Joel Silva/Folhapress | ||
Operários trabalham na limpeza da margem do leito de transposição do rio São Francisco, no município de Petrolina |
Sérias dúvidas sobre a capacidade do rio São Francisco
de gerar água suficiente para a bilionária obra da transposição fizeram
o governo lançar um novo programa de revitalização do rio.
Batizado de Novo Chico, conforme antecipou o "Painel" da Folha, o
programa visa terminar obras de saneamento nas cidades na bacia do rio,
desassorear o leito e recuperar mananciais, entre outras intervenções.
Estão acertados gastos de, no mínimo, R$ 10 bilhões até 2026.
Mas o valor vai aumentar porque o governo ainda trabalha no orçamento de
algumas intervenções, como dragagem, e também pedirá aos Estados da
região que invistam mais recursos no projeto. O presidente interino,
Michel Temer, deverá ir à região para se reunir com governadores para
tratar do tema.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
A revitalização do rio foi anunciada pelo governo do ex-presidente Lula
com a obra dos canais da transposição, como forma de reduzir a
resistência dos opositores ao desvio das águas.
Mas, quase dez anos depois, o governo já gastou R$ 10 bilhões na obra
dos canais e R$ 2,2 bilhões na revitalização, e nenhuma delas está
pronta. Além disso, em ambas há suspeitas de desvio de recursos,
corrupção e ineficiência. A construção dos canais é alvo da Lava Jato.
No caso da revitalização, os desvios de recursos estão em apuração no
TCU (Tribunal de Contas da União). No processo, o tribunal aponta para
problemas num dos principais projetos para a revitalização do rio, que é
o saneamento das cidades do semiárido. Segundo o TCU, num conjunto de
cerca de 194 obras, 74 estavam paradas ou nem começaram.
Em 54 projetos prontos, a maioria não atingiu o objetivo de fazer chegar mais água para a população.
MUDANÇAS
O governo interino de Michel Temer agora promete fazer funcionar, de
fato, um comitê gestor para integrar as ações de vários ministérios, dos
Estados e municípios e do setor privado. Segundo o presidente do Comitê
de Bacia do Rio, Anivaldo Miranda, além da descoordenação, não houve
participação da sociedade na elaboração do projeto anteriormente e, por
isso, ele não deu certo.
"Se nada for feito ou se for feito de forma tímida, a tendência é que os
problemas de degradação socioambiental do rio aumentem a ponto em que
chegue a ser irreversível, e isso será um desastre."
Sem a revitalização, a vazão do rio é cada vez menor.
Mesmo com as chuvas deste ano, Sobradinho, a principal represa, ainda
está com 25% da capacidade. Segundo João Suassuna, pesquisador da
Fundação Joaquim Nabuco, a qualidade da água do rio é cada vez pior e há
risco de que doenças de veiculação hídrica possam ser espalhadas pela
água que chegar aos canais da transposição.
"A cidade de Januária, que é banhada pelo rio, não bebe mais a água dele. Só de poço."
Por: DIMMI AMORA E VALDO CRUZ
DE BRASÍLIA
DE BRASÍLIA
0 comentários:
Postar um comentário