A morte do inseto preocupa apicultores e agricultores por colocar em risco a produção de alimentos
Se pagássemos pelo serviço que as abelhas prestam à
natureza, elas estariam bilionárias. O “salário” à colmeia mundial seria
de 212 bilhões de dólares por ano. O cachê é alto assim porque o inseto
é responsável por 73% da polinização de toda a cultura mundial. O
resultado é a garantia de 40% dos alimentos consumidos por nós. Por
isso, sua possível extinção – que pode não estar tão distante, como apontou este novo estudo (no link)
– é algo tão preocupante, seja para a biodiversidade do planeta ou até,
pasmem, para os produtores de inseticidas, produtos que as matam.
A relação é simples. Sem abelhas, não há agricultura, muito
menos a necessidade de agrotóxicos. Foi por isso que o projeto Colmeia
Viva, do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal
(Sindiveg) foi criado e agora divulga o Mapeamento de Abelhas
Participativo (MAP), como resultado de uma parceria entre agricultores e
apicultores.
“Reconhecemos o nosso papel na relação entre a agricultura e
a apicultura. Uma não existe sem a outra e somos parte disso. É preciso
criar boas práticas para o uso dos defensivos”, explicou a
vice-presidente do Sindiveg, Silvia Fagnani.
O principal resultado da pesquisa é de que 70% das abelhas
estudadas morreram de intoxicação por inseticidas. E em todos os casos, o
que causou a morte foi o uso incorreto dos produtos por parte dos
aplicadores. A pesquisa apontou, entretanto, que as abelhas mortas na
área analisada não apresentaram sintomas da Síndrome do Colapso das
Abelhas (CCD), fenômeno registrado principalmente no hemisfério norte
com a espécie Apis Mellifera.
Pelo CCD, elas desaparecem sem deixar vestígios. No Brasil, o
caso é de mortalidade por intoxicação. Entres os produtos encontrados,
estão alguns dos mais vendidos e conhecidos no mercado, como o
Neonicotinoide e o Pirazol.
O relatório, porém, é só um começo para o que o projeto pretende realizar, segundo o biólogo Osmar Malaspina, especialista
em ecotoxicologia das abelhas, da Unesp, e que participou da pesquisa.
Para esta primeira análise, apenas 13 casos foram estudados. A validade,
entretanto, de acordo com o pesquisador, se dá pelo tempo de
investigação, de um ano. Para que as abelhas sejam analisadas é
necessário que o apicultor denuncie, ao Sindiveg, a morte
de sua criação em até 24 horas ou que o agricultor perceba que os
insetos estão morrendo em sua plantação nesse mesmo espaço de tempo.
“O curto prazo entre a denúncia e a coleta dificulta um
pouco a pesquisa, por isso restringimos a área de abrangência ao estado
de São Paulo, com foco em poucas amostras. Para apresentarmos dados mais
consistentes, precisamos estudar mais colmeias e, para isso, é
necessário que apicultores e agricultores colaborem ligando para o nosso
disque denúncia”, pediu Malaspina.
As criações mais afetadas, segundo o biólogo, são as
próximas às grandes produções de monocultura, como as de soja e as de
cana. “Inseticidas, como o próprio nome já diz, são feitos para matar
insetos. Estamos tentando amenizar essa situação para que os aplicadores
usem de forma correta e possam diminuir a mortalidade das abelhas. A
solução definitiva, porém, estaria em repensar a forma como produzimos
alimento, sem necessitar da aplicação desses defensivos”, explicou.
O biólogo ainda lembra da importância do inseto para o lucro
do grande produtor. No Brasil, há cerca de 3 mil espécies de abelhas.
Alguns cultivos, como o melão e a maçã, são polinizados por apenas um
tipo, e o desaparecimento da abelha da região significaria o fim da
produção.
“O agricultor, por falta de conhecimento, só pensa em
fertilizante e adubos. Mas não sabe que a abelha é a maior responsável
por manter sua colheita. Agora, se não há comida, elas não ficam no
local. Por isso, é importante aliar a plantação a corredores de
florestas, construindo habitats apropriados aos insetos”, concluiu o
biólogo.
O MAP continua e as análises também. O relatório completo está disponível no site do Colmeia Viva e o telefone para denúncias e dúvidas é o 0800 771 8000.
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