A
defesa de Dirceu pediu o arquivamento da investigação sob a alegação de
que um depoimento de um dos irmãos do ex-prefeito fora arquivado pelo
próprio STF ainda em 2002 (Foto: Paulo Lisboa/Estadão Conteúdo)
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux autorizou
nesta quinta-feira, 30, uma investigação contra o ex-ministro da Casa
Civil José Dirceu para apurar o suposto desvio de recursos da prefeitura
de Santo André entre 1997 e 2001, durante a gestão de Celso Daniel, que
foi assassinado em 2002.
O processo estava parado desde 2006 porque uma liminar impedia o
Ministério Público de São Paulo (MP-SP) de continuar as investigações.
Na época, o então ministro do STF, Eros Grau, decidiu suspender o
procedimento instaurado pelo MP-SP por entender que o órgão reutilizou
um depoimento colhido em uma investigação que havia sido arquivada pela
Justiça.
A procuradoria-geral de Justiça de São Paulo, no entanto, se
manifestou dizendo que se tratavam de provas novas. As suspeitas são de
que Dirceu teria recebido propina desviada de Santo André para abastecer
campanhas políticas do PT na época em que ele era presidente nacional
do partido.
O esquema foi mencionado pelo irmão de Celso Daniel, João Francisco
Daniel, no processo que apura a morte dele. Outros depoimentos
reiteravam a suspeita de que Dirceu também tinha conhecimento da
arrecadação de propina em Santo André e não escondia o esquema em
reuniões no gabinete do prefeito.
João disse que o ex-ministro Gilberto Carvalho retirava malas de
dinheiro fruto de crime em Santo André e as entregava no escritório de
Dirceu. Além disso, na época, Waldomiro Diniz, ex-assessor de Dirceu e
lobista do ramo de jogos de azar, foi flagrado em um aeroporto recebendo
uma mala de dinheiro de Carlinhos Cachoeira, dono de casas de bingos
nos arredores de Brasília.
"Há que se frisar que os fatos apurados são da mais elevada
gravidade. Revela-se necessário apurar se tal fato tem correspondência
com a afirmação de João Francisco Daniel, feita em seu depoimento
judicial, no sentido de que Gilberto Carvalho retirava malas de dinheiro
oriundo dos delitos praticados pela quadrilha denunciada em Santo André
e as entregava no escritório de José Dirceu em São Paulo", escreve Fux.
O ministro foi designado relator do processo após a aposentadoria de
Eros Grau. As investigações do caso serão conduzidas pelo Grupo de
Atuação Especial Regional para Repressão ao Crime Organizado
(Gaerco/ABC).
Crime político. Familiares de Celso Daniel defendem a tese de que o
assassinado do ex-prefeito de Santo André foi crime político. Segundo a
hipótese, ele teria sido morto para evitar denúncias sobre esquemas de
corrupção em financiamento de campanhas do PT e de aliados.
Em uma das fases da Lava Jato, os investigadores afirmaram haver
evidências de envolvimento de Dirceu e Gilberto Carvalho no caso da
morte de Celso Daniel. A chamada Carbono 14 apontou elo entre o
assassinato em Santo André e o esquema de corrupção da Petrobrás.
Dirceu e Gilberto Carvalho negam participação no esquema em Santo
André. O primeiro foi condenado no julgamento do mensalão, em 2013, e,
atualmente, está preso em Curitiba depois de também ter sido implicado
no esquema investigado na Operação Lava Jato. (AE)
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