Todos
nós temos memórias que gostaríamos de esquecer, sejam péssimos
relacionamos, experiências traumáticas e até mesmo perdas. No entanto,
não importa o quanto tentemos, elas continuarão a nos assombrar.
Em
alguns casos, podem vir acompanhadas de ansiedade, fobias e transtorno
do estresse pós-traumático (TEPT). Porém, cientistas estão à beira de
resolver essa situação: eles descobriram que nossas memórias não são tão
permanentes como pensávamos. Na verdade, os pesquisadores descobriram
uma forma de excluir, alterar e até mesmo implantar memórias, não só em
animais, mas em seres humanos.
Em um documentário publicado pelo canal americano PBS, chamado Memory Hackers,
os cientistas mostraram que manipulando algumas drogas são capazes de
reprogramar o nosso cérebro para esquecermos memórias ruins. Se tudo
isso soa como ficção científica ou como roteiro de filme (como “Brilho
eterno de uma mente sem lembranças”), saiba que houve muito avanço
tecnológico no ramo da digitalização neurológica, ao longo das últimas
décadas. Ao que tudo indica, estamos mais perto do que nunca de dar esse
grande passo na Ciência.
Sendo
assim, como exatamente será feita a exclusão de uma memória? Para
entender melhor essa questão, precisamos primeiramente entender como as
memórias se formam e são mantidas em nosso cérebro. No passado, os
cientistas costumavam acreditar que as memórias eram armazenas em
lugares específicos do cérebro, como um armário de arquivos. Porém, já
ficou claro para esses estudiosos que cada memória é trancada em
conexões localizadas em todo o cérebro. Basicamente, uma memória é
formada quando as proteínas estimulam neurônios a crescer e a formar
novas conexões, literalmente religando os circuitos da nossa mente.
Quando isso acontece, uma memória é armazenada, e para a maioria de nós,
ela ficará lá, sendo ocasionalmente lembrada quando a revisitamos.
A
novidade, porém, é que essas memórias de longo prazo não são estáveis.
Cada vez que as revisitamos, elas se tornam novamente maleáveis e se
redefinem mais fortes e vivas do que antes. Esse processo é conhecido
como reconsolidação e explica como nossas memórias tendem a mudar um
pouco com o passar no tempo. Isso é importante porque permitiu aos
cientistas, intervir em nossas memórias.
De
acordo com os cientistas, a pesquisa sugere que as memórias possam ser
manipulas porque elas agem como vidro fundido e são “moldadas” para uma
nova forma sólida. Sendo assim, quando uma memória é lembrada, ela é
“derretida”, e assim, pode ser alterada e redefinida mais de uma vez.
Utilizando uma substância química chamada norepinefrina – envolvida nas
respostas de luta e fuga, desencadeando sintomas como sudorese nas mãos e
coração acelerado – os cientistas “amorteceram” memórias traumáticas e
impediram-nas de se associarem a emoções negativas. A droga se mostrou
eficiente em experimentos que visavam eliminar medos ou controlar
traumas.
Até
o momento, os pesquisadores não tentaram excluir completamente uma
memória humana, devido às implicações éticas que permeiam o assunto, mas
as evidências sugerem que isso é possível com a combinação certa de
medicamentos e exercícios de reabilitação. A descoberta, segundo os
responsáveis, pode ajudar no tratamento de pessoas com ansiedade, fobias
e TEPT. No entanto, já levantou controvérsias. Segundo a psicóloga
Julia Shaw, o processo pode facilitar a implantação de falsas memórias
nas pessoas, podendo fazer com que elas se lembrem de crimes que nunca
cometeram e até mesmo forneçam detalhes vívidos sobre um evento
fictício.
Fonte: [ The Telegraph ] [ Foto: Reprodução / Eternal Sunshine for the Spotless Mind/Momentum Pictures ]
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