Em seu acordo de colaboração, o ex-vice-presidente da Caixa Fábio Cleto também revelou que o doleiro Lúcio Funaro tinha um bom relacionamento com toda a cúpula do PMDB – e que costumava citar o ministro Geddel Vieira Lima e o deputado federal Henrique Alves
O
roteiro da corrupção costuma ser invariável: via de regra, o
beneficiário do esquema é um agente público ou um político, responsáveis
por destravar a máquina pública. Fugindo à regra, o presidente afastado
da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), é acusado de embolsar
comissões sobre recursos desviados da Caixa Econômica Federal e também
de distribuir propinas em dinheiro vivo. De acordo com a delação
premiada do ex-vice-presidente do banco estatal Fábio Cleto, o
parlamentar "entregou diretamente ao depoente 40.000 reais em espécie em
10/08/2012, no apartamento funcional dele".
Cleto também recebeu dinheiro de Cunha. O ex-vice-presidente da Caixa
relata em sua delação ter recebido do parlamentar 520 000 reais em
espécie. Desse valor total, 120.000 reais foram entregues em Brasília,
entre 2012 e 2013. O restante, 400 000 reais, foi acertado em abril de
2014, quando um "portador indicado por Eduardo Cunha" deixou uma sacola
com dinheiro na portaria do prédio onde morava Cleto em São Paulo. Esses
recursos faziam parte de um negócio espúrio entre Cunha, Cleto e o
doleiro Lúcio Funaro -- que cobravam pedágio dos empresários que
pleiteavam recursos do Fundo de Investimento do Fundo de Garantia do
Tempo de Serviço (FI-FGTS), administrado pela Caixa e que investe o
dinheiro do trabalhador em projetos de infraestrutura.
Acerto com o governo Dilma - A origem do esquema de
desvio de recursos bilionários da Caixa teve início em meados de 2011,
com a nomeação de Fábio Cleto à vice-presidência do banco estatal. O
ex-executivo entrou na cota do PMDB após a indicação de Funaro, que
trabalhou diretamente com Cleto, e a anuência de Eduardo Cunha e do
deputado federal e ex-ministro Henrique Alves (PMDB-RN). O delator disse
que ouviu de Funaro que "o PMDB tinha direito a alguns cargos no
governo federal, no recém-iniciado governo da presidente Dilma". "Entre
esses cargos estaria a vice-presidência da CEF; que na época Funaro
também mencionou a presidência do Basa - Banco da Amazônia", afirmou
Cleto em seu depoimento. A sociedade formada entre PT e PMDB na Caixa
permitiu que fossem fraudados ao menos doze projetos do FI-FGTS, que
somam mais de 6 bilhões de reais.
Publicidade
Outros políticos - Em sua delação, Fábio Cleto
também revela que o doleiro Lúcio Funaro costumava dizer que tinha um
"bom relacionamento com toda a cúpula do PMDB" e com políticos de outros
partidos. Entre os nomes citados pelo suposto operador de Eduardo Cunha
estão Henrique Alves e o atual ministro Geddel Vieira Lima, da
Secretaria de Governo. Cleto não esclarece em quais circunstâncias os
peemedebistas foram mencionados -- e qual era a relação deles com
Funaro. "Acredita que havia uma troca de benefícios recíprocos entre os
políticos e Lúcio Bolonha Funaro", afirmou o ex-vice-presidente da
Caixa.
Ao esclarecer como foi indicado para o banco estatal, Cleto contou
que o seu currículo foi repassado por Funaro para Eduardo Cunha, que o
encaminhou para Henrique Alves, então líder do PMDB na Câmara em meados
de 2011. Chancelado pelo partido, o currículo de Cleto foi parar nas
mãos de Antonio Palocci, então ministro da Casa Civil e coordenador da
eleição da presidente Dilma Rousseff em 2010. Em poucos dias, o
ex-executivo foi chamado para uma entrevista com o então ministro da
Fazenda Guido Mantega, em seu gabinete em Brasília. "A conversa foi mais
técnica e não se abordou a questão da indicação política", relatou
Cleto. Alguns dias depois, "Funaro tinha informações de que Palocci
tinha entrado em contato com Henrique Eduardo Alves, confirmando que o
currículo havia sido aceito". Dali em diante, foi implantado um esquema
"de corrupção e lavagem de dinheiro relacionado à Caixa Econômica
Federal", conforme relatou o procurador-geral da República, Rodrigo
Janot, em sua denúncia apresentada contra Eduardo Cunha, Henrique Alves,
Lúcio Funaro e Fábio Cleto.
Procurado, o presidente afastado da Câmara Eduardo Cunha diz que "não
tem o que falar" e que "desmente o fato". Além disso, afirmou que não
conhece o conteúdo da delação de Fábio Cleto. O deputado federal e
ex-ministro Henrique Alves negou as acusações e disse que a indicação de
Fábio Cleto para a vice-presidência da Caixa foi feita pela bancada do
PMDB. "Como líder naquela época, apenas formalizei. O nome dele foi
submetido ao Ministério da Fazenda", disse. "Nunca tive qualquer relação
com ele (Fábio Cleto)", afirmou Alves. O ministro Geddel Vieira Lima e o
advogado Daniel Gerber, que defende Lúcio Funaro, não retornaram.
0 comentários:
Postar um comentário