É muito comum que as pessoas se queixem de constipação – o famoso “intestino preso”, como dizem por aí. Agora vou contar uma coisa interessante: o número de pessoas que sofrem de constipação pode ser muito maior, porque, na maioria das vezes, elas nem sabem que são constipadas.
Quer ver? Quantas vezes por dia você acha normal ir ao banheiro? Se disse uma vez só, sinto dizer que você sofre com esse problema!
Obviamente, não está tão ruim quando comparado àqueles indivíduos que chegam a ficar um dia ou mais sem passar nem perto do vaso sanitário.
 
Para você saber, o normal é ir de 2 a 4 vezes por dia no banheiro. Sei que você pode até estar espantando: quando comento isso, as pessoas ficam chocadas!

Ou seja, o que era normal, agora é anormal. Isso certamente é motivado pela pouca ingestão de fibras, muito alimento refinado, industrializado e pouco exercício.
Se algo é certo, é que estamos ingerindo pouca fibra, em comparação com o que se consumia no passado.

A importância da fibra alimentar

A fibra alimentar é bem mais importante do que se supunha. Hoje sabemos da sua importância não só no transporte do bolo fecal, mas especialmente para a nutrição e manutenção de uma flora intestinal adequada. Isso tem grande impacto na sua saúde, podendo repercutir nos seus filhos e até nos netos, causando extinção da flora bacteriana.

Permanecer por muito tempo consumindo poucas fibras causa tamanha alteração de flora bacteriana, que o problema pode ser passado para os filhos.
Em alguns casos, mesmo que se procure reparar isso, com uma alimentação rica em fibras, ainda há o risco de haver grande dificuldade de recolonizar a sua flora bacteriana.

Pouca fibra na dieta e extinção da flora intestinal

Estudos prévios têm confirmado a diminuição da flora intestinal, quando se compara o microbioma da população do mundo moderno com os índios e caçadores coletores do passado. De forma geral, as pessoas que comem uma alimentação mais rica em vegetais apresentam uma flora microbiana mais diversificada.

As fibras são combustível para bactérias benéficas produzirem ácidos graxos de cadeia curta que ajudam a regular o seu sistema imunológico. Essas gorduras e ketonas ajudam a aumentar células T reguladoras, que ajudam a prevenir a resposta imunológica.

Quantidade de fibras diárias

Deve-se consumir de 30 a 50 gramas de fibra para cada 1000 calorias, para se alimentar essas bactérias boas. Evita-se, assim, que a sua saúde piore consideravelmente.

Além disso, consumir poucas fibras causa o chamado “intestino poroso”, que permite que partículas não digeridas no intestino cheguem à corrente sanguínea, podendo causar reações alérgicas e outros problemas, como Diabetes tipo 1, Doença Celíaca, Doença Crohn e Síndrome do Colón Irritável.

A flora bacteriana dos bebês

A flora bacteriana do bebê é influenciada pela forma como ele nasce. No parto normal, muito dessa flora materna é transferida para o bebê, conforme ele passa no canal vaginal.
Por outro lado, a cesárea apresenta efeitos negativos na flora bacteriana do bebê, pela falta de exposição às bactérias do canal vaginal. Com isso, haverá importante impacto na microflora do bebê, com consequências para a sua saúde. Nesse caso, aumentam os riscos de asma, obesidade, Diabetes tipo 1 e Autismo.

Amamentação

A falta de amamentação piora a situação da microflora do bebê. O leite materno contém oligossacarídeos que promovem a saúde da flora intestinal, o que não ocorre quando se usa fórmulas infantis comerciais.
Se a criança passa por essas duas condições acima (parto por cesária e falta de amamentação natural), sua flora intestinal certamente estará mais comprometida.

Flora alterada e disfunção neurológica nos bebês

Os estudos mostram que quase todas as mães de crianças autistas apresentam flora intestinal alterada. Só isso já causaria problemas para a microflora do bebê…

E nesses casos, quando eles nascem também por cesariana, os riscos são ainda maiores, pois se somam os 2 fatores: a falta de qualidade da flora da mãe e a falta de contato com a flora bacteriana do canal vaginal.

Bebês que desenvolvem flora intestinal alterada têm maior chance de terem reações a vacinas e ativarem o seu sistema imunológico para problemas crônicos de saúde, como o autismo.
Portanto, aconselho:
  • Estabelecer uma flora intestinal normal nos primeiros 20 dias de vida do bebê para que haja a correta maturação do seu sistema imunológico.
  • Aos adultos, consumir alimentos crus, muita fibra alimentar, alimentos fermentados e probióticos.
  • Atividade física, pois atletas têm uma diversidade maior de bactérias intestinais, quando comparados aos sedentários. Em especial, quem pratica exercícios têm a bactéria AKKERMANSIACEAE, que está correlacionada com redução de risco de obesidade e inflamação sistêmica. Certamente, sua presença tem a ver com uma alimentação com muita proteína, frutas e vegetais e pouco alimento refinado.
  • Tenha atenção aos antibióticos. Eles são um fator que promove desequilíbrio da flora intestinal, pois age de forma indiscriminada, destruindo bactérias boas e bactérias ruins. Isso cria Disbiose intestinal, que compromete a digestão e aumenta o risco de intestino poroso.
  • Cuidado com as medicações para azia. Segundo estudo, as medicações para azia e queimação, como os inibidores de bomba de prótons, podem causar alteração de flora intestinal.
  • Regularidade é importante. Desta forma, não se acumula toxinas que são reabsorvidas na sua corrente sanguínea.

O que causa constipação?

  • Alimentação pobre em fibras vegetais, alimentos refinados, processados e açúcar. As fibras são importantes, pois movem o bolo fecal através do intestino e promove a evacuação;
  • Uso crônico de laxativos. Você pode estar criando dependência deles, o que dificulta recuperar a sua função fisiológica. Com isso, pode lesar nervos, músculos e tecido ao longo do intestino;
  • Hipotireoidismo. Uma glândula tireoide hipoativa pode ser a causa;
  • Síndrome do cólon irritável. Causa espasmos no seu cólon, o que compromete a velocidade de transito do bolo fecal;
  • Ignorar o desejo de ir ao banheiro. Se com frequência você ignora os estímulos de movimentação fecal, ocorre inibição do estimulo fecal. Mais água é absorvida das fezes, que se tornam ressecadas e duras, dificultando cada vez mais a evacuação;

Soluções naturais

  • Checar se apresenta hipotireoidismo e corrigi-lo, se necessário. Este é um problema muito comum;
  • Consuma uma alimentação rica em fibras, com cerca de 50g de fibras por 1000 calorias consumidas e adicione linhaça orgânica na sua rotina alimentar;
  • Psylium orgânico é uma fibra adaptogênica, que ajuda a amolecer as fezes caso você esteja constipado;
  • Se alimente de acordo com o seu tipo metabólico;
  • Pratique exercícios regularmente. Isso ajuda a função intestinal e estimula a circulação, promovendo um bom funcionamento intestinal;
  • Use probióticos. Um produto de alta qualidade ajuda na restauração da boa ecologia intestinal, que melhora a digestão e contribui para um melhor transito intestinal;
  • Magnésio pode ser útil, acelerando o transito intestinal;
  • Vinagre de maçã, além de melhorar a digestão, melhora o funcionamento do intestino;
  • Semente de Chia.
Referências bibliográficas:
  • Nutritional Neuroscience 7(3):151-161, June 2004
  • Can J Gastroenterol. 2006 Apr; 20(4): 255–256
  • NEJM Journal Watch November 15, 2015
  • Immunology and Cell Biology January 12, 2016
  • Medical News Today July 5, 2013
  • The Autism File; 2009
  • Pediatrics Vol. 113 No. 6 June 1, 2004
Fonte: Dr. Rondó