Aliados de Dilma já admitem, reservadamente, que não contam com votos suficientes (Foto: Lula Marques/ AGPT)
Em uma nova fase do processo que se inicia nesta terça-feira, 9,
considerada a "prévia" do impeachment da presidente afastada, Dilma
Rousseff, o governo do presidente em exercício, Michel Temer, e a
petista lutam por apoios para o julgamento decisivo, previsto para
ocorrer no final deste mês. Enquanto aliados do peemedebista buscam
consolidar a maioria que levou ao afastamento de Dilma em maio, os
defensores de Dilma trabalham para conquistar apoio de um grupo de
senadores que, ao menos publicamente, disse não ter se decidido pela
condenação ou absolvição dela.
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O foco das atenções, na sessão da sentença de pronúncia prevista para
começar às 9 horas desta terça-feira, sob o comando do presidente do
Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, são os 20 votos, de
acordo com o Placar do Impeachment, publicado pelo Grupo Estado, que
ainda constam como indecisos ou não quiser revelar seu voto no
julgamento de Dilma.
Aliados de Dilma já admitem, reservadamente, que não contam com votos
suficientes para impedir a aprovação da pronúncia, quando o Senado dirá
que o processo por crime de responsabilidade contra a presidente
afastada é válido. Para essa votação, basta a maioria simples de votos,
desde que ao menos 41 dos 81 senadores tenham registrado presença.
Contudo, a "prévia" do julgamento poderá dar uma indicação sobre o
julgamento definitivo de Dilma, quando são necessários ao menos 54 dos
81 votos dos senadores (dois terços do total). Pelo última atualização
do Placar do Impeachment, nenhum dos dois lados tem votos suficientes
para garantir uma vitória na próxima decisão - ao todo 43 senadores se
dizem a favor do impedimento da petista (11 a menos que o mínimo) e
outros 18 afirmam ser contra (10 a menos de se garantir uma absolvição
certa dela).
Em maio, Dilma foi afastada temporariamente do cargo por uma votação
que, se repetida futuramente, levaria à condenação dela: 55 favoráveis e
22 contrários. Entretanto, vários senadores ressalvaram na ocasião que
votariam para retirá-la momentaneamente do cargo, mas que isso não era
indicativo de condenação dela. Dos dois lados, o assédio recai agora
sobre senadores como Wellington Fagundes (PR-MT), Acir Gurgacz (PDT-RO),
Romário (PSB-RJ) e Otto Alencar (PSD-BA).
Ainda assim, Temer e aliados estão confiantes no resultado. A aposta
do governo é tentar chegar a 60 votos contra Dilma. Para tanto, o
presidente em exercício, em quase três meses, distribuiu cargos do
primeiro e segundo escalão, convocou senadores para discutir projetos e
liberação de recursos para obras em seus respectivos Estados e ainda
passou a contar com o apoio do presidente do Senado, Renan Calheiros
(AL), outrora desafeto histórico de Temer e resistente ao impeachment de
Dilma que, no entanto, passou a chancelar o governo do interino.
O Planalto e o próprio Temer atuaram junto a aliados do Senado para
minimizar o impacto das declarações de Marcelo Odebrecht publicadas pela
revista Veja deste final de semana. Em declarações à força-tarefa da
Operação Lava Jato, o empresário teria repassado R$ 10 milhões em
dinheiro vivo ao PMDB em 2014, a pedido do hoje presidente em exercício.
A um aliado no PMDB, Temer se defendeu dizendo que sua campanha foi
regular e, tranquilo, ainda pediu pressa mo julgamento a fim de
implementar como presidente efetivo uma agenda de retomada da economia
brasileira.
Para esse aliado, o efeito da delação de Odebrecht não "colou" em
Temer. E faz o seguinte raciocínio: a seu ver, não houve uma repercussão
de denúncia desse porte na véspera da votação da sentença de pronúncia
porque Dilma não se oferece mais como alternativa.
Aliados de Dilma no Senado, entretanto, dizem trabalhar nos
bastidores pelos votos dos indecisos. Na contabilidade deles, só
precisam de cinco ou seis votos - tendo como pressuposto de que teriam
ao menos 22 ou 23 de partida. Esperam, para tanto, amplificar na sessão
de hoje as acusações de que Temer, se for efetivado, será impedido de
ser investigado a respeito da delação de Marcelo Odebrecht assim como de
outras eventuais delações que estejam por vir. Também vão lançar mão de
manobras regimentais para tentar paralisar ou pelo menos retardar o
processo que, a partir de agora, será comandado por Lewandowski.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarca nesta
terça-feira em Brasília para reforçar a articulação por votos em favor
de Dilma. Contudo, aliados da presidente afastada andam descrentes
diante do fato de que Dilma teve seu principal discurso para reverter
uma provável condenação esvaziada na semana passada após o presidente do
PT, Rui Falcão, se posicionar contra a ideia de novas eleições. Essa
sugestão constará de uma carta que a presidente afastada pretende
divulgar aos senadores nesta semana. (AE)
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