
O
procurador Athayde Ribeiro Costa fala em estratégia de crime que
consistiu na prática de corrupção para encobrir outra corrupção (Foto:
PF)
O
procurador da República Athayde Ribeiro Costa, da força-tarefa da
Operação Vitória de Pirro – 28.ª etapa da Lava Jato – revelou nesta
terça-feira, 12, que o ex-senador Gim Argello (PTB/DF) adotou a
‘corrupção ao quadrado’ – estratégia de crime que consistiu na prática
de corrupção para encobrir outra corrupção.
Na condição de vice-presidente da CPMI da Petrobrás no Congresso o
político exigiu propinas para livrar duas grandes empreiteiras, a OAS e a
UTC Engenharia, das investigações da Comissão Mista. OAS e UTC
integraram o cartel instalado na Petrobrás entre 2004 e 2014 para
fraudar licitações bilionárias.
“Estamos diante de um caso de corrupção ao quadrado, corrupção
qualificada. O caso revela grave atentado à República. O ex-senador
obstruía as investigações das CPIs.”
A investigação, segundo o procurador, mostrou que o então senador
cobrou propinas em forma de doações para os partidos da Coligação União e
Força nas eleições de 2014. A UTC repassou R$ 5 milhões. A OAS repassou
outros R$ 350 mil – valor destinado à Paróquia São Pedro, de
Taguatinga, frequentada pelo político.
Em troca das ‘doações’, Gim Argello poupou as empreiteiras,
livrando-as da convocação perante a CPMI da Petrobrás. As negociações e
os pagamentos se deram após a deflagração da fase ostensiva da Operação
Lava Jato, em março de 2014.
“Nesse momento não há indicação de que Gim Argello tenha agido em
conluio ou sob ordens de quem quer que seja, especialmente dentro dos
partidos políticos”, afirmou o procurador regional da República Carlos
Fernando dos Santos Lima.
O procurador é taxativo. “A corrupção não é partidária, ela é
decorrente do nosso sistema político. Há partidos da oposição nessa
coligação. Estamos diante de corrupção para financiamento de campanhas
políticas. É isso que a Lava Jato pretende revelar mesmo diante das suas
limitações naturais.”
Para ilustrar a afirmação de que a corrupção não tem partido, o
procurador citou o caso do ex-senador Sérgio Guerra (PSDB/PE), morto em
2014, que teria exigido R$ 10 milhões para esvaziar uma das CPIS da
Petrobrás.
A Coligação União e Força, destinatária dos R$ 5 milhões que Gim
Argello tomou das empreiteiras, era formada por DEM, PR, PMN e PRTB.
“Não há indícios de que os partidos tinham conhecimento da origem
ilícita desse valor”, ressalvou o procurador da República Athayde
Ribeiro da Costa.
Athayde defendeu a preservação de mecanismos legais para combater
colarinho branco e corrupção como as técnicas especiais de investigações
– colaboração premiada e interceptação telemática. Esses expedientes
são alvo de projetos no Congresso. “É importante que não haja
retrocesso, que não avancem projetos que buscam inibir a colaboração de
pessoas. Restringir o uso de colaboração é lutar por impunidade,
tornando-a uma regra. Temos que avançar no combate a esse tipo de
projeto de lei que não tem interesses republicanos.”
Fonte: (AE)
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