O presidente afastado da Câmara está acuado por antigos aliados (Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr)
O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) perdeu apoio do Palácio do
Planalto, do PMDB e do Centrão (maior bloco parlamentar informal do
Congresso) na luta para manter o mandato. Antes poderoso, o presidente
afastado da Câmara está acuado por antigos aliados, que o pressionam
para que renuncie ao cargo na direção da Casa, e pela Operação Lava
Jato. Cunha vê a preservação do mandato como única forma de não ser
preso - ele teme que seus processos sejam remetidos a primeira instância
e fiquem sob cuidados do juiz Sérgio Moro.
Na semana passada, Cunha foi procurado por dois parlamentares do
Centrão, grupo que ajudou a criar. Ambos o aconselharam a renunciar,
pelo bem do governo do presidente em exercício Michel Temer. Cunha se
descontrolou e, aos gritos, disse que jamais tomará essa atitude. A
medida seria vista como sinal de enfraquecimento, e isso poderia tornar
inevitável a cassação em plenário.
Na quinta-feira, dia em que a mulher dele, a jornalista Cláudia Cruz,
virou ré na Lava Jato por decisão de Moro, o deputado mandou mensagens a
integrantes do Centrão dizendo que não pode abrir mão do mandato porque
o juiz federal promoveria um "cerco" a ele e a sua família.
A estratégia para tirar Cunha de cena vem sendo chamada nos
bastidores do governo e do Congresso de "operação mão do gato", numa
dupla referência ao gesto do felino de bater e recolher o braço
imediatamente e ao ato de agir sorrateiramente. O medo do PMDB e do
Planalto é de que Cunha, num gesto de vingança, possa fazer acusações
contra Temer e o partido. No Planalto, a avaliação é de que Cunha se
tornou um fator que só atrapalha o governo.
Criador e criatura
No Centrão, a convicção é de que a "criatura se tornou maior do que o
criador", conforme a definição de um líder ao falar do grupo e de
Cunha. O objetivo do bloco é manter o poder sobre o comando da Câmara e
fazer o sucessor do presidente afastado da Casa.
Líderes do Centrão avaliam ser possível vencer a votação sobre o
processo que pesa contra Cunha no Conselho de Ética da Câmara, prevista
para amanhã, e aprovar uma pena mais branda, como suspensão por três
meses. Para isso, contam com o voto da deputada Tia Eron (PRB-BA), que
não assume publicamente a defesa da cassação do mandato.
No plenário, porém, o prognóstico é desfavorável ao peemedebista. Por
isso, parte do Centrão vê como alternativa mais viável que o presidente
afastado renuncie ao cargo - o gesto poderia convencer parlamentares a
aceitarem a pena branda.
"Hoje a situação está muito difícil. Chegou a um ponto muito
desgastante. Fica difícil apoiar", afirma o líder do PR, Aelton Freitas
(MG). Segundo ele, no plenário será muito difícil para os deputados que
sustentam Cunha nos bastidores manter esse apoio, pois a votação será
aberta.
Vice-líder do PMDB e membro da "tropa de choque" de Cunha, o deputado
Carlos Marun (MS) admite que haverá votos contrários ao peemedebista
até na bancada, mas avalia ser minoria. "Obviamente não é uma situação
fácil, haja vista a pressão externa."
No PP, o líder Aguinaldo Ribeiro (PB) apoia o presidente afastado da
Câmara nos bastidores, mas já é pressionado por seus deputados por sua
posição. "No momento em que o processo for à votação em plenário, a
maioria do PP não vota com Cunha. A maioria não está com ele. O pessoal
só não está manifestando isso em respeito ao líder", disse o deputado
Jerônimo Goergen (PP-RS), da bancada ruralista.
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No plenário, bastam 257 votos para a cassação de Cunha ser aprovada.
Hoje, nove partidos se declararam nesse sentido: PT, PC do B, PDT, Rede,
PSOL, DEM, PSDB, PSB e PPS, que somam 218 deputados. O Centrão tem
cerca de 220 parlamentares.
Além de articular a mudança no parecer do Conselho de Ética que pede
sua cassação, Cunha atua na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ)
para mudar as regras de votação do relatório no plenário e, com isso,
impedir que a recomendação por uma pena mais branda seja alterada para
uma punição mais dura. O processo por quebra de decoro foi aberto há
mais de 220 dias e tem como objeto a acusação de que Cunha mentiu ao
afirmar na CPI da Petrobrás, em 2015, que não possuía contas secretas no
exterior.
Fonte: (AE)
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