Cientistas descobriram uma forma de apagar ou editar memórias ruins

      Merelyn Cerqueira 

Todos nós temos memórias que gostaríamos de esquecer, sejam péssimos relacionamos, experiências traumáticas e até mesmo perdas. No entanto, não importa o quanto tentemos, elas continuarão a nos assombrar.

Em alguns casos, podem vir acompanhadas de ansiedade, fobias e transtorno do estresse pós-traumático (TEPT). Porém, cientistas estão à beira de resolver essa situação: eles descobriram que nossas memórias não são tão permanentes como pensávamos. Na verdade, os pesquisadores descobriram uma forma de excluir, alterar e até mesmo implantar memórias, não só em animais, mas em seres humanos.

Em um documentário publicado pelo canal americano PBS, chamado Memory Hackers, os cientistas mostraram que manipulando algumas drogas são capazes de reprogramar o nosso cérebro para esquecermos memórias ruins. Se tudo isso soa como ficção científica ou como roteiro de filme (como “Brilho eterno de uma mente sem lembranças”), saiba que houve muito avanço tecnológico no ramo da digitalização neurológica, ao longo das últimas décadas. Ao que tudo indica, estamos mais perto do que nunca de dar esse grande passo na Ciência.

Sendo assim, como exatamente será feita a exclusão de uma memória? Para entender melhor essa questão, precisamos primeiramente entender como as memórias se formam e são mantidas em nosso cérebro. No passado, os cientistas costumavam acreditar que as memórias eram armazenas em lugares específicos do cérebro, como um armário de arquivos. Porém, já ficou claro para esses estudiosos que cada memória é trancada em conexões localizadas em todo o cérebro. Basicamente, uma memória é formada quando as proteínas estimulam neurônios a crescer e a formar novas conexões, literalmente religando os circuitos da nossa mente. Quando isso acontece, uma memória é armazenada, e para a maioria de nós, ela ficará lá, sendo ocasionalmente lembrada quando a revisitamos.

A novidade, porém, é que essas memórias de longo prazo não são estáveis. Cada vez que as revisitamos, elas se tornam novamente maleáveis e se redefinem mais fortes e vivas do que antes. Esse processo é conhecido como reconsolidação e explica como nossas memórias tendem a mudar um pouco com o passar no tempo. Isso é importante porque permitiu aos cientistas, intervir em nossas memórias. 

De acordo com os cientistas, a pesquisa sugere que as memórias possam ser manipulas porque elas agem como vidro fundido e são “moldadas” para uma nova forma sólida. Sendo assim, quando uma memória é lembrada, ela é “derretida”, e assim, pode ser alterada e redefinida mais de uma vez. Utilizando uma substância química chamada norepinefrina – envolvida nas respostas de luta e fuga, desencadeando sintomas como sudorese nas mãos e coração acelerado – os cientistas “amorteceram” memórias traumáticas e impediram-nas de se associarem a emoções negativas. A droga se mostrou eficiente em experimentos que visavam eliminar medos ou controlar traumas.

Até o momento, os pesquisadores não tentaram excluir completamente uma memória humana, devido às implicações éticas que permeiam o assunto, mas as evidências sugerem que isso é possível com a combinação certa de medicamentos e exercícios de reabilitação. A descoberta, segundo os responsáveis, pode ajudar no tratamento de pessoas com ansiedade, fobias e TEPT. No entanto, já levantou controvérsias. Segundo a psicóloga Julia Shaw, o processo pode facilitar a implantação de falsas memórias nas pessoas, podendo fazer com que elas se lembrem de crimes que nunca cometeram e até mesmo forneçam detalhes vívidos sobre um evento fictício.

Fonte: [ The Telegraph ] [ Foto: Reprodução / Eternal Sunshine for the Spotless Mind/Momentum Pictures ]
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Sobre jaguarverdade

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