Acordo foi negociado pelos senadores peemedebistas Renan Calheiros e Kátia Abreu (Foto:Jane de Araújo/ Ag Senado)
O
acordo que fatiou a pena da presidente cassada Dilma Rousseff surgiu de
uma proposta feita por sua defesa há três semanas, negociado pelos
senadores Renan Calheiros (PMDB-AL) e Kátia Abreu (PMDB-TO), e quase
naufragou por causa de um discurso inflamado de Lindbergh Farias
(PT-RJ). O presidente Michel Temer teria dado aval “como jurista”.
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Os peemedebistas foram fundamentais para a aprovação do fatiamento.
Dos 17 senadores que votaram a favor do impeachment, dez foram pela pena
branda. Entre “contra” e “abstenções”, Dilma “virou” 19 votos. A
proposta foi rejeitada por 42 votos a favor, 36 contra e três abstenções
– eram necessários ao menos 54 votos.
A medida que permite a Dilma exercer função pública abre precedente
para beneficiar políticos ameaçados de cassação, como o deputado
afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
O Estado apurou que a proposta polêmica do impeachment foi feita pelo
advogado de Dilma, José Eduardo Cardozo. Lindbergh e o líder do PT no
Senado, Humberto Costa (PE), tinham ressalvas sobre sua eficácia, mas
decidiram levá-la adiante após conversas com senadores de vários
partidos.
O tradicional almoço da bancada do PT de terça-feira, véspera do
julgamento, serviu para discutir a proposta. A área técnica do partido
iria se valer de uma resolução editada após reclamação feita pelo líder
do DEM, Ronaldo Caiado (GO), em novembro do ano passado.
Para garantir direito à oposição de questionar projetos de Dilma, a
Casa instituiu a obrigatoriedade de votar separadamente um requerimento
de destaque apresentado por uma liderança partidária.
Costa apresentou o requerimento de destaque às 22h31 da terça-feira,
enquanto Kátia e Renan já trabalhavam nos bastidores. Renan havia
recebido indicativos de que o ministro Ricardo Lewandowski não faria
oposição. A essa altura, o presidente já havia sido sondado e um senador
peemedebista revelou ao Estado que Temer, renomado constitucionalista,
deu seu aval “como jurista”.
Agora, interlocutores do Planalto afirmam que o governo sabia das
conversas sobre a proposta, mas não da articulação preparada e
programada. A separação da votação em duas partes, classificada de
“absurda” e “inconstitucional” por Temer, teria pego o Planalto
“completamente de surpresa”.
No dia do julgamento, as conversas se intensificaram. Após abordar em
plenário o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), Kátia disse a
Cardozo que estava “ok”. Eunício, contrário ao pedido, absteve-se.
Risco
Minutos antes da votação, Lindbergh comparou Dilma a João Goulart,
deposto pela ditadura militar. Ele citou a declaração de Tancredo Neves,
líder do governo Goulart, de 2 de abril de 1964: “Canalhas! Canalhas!
Canalhas!” Senadores aliados de Dilma que costuraram a estratégia se
exasperaram. Receavam que a fala fosse encarada como uma agressão.
Perderam um voto, o do senador Sérgio Petecão (PSD-AC).
Apesar do voto perdido, a ex-presidente já havia angariado naquele
momento apoio suficiente de aliados e defensores do impeachment para
preservar seus direitos. (AE)
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