Relatório da Human Rights Watch indica 645 mortes só em 2015.
Segundo ONG, agentes relatam medo de denunciar execuções.
Relatório
divulgado nesta quinta-feira (7) pela ONG Internacional Human Rights
Watch indica que a polícia do Rio de Janeiro matou mais de 8 mil pessoas
na última década, incluindo pelo menos 645 pessoas em 2015. Apesar
do número oficial de homicídios cometidos pela polícia, que alcançou
mais de 1.300 em 2007, ter caído para cerca de 400 em 2013, o número
voltou a crescer desde então, chegando a 645 em 2015 e 322 de janeiro a
maio de 2016, de acordo com os últimos dados disponíveis.
Durante supostos “confrontos” reportados entre 2013 e 2015, a polícia
do Rio matou cinco vezes mais pessoas do que feriu, na avaliação da ONG o
contrário do que se poderia esperar nessas situações. Em 2015, para
cada policial morto em serviço no Rio de Janeiro, a polícia matou 24,8
pessoas, mais que o dobro do que na África do Sul e uma média três vezes
do que a dos EUA.
A
Human Rights Watch também afirma que encontrou provas críveis em 64
casos que policiais procuraram encobrir casos de uso ilegal da força
letal. De acordo com autoridades do sistema de justiça local, esses
casos refletem um um problema muito mais amplo. Eles disseram que um
grande número de “confrontos” relatados por policiais no estado nos
últimos anos foram de fato execuções extrajudiciais. Estatísticas
oficiais reforçam essa conclusão.
Quase todos os 64 casos foram relatados como “confrontos” pela polícia.
Todavia, em pelo menos 20, laudos necroscópicos demonstraram que as
vítimas foram baleadas à queima-roupa. Em outros casos, depoimentos de
testemunhas e outros exames periciais indicaram que não houve confronto.
A ONG não poupa críticas às investigações da Polícia Civil e ao MP para
investigar as omissões de execuções. "Policiais responsáveis por
execuções e acobertamentos raramente são levados à justiça. A polícia
civil tem conduzido investigações lamentavelmente inadequadas.
Entretanto, a responsabilidade de acabar com a impunidade nesses casos
é, em última instância, do Ministério Público do estado do Rio de
Janeiro, que tem competência constitucional para realizar o controle
externo da atividade policial, fiscalizando o trabalho da polícia civil,
bem como conduzindo suas próprias investigações", disse a Human Rights
Watch.
Medo de denunciar
O relatório de 117 páginas foi intitulado “‘O Bom Policial Tem Medo’: Os Custos da Violência Policial no Rio de Janeiro”. Segundo a Human Rights Watch, ele "documenta como o uso ilegal da força letal por policiais tem contribuido para o desmantelamento dos ambiciosos esforços do estado para melhorar a segurança pública".
O relatório de 117 páginas foi intitulado “‘O Bom Policial Tem Medo’: Os Custos da Violência Policial no Rio de Janeiro”. Segundo a Human Rights Watch, ele "documenta como o uso ilegal da força letal por policiais tem contribuido para o desmantelamento dos ambiciosos esforços do estado para melhorar a segurança pública".
“O Rio enfrenta um problema sério de criminalidade violenta, mas
executar suspeitos não é a solução”, disse Maria Laura Canineu, diretora
da Human Rights Watch no Brasil. “Essas execuções colocam as
comunidades contra a polícia e comprometem a segurança de todos”.
Para o relatório, a Human Rights Watch afirma ter entrevistado mais de
30 policiais do Rio, incluindo vários que descreveram suas próprias
experiências com o uso da força letal, inclusive dois que admitiram
direta participação em execuções. Um policial descreveu uma operação em
que um colega executou um suposto traficante de drogas enquanto ele
estava ferido no chão. Outro descreveu uma operação deflagrada com o
propósito de matar, não prender, suspeitos de integrarem facções
criminosas.
Policiais disseram que não denunciariam os crimes de seus colegas por
medo de também serem mortos. “(Eles) não pensariam um milésimo de
segundo para me matar ou a minha família”, teria dito um agente.
Segundo a organização, o estado do Rio de Janeiro prometeu avanços na
segurança pública em preparação para as Olimpíadas, mas não fez o
suficiente para resolver o problema das execuções extrajudicias
cometidas pela policia. A questão das mortes de autoria policial são
classificados pela organização como "um obstáculo central para a um
policiamento mais efetivo".
Fonte: Do G1 Rio
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