Por Artur Louback Lopes
Apesar de existirem soros específicos para diferentes gêneros de
cobras, o processo de produção de todos eles segue o mesmo padrão. O
veneno da serpente é introduzido no organismo de um cavalo, que reage
desenvolvendo anticorpos. E são esses anticorpos que, após serem
retirados do cavalo, formam o soro.
A eficiência do produto é grande e,
diferentemente do que muitos pensam, uma picada de cobra não significa
um convite quase certo para a morte. Segundo dados do Ministério da
Saúde, das cerca de 20 mil pessoas picadas por serpentes venenosas a
cada ano no Brasil, apenas 0,4% morrem. Mas é bom não bobear. As poucas
mortes ocorrem justamente pelo uso incorreto ou tardio do soro ou ainda
pela falta dele.
A utilização incorreta do produto pode ser evitada com
ajuda do diagnóstico de um especialista, já que o veneno de diferentes
gêneros de cobras precisa ser combatido com diferentes tipos de sonoro. A
confusão nesse aspecto só não é maior porque 90,5% dos casos de pessoas
picadas no país envolvem serpentes de um mesmo gênero, Bothrops.
Pertencem a ele cobras como jararaca, jararacuçu, caiçaca, urutu e
cotiara, todas com peçonhas que podem ser combatidas com o mesmo tipo de
soro.
Em seguida, em número de picadas, aparecem as cascavéis (do
gênero Crotalus), a surucucu (Lachesis) e as corais verdadeiras
(Micrurus). Essas espécies ameaçadoras, porém, são minoria no Brasil.
Dos 256 tipos de serpentes existentes por aqui, apenas 70 são
peçonhentas, ou seja, capazes de inocular seu veneno. No país, os soros
são feitos pelo Instituto Butantan, em São Paulo, pela Fundação Ezequiel
Dias, em Minas Gerais, e pelo Instituto Vital Brazil, no Rio de
Janeiro. Toda a produção é comprada pelo Ministério da Saúde e oferecida
gratuitamente em hospitais e postos de saúde de todo o Brasil.
Socorro a galopeEqüinos produzem os anticorpos que barram o veneno das cobras
1. O primeiro passo para se produzir o soro é extrair o veneno de uma
serpente ou de um grupo delas do mesmo gênero, se o objetivo for uma
vacina "multiuso". Para coletar o veneno das glândulas que secretam a
substância, basta pressioná-las com as mãos ou aplicar um pequeno
choque. Em pouco tempo, a serpente repõe sua peçonha
2. Um cavalo recebe o veneno em pequenas e sucessivas doses, que não
prejudicam a sua saúde. Ele então começa a produzir anticorpos contra a
peçonha. Por que são usados os cavalos? "Poderia ser qualquer animal,
mas o cavalo é dócil e tem um rendimento maior na produção de anticorpos
que outros mamíferos", diz a bioquímica Hisako Higashi, do Instituto
Butantan
3. Após dez dias, amostras de sangue são retiradas do cavalo até se
constatar que já há anticorpos suficientes no corpo do animal o que
leva, em média, 15 dias. Quando isso ocorre, até 16 litros de sangue são
colhidos. Então, separa-se o plasma, parte do sangue onde ficam os
anticorpos. O restante é reintroduzido no animal
4. O plasma do sangue é purificado em reatores e diluído. Aí o soro já
está pronto. Quando uma pessoa é picada por um cobra peçonhenta, precisa
receber a substância salvadora o mais rápido possível. No organismo da
vítima, os anticorpos do soro se misturam com o veneno, neutralizando
sua ação pouco a pouco. Em geral, o paciente se restabelece após um dia
de tratamento
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