A carta tem seis páginas e foi publicada por Cristina nessa segunda, 29, em seu site (Foto: Ricardo Stuckert/ Instituto Lula)
Em
carta enviada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à
ex-presidente da Argentina Cristina Kirchner, o petista classifica o
processo de impeachment de Dilma Rousseff como "inconstitucional" e fala
que a situação é uma "conspiração" para partidos derrotados assumirem o
poder. Ele ainda acusa o PSDB de pedir o cancelamento do registro do PT
na Justiça para impedi-lo de ser candidato a presidente em 2018. A
carta, escrita em espanhol e assinada por Lula com data de 26 de agosto,
tem seis páginas e foi publicada por Cristina nessa segunda, 29, em seu
site.
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No documento, Lula afirma que o processo de impeachment é
inconstitucional e completamente arbitrário contra Dilma. Para o
petista, a situação é fruto de uma conspiração de partidos derrotados
nas últimas eleições com grandes grupos midiáticos e se configura contra
as regras democráticas. O petista acusa "as forças conservadoras" de
impedir a continuidade de programas sociais do PT.
"No lugar de assumir a decisão soberana do eleitorado, voltando ao
seu trabalho de oposição e se preparando para disputar a próxima eleição
presidencial, como sempre havia feito o PT nas eleições que perdeu, os
partidos derrotados e os grandes grupos midiáticos se rebelaram contra
as próprias regras do regime democrático, começando a sabotar o governo e
a conspirar para apoderar-se do poder por meios ilegítimos", diz o
texto.
Segundo a carta, os responsáveis pela tentativa de afastar Dilma do
poder atacaram o governo, que se esforçava para redefinir a política
econômica em 2015, e ainda criaram um "beco sem saída" político e
institucional.
Lula repete os argumentos da defesa de Dilma que não há crime de
responsabilidade nos atos que ela é acusada e que os procedimentos
contábeis contidos na denúncia são idênticos aos adotados por "todos os
governos anteriores" e pelo próprio presidente interino Michel Temer nas
ocasiões em que substituiu Dilma na Presidência.
Luta aponta ainda que o PSDB, ao apresentar formalmente uma proposta
de cancelar o registro do PT, teme que ele possa ser eleito em 2018.
"Temem que, em 2018, em eleições livres, o povo brasileiro possa
eleger-me presidente da República, para resgatar o projeto democrático e
popular."
O ex-presidente fala que a corrupção foi combatida no governo do PT e
que denúncias contra "partidos conservadores" são sistematicamente
silenciadas e arquivadas. Ele escreve que juízes, fiscais e policiais
são obrigados a cumprir a lei, assim como todas as pessoas, e ninguém
pode ser publicamente condenado antes da conclusão do devido processo
legal. "E menos ainda por meio da fuga deliberada de informações
praticada pelas próprias autoridades com fins políticos", complementa
Lula.
O petista diz, na carta, que não teme nenhuma investigação e que são
"inadmissíveis" a divulgação de conversas telefônicas feitas por ele e o
uso das delações premiadas contra ele a troco da liberdade de presos.
Comentando a carta, Cristina Kirchner afirmou em seu site que
"qualquer coincidência com o que aconteceu e está acontecendo em nosso
país (a Argentina) não é casualidade". Ela acusa que há uma estratégia
"dura e pura" na América Latina contra os governos nacionais, populares e
democráticos e seus líderes políticos.
Cristina evocou ainda uma mensagem publicada pelo presidente da
Bolívia, Evo Morares, na internet. Na segunda-feira, 29, Morales
dirigiu-se à Dilma como "irmã" e escreveu em sua conta oficial no
Twitter que, com o processo de impeachment no Brasil, "pretendem conter a
rebelião de seu povo e expulsar os pobres, negros e mulheres do poder".
O boliviano afirmou ainda que os golpes de Estado atualmente são
parlamentares, judiciais e midiáticos. "Aos ex-presidentes de direito,
favorecem com um manto de impunidade. Aos presidentes de esquerda,
perseguição judicial e punição."
No sábado, 27, outro latino já havia se manifestado defendendo Dilma
Rousseff. O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, afirmou que o
processo de impeachment é uma "ofensa imperialista contra todos os
movimentos progressistas, contra a presidente Dilma Rousseff." (AE)
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