SergioMedeiros/ProjetoMundoCão
Sergio Medeiros e Eleni Alvejan fazem lanche no Equador durante a viagem até a América do Norte para ajudar cães de rua
Sergio Medeiros e Eleni Alvejan viajaram mais de 13 mil km desde 2015, quando venderam tudo e saíram de São Caetano, na Grande São Paulo, até o Alasca, nos Estados Unidos.
O Projeto Mundo Cão, criado pelo casal em 2013 para ajudar animais abandonados nas ruas, ganhou o mundo e viajou até a América do Norte resgatando bichos pela estrada.
Tiveram experiências tristes ao lado de esperançosas. Viram uma
cachorra morrer dentro do carro ao tentar socorrê-la de um
envenenamento, mas também conseguiram salvar um cão com "o pescoço
aberto de fora a fora" e arrumaram abrigo para filhotes encontrados pela
estrada.
Enfrentaram vários percalços pelo caminho: foram
roubados no México. No Equador, sentiram um terremoto. Em El Salvador,
acamparam no vulcão Masaia, de onde precisaram sair às pressas porque o
gigante começou a despertar.
Não foi uma viagem fácil. Eles
administravam uma verba entre US$ 700 e US$ 800 por mês (entre R$ 2.390 e
R$ 2.730), proveniente da venda de alguns produtos e de apoiadores do
projeto. Eram gastos principalmente com combustível, lugar para tomar
banho e comida para eles e para os cachorros. Para economizar, sempre
dormiam no carro, a menos que lhes oferecessem hospedagem gratuita.
Não fazem ideia de quantos cachorros atenderam ou quanto distribuíram
de alimento pelo caminho, mas não se importam. Sabem que a ajuda foi
grande e se sentem bem.
Eles se depararam com muitos cães que
evitavam a aproximação, temendo ser novamente maltratados. Em outros
casos, os bichos se aproximavam em puro desespero, na esperança de algo
que aplacasse a fome. Engoliam a ração sem mastigar. Outros, com a pele
colada aos ossos, não tinham forças para comer e tinham de ser
alimentados na mão.
"Encontramos muitas cadelas prenhes ou com
sinais de que haviam dado cria. Esse é o maior problema dos cães
abandonados: eles seguem procriando descontroladamente e isso aumenta
absurdamente a quantidade de cães nas ruas", diz Medeiros.
"Talvez nossa maior dificuldade tenha sido a impotência cada vez que
encontrávamos um cachorro pelas ruas. Virar as costas e ir embora é o
pior sentimento que temos provado. Muitas vezes nem olhamos para trás,
nos sentimos covardes e sentimos vergonha de pertencer a uma raça que
chega aos extremos da maldade e crueldade achando tudo normal."
Súplicas e adoções
Na América Central e no México, a situação que encontraram é bastante
semelhante à da América do Sul: muitos cães perambulando pela rua e uma
mistura de pessoas indiferentes e desrespeitosas com quem ama os bichos e
tenta fazer algo por eles.
"Se tem uma palavra que define os cães abandonados é 'tristeza', tanto
faz se estão no Brasil, na Nicarágua ou no México, eles têm sempre o
mesmo olhar de súplica, esse olhar é a principal característica destes
cães", diz.
Já nos Estados Unidos e no Canadá, segundo eles, há pouco desses animais pelas ruas e estradas.
"Temos de tudo na América: vulcões, desertos, lindas praias,
altiplanos, comidas deliciosas, fauna, flora e cultura riquíssima.
Viajando de carro mergulhamos nas pequenas cidades onde estão escondidos
verdadeiros tesouros", lista Medeiros sobre a peregrinação.
A viagem
Para celebrar a viagem, o casal uma feijoada em Inuvik, região do
Circulo Polar Ártico canadense. "Impressionante ver uma paisagem e saber
que além disso não existe mais nada. Que você está literalmente
chegando no finalzinho do mundo", diz Medeiros.
E depois do
Alasca? "Não nos importa o que digam, somente eu e a Eleni sabemos como
foi cada encontro com esses cães e a reação deles por terem um pouco de
comida e carinho, mesmo que por um instante", diz Medeiros.
Por
isso, o casal afirma que a aventura ainda não terminou --nem sabem se um
dia terminará. "O que antes era uma 'viagem' de ida e volta ao Alasca,
agora se tornou um estilo de vida", conta ele, diretamente do Oregon, na
Costa Oeste dos EUA, onde estão.
Planejam levar o carro para a
Europa no início de 2017 e iniciar uma nova fase do que agora,
pretendem, se tornará uma andança por todo o mundo. A nova rota traçada
contempla a África, o Oriente Médio e a Ásia.
"Nosso
projeto continua. Mesmo porque sem ele perderíamos uma grande
oportunidade de aprender", define ele. "Não temos ideia do que vamos
encontrar pela frente com relação aos animais em todos os países que
pretendemos visitar, mas, com certeza, sempre vamos alimentar um cão
abandonado, simplesmente porque os amamos e isso nos faz bem."
"Hoje vivemos na estrada, somos viajantes, não temos um destino
totalmente certo, temos apenas alguns planos e a vida vai se encarregar
do resto. Queremos viver e ser parte de nossas histórias."
Como ajudar
Procura-se Cachorro: www.facebook.com/ProcuraseCachorro
O projeto é um buscador de animais desaparecidos em todo o Brasil. O
ponto de encontro inteligente acompanha informações na região e é um
serviço é gratuito para a população. Mais de 2.850 cães já voltaram para
casa
Projeto SalvaCão: www.facebook.com/ProjSalvacao
O grupo de proteção animal não tem fins lucrativos e trabalha apenas
com voluntários. A ideia é tratar, castrar e encaminhar para adoção cães
e gatos retirados das ruas ou de locais onde sofriam maus-tratos.
Hopet: www.facebook.com/ProjetoHopet
Um projeto independente que busca meios de reverter fundos para ONGs e
abrigos. A Hopet arrecada toneladas de ração e distribui entre as
instituições necessitadas.
Celebridade Vira-Lata: www.facebook.com/celebridade.viralata
O projeto produz calendários com imagens de cães vira-latas. A renda é
destinada à realização de mutirões de castração de animais carentes e,
em cinco anos, os números já passam de 5.200. A ideia é ajudar a
diminuir a quantidade de bichos nas ruas
Animais da Aldeia: www.facebook.com/AnimaisdaAldeia
Projeto realizado por voluntários para arrecadar fundos para cães e
gatos abandonados na Aldeia do Jaraguá. São muitos animais deixados na
região e os índios vivem em uma situação extremamente carente para
sustentá-los.
Asseama: www.facebook.com/ASSEAMA
O Centro Espírita Asseama possui um Santuário que acolhe animais
silvestres. Hoje são 176 bichos e a renda para mantê-los vem das vendas
no restaurante vegano instalado dentro da instituição.
Rodrigo Casarin
Colaboração para o UOL, em São Paulo
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