Refugiados venezuelanos vivem pelas ruas de Boa
Vista. "Já encontrei grupos de 40 e até 50 venezuelanos juntos na rua.
Eles não têm nada, alguns comem só pão", afirmou um voluntário
O feriado de Nossa Senhora Aparecida motivou um grupo de voluntários ligados à Igreja Católica de Roraima a organizar uma coleta de alimentos para os refugiados venezuelanos
que vivem pelas ruas da capital. Antes da romaria em homenagem à
padroeira do Brasil, um caminhão recebia donativos de arroz, bolachas e
outros gêneros alimentícios.
O grupo distribuía a comida nas ruas mesmo, já que não há centros
oficiais de acolhimento para os venezuelanos. O funcionário público
municipal da capital Roberto Carvalho foi o responsável por conseguir o
veículo e organizar o reparte da comida após a coleta. "Já encontrei
grupos de 40 e até 50 venezuelanos juntos na rua. Eles não têm nada,
alguns comem só pão", afirma o voluntário.
A filha de Carvalho, que é estudante de medicina na Argentina,
participa de grupos de auxílio a moradores de rua em Buenos Aires. A
ideia o inspirou a fazer o mesmo. Utilizando o caminhão emprestado pelo
irmão, ele comanda a coleta e distribuição de mantimentos aos
refugiados.
Integrante do Centro de Migração e Direitos Humanos da
Diocese de Boa Vista, Telma Cristina Lago dos Santos afirma que um dos
problemas é a hostilidade de parte da população em relação aos
refugiados. "Estamos lutando muito para demonstrar a necessidade de nos
solidarizarmos com eles", afirmou Telma.
As necessidades são "de todos os tipos", disse. "(Eles precisam de)
alimentação, moradia, trabalho, documentação. A situação é de ajuda
humanitária".
Carvalho, enquanto organiza os víveres no caminhão, emite opinião
semelhante. "Eles estão aí pela rua e muita gente já os aborda com
violência. Quando eles mais precisam de nós, vamos fazer isso, agir
dessa forma? É preciso ajudar."
Quanto à hostilidade, o voluntário acredita que, em parte, é uma reação
ao tratamento dado a brasileiros por autoridades venezuelanas na
fronteira.
Carvalho relata que amigos já foram detidos por guardas de fronteira
durante horas em tentativas de extorsão. Ele acrescenta que também houve
o caso do próprio irmão, que teria sido detido quando viajava a Puerto
Ordaz, no país vizinho. Os guardas, segundo ele, teriam roubado R$ 60.
Os venezuelanos que conseguem uma permissão junto à Polícia Federal,
na fronteira, para seguir viagem até Boa Vista ou Manaus podem
permanecer legalmente no País por até 90 dias - período prorrogável por
outros 90 dias.
Para a prorrogação do prazo, no entanto, eles precisam apresentar
comprovação de hospedagem. Nem todos pedem permissão. Muitos
simplesmente atravessam a fronteira a pé ou de carona e, a partir de
Pacaraima, conseguem pagar pela viagem de táxi ou ônibus até as cidades
onde têm mais possibilidade de encontrar algum emprego informal.
Diário do Nordeste
0 comentários:
Postar um comentário