na entrevista que a participação de
Genu no esquema era assessorar parlamentares do PP, articulando com o
doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa
para a manutenção do recebimento de propina.
"O petrolão não nasceu do mensalão, mas em determinado momento os
dois esquemas se cruzaram em determinado ponto da estrada e o mesmo
know-how do mensalão foi seguido na Petrobras, em razão do grande volume
de recursos da estatal para ser sugado no esquema de corrupção", disse
Flores.
Na semana passada o juiz Sérgio Moro condenou o ex-ministro da Casa
Civil José Dirceu a 23 anos de prisão e apontou que era "perturbador" o
fato de Dirceu ter continuado a receber valores ilícitos do esquema da
estatal petrolífera, inclusive durante o julgamento do mensalão - que em
2012 condenou o petista a 7 anos e onze meses de prisão por corrupção
passiva.
Agora, as investigações da Polícia Federal apontam que Genu também
teria recebido dinheiro ilícito do esquema da petrolífera estatal
enquanto estava sob julgamento do STF. Na coletiva, a força-tarefa
informou que foram identificados R$ 7 milhões nas contas de parentes de
Genu e que ele recebia valores em espécie por intermédio do doleiro
Alberto Youssef. Genu foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF)
no processo do mensalão, em 2012, mas após recurso, em março de 2014,
foi absolvido do crime de lavagem de dinheiro. Ele também tinha sido
denunciado por corrupção passiva, mas a pena para o crime prescreveu.
A força-tarefa da Lava Jato disse na coletiva que as investigações
apontam que o ex-assessor parlamentar de Janene teria recebido R$ 2
milhões em propina. Apesar de Genu nunca ter exercido mandato
parlamentar, ele sempre esteve próximo de Janene, considerado um dos
mentores do esquema do mensalão. "Sua prisão tem peso estratégico para a
Lava Jato porque ele era um dos principais cabeças envolvendo o
recebimento de vantagens indevidas do PP", disse o procurador Diogo
Castor Mattos.
Outro envolvido no esquema, o empresário Humberto do Amaral Carrilho
tem mandado de prisão temporária em aberto, mas está fora do país. A
Polícia Federal diz que já sabe onde ele está, mas não revelou o local.
Na coletiva, a força-tarefa da Lava Jato disse também que Genu seria
responsável por intermediar o pagamento de propinas dentro da estatal
petrolífera e que ele era beneficiário de até 5% do que era pago a
partir de contratos firmados no setor de Abastecimento da estatal.
Deboche
O delegado da Polícia Federal Luciano Flores de Lima, da equipe da
Operação Lava Jato, afirmou que os recebimentos de propina do
ex-assessor da presidência do PP João Cláudio Genu durante julgamento do
processo no mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF), em 2012, foi
"verdadeiro deboche" à Justiça e à polícia. "Mesmo durante essas fase,
em que estava sendo processado e condenado pela maior corte do País,
como verdadeiro deboche à Justiça e à polícia, ele continuava praticando
crimes e recebendo propina", afirmou Lima.
"Podemos fazer um paralelo entre mensalão e Lava Jato de maneira mais
aprofundada neste momento", disse o delegado. Genu foi condenado em
2012 por lavagem e corrupção no mensalão. Sua pena foi extinta por
prescrição e por recursos, posteriormente.
Segundo o delegado, a operação desta segunda "demonstra que apesar de
existir um esquema gigantesco de corrupção instaurada há muito tempo no
Brasil, destinado a sangrar os cofres públicos em especial a Petrobras,
e mesmo essas pessoas já tendo sido processadas e até mesmo condenadas
elas ainda continuam sendo investigadas e, se for o caso, presas, como
na data de hoje".
Politeia
O ex-assessor do PP João Cláudio Genu teve decretada a prisão
preventiva, sem prazo de duração. Segundo a decisão do juiz federal
Sergio Moro, "João Cláudio de Carvalho Genu teria recebido propinas e
participado de forma relevante no esquema criminoso da Petrobras ao
mesmo tempo em que estava sendo processado criminalmente perante o
Egrégio Supremo Tribunal Federal por crimes de corrupção passiva e de
lavagem de dinheiro no âmbito da Ação Penal 470".
Na Operação Lava Jato, Genu já havia sido alvo de busca e apreensão
na Operação Politeia, determinada pelo Supremo Tribunal Federal a pedido
da Procuradoria-Geral da República em julho de 2015.
(Com AE)
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