Eduardo Anizelli/Folhapress | ||
A dona de casa Aline Ferreira com o filho que nasceu com microcefalia em Pernambuco |
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"Um pesadelo." É assim que o virologista e professor da USP Paolo
Zanotto define a situação do Brasil com relação ao aumento de casos de
microcefalia, supostamente por causa do vírus zika.
Isso porque nunca, em nenhum lugar do mundo, foram feitos estudos sobre a
capacidade do vírus de causar tal má-formação. Mais do que isso: não
havia nem suspeita de que isso pudesse acontecer.
Segundo especialistas, serão necessários entre seis meses e um ano para
que trabalhos sobre o tema encontrem resultados. Ou seja, será
necessário trocar o pneu enquanto o carro anda.
O que se especula até agora é isto:
1) O mecanismo pelo qual o zika afeta o feto seria similar ao de outros
vírus conhecidos, como o da rubéola, HIV, herpes e citomegalovírus
–todos podem causar malformações.
Por outro lado, a relação entre o vírus zika e a microcefalia seria
inédita entre os arbovírus –aqueles transmitidos por artrópodes (como os
mosquitos).
2) A falta de detecção anterior da relação entre o zika e microcefalia
se deveria à falta de escala das epidemias anteriores do vírus.
Tal efeito não foi observado em outros locais afetados, como a ilha de
Yap, na Micronésia, em 2007, ou na Ilha de Páscoa, entre 2013 e 2014. A
hipótese é que nesses locais não havia o fator escala. "Pela primeira
vez, o vírus encontrou um grupo de milhões de pessoas susceptíveis no
seu caminho", afirma o professor de virologia da Faculdade de Medicina
de São José do Rio Preto Mauricio Nogueira.
3) O zika seria transmitido verticalmente (ou seja, da grávida para o
feto) via placenta após uma infecção no primeiro trimestre de gestação,
quando o sistema nervoso do feto ainda está em formação.
Provavelmente a futura célula nervosa possui em sua superfície
receptores que favorecem a infecção pelo vírus, que lá se aloja e e se
multiplica, usurpando a maquinaria celular e coibindo o crescimento e a
conexão entre as células.
Como resultado, o cérebro acabaria ficando diminuto, o que reflete em
uma caixa craniana menor e em complicações como dificuldade de
locomoção, de raciocínio, de fala, de aprendizado, entre outras.
EVIDÊNCIAS
O que ficou constatado até agora é que havia material genético viral no líquido amniótico de grávidas de fetos com microcefalia.
Além disso, há forte coincidência temporal e espacial entre o zika e as
malformações –o epicentro demográfico, nos dois casos, foi o Estado de
Pernambuco.
Para Zanotto, é bastante difícil atribuir o fenômeno, tal como ocorreu, a
um fator ambiental –a ingestão de substâncias tóxicas como álcool, por
exemplo, também pode causar microcefalia.
Não se sabe nem há estimativa confiável de quantas pessoas já tenham sido vítimas do zika.
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Dependendo de qual estágio da epidemia o país está, ela pode na verdade
já estar acabando no Nordeste. Por outro lado, ela pode nem ter chegado
estados do Sudeste -o verão pode trazer um grande aumento de casos de
zika, chikungunya e dengue.
O zika, aliás, é muito próximo da dengue. Os dois vírus são do gênero
dos flavivírus, grupo ao qual pertence também o vírus da febre amarela.
Isso cria um complicador: a resposta imune cruzada gerada pelos vírus da
dengue e da zika. Um organismo que já tenha sido infectado por um vírus
da dengue tem anticorpos contra esse vírus. Eles não funcionam tão bem
contra outros tipos de dengue, nem contra o vírus zika.
O problema é que eles funcionam "um pouquinho" e isso pode fazer com
que, enquanto o organismo percebe o inimigo como um velho conhecido, na
verdade ele está se multiplicando.
"A situação atual deve nos fazer a pelo menos rediscutir os testes para vacinas da dengue", alerta Zanotto.
Segundo ele, uma população que tenha sido vacinada pode estar ainda mais susceptível à infecção por zika.
"Controlar o Aedes é a chave para resolver zika, dengue e chikungunya,
mas há mais de 30 anos estamos falando de controle de mosquito e cada
ano está pior que o anterior", afirma Nogueira.
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