
Onde foi parar o amor?
Por que a paixão esfria? Então não era paixão,
dizem alguns. O que houve com o relacionamento, será que preciso terminar por
conta disso?
Em outro momento já escrevi sobre Carência Afetiva e sobre relações baseadas nos Tapas e Beijos. Nesse texto abordaremos o esfriamento afetivo, uma desgraça para a vida de alguns casais.
Quem não se percebeu com uma chama da paixão um pouco menor com relação ao esposo, namorado ou noivo? A vontade de sexo já não é a mesma e a sua freqüência diminuiu acentuadamente. As caricias e contatos afetivos tornaram a relação não necessariamente fria, mas menos quente do que antes, dentre outros sintomas.
Mas de onde vem o esfriamento afetivo?
Do próprio desejo já realizado. O desejo
não realizado é como uma pressão de angústia interna que nos impulsiona para
frente numa motivação frenética para saciar a sede desejosa do objeto de nossos
olhos. Desejo é tensão excitante e sua realização é relaxamento prazeroso.
É sempre assim com tudo aquilo que almejávamos. Quando conquistamos, a motivação para que a nossa vontade funcione já não é a mesma. Isso é típico do humano, de sua natureza. O que não podemos é fazer da ciência um ventríloquo que busca inventar soluções mirabolantes e utópicas para facilitar a fantasiosa vida humana idealizada numa caixinha de vidro.
Assim é você, assim é todo mundo, assim é a humanidade. É a sua constituição psicológica. Tapar os olhos para isso e querer que as ciências Psi criem a pílula da felicidade é um engodo fantasioso típico de uma mentalidade social psicologicamente regredida e que não tolera bem a estrutura da realidade. Aliás, essa sociedade produz em massa regredidos psicologicamente que têm pouca ou nenhuma tolerância com as impossibilidades do mundo real, não é verdade?
Entretanto, em algumas pessoas esse esfriamento parece ser patológico demais. Ao extremo. Numa análise minuciosa da mente (aliás como cantou Caetano Veloso de perto ninguém é normal) perceberemos uma estrutura psicológica particular que possibilita a repetição desse quadro na vida dela: após a conquista vem sempre o esfriamento.
Pensando nessa linha, há pessoas que possuem uma vida mental muito complexa, contraditória e sinistra, se formos olhar bem de perto. Há vivências mentais que se um leigo for se deparar, certamente se dará conta de que se trata de um louco, mas não é bem assim.
Pra algumas pessoas, conquistar um amor pode ser apenas uma mensagem indireta para o próprio inconsciente: eu consigo. Isso já basta. As pessoas são vistas apenas como troféus a serem conquistadas e se essa fantasia inconsciente estiver presente, explicamos o adjetivo sinistro conferido à psique humana.
Alguns dizem que é a rotina, mas isso é superficial demais. A rotina está para a psique assim como a tela para a pintura. A rotina apenas alcança aqueles que fazem do amor seu ideal e quando descobre falhas, perde o encanto. Mais presos à rotina são aqueles que não se permitem criar o novo e se acomodam com a forma de amar estabelecida e não a recria.
"A rotina ocorre quando afrouxamos,
quando não permitimos que o inesperado aflore em nossas conversas ou no que
fazemos." (Connell Cowan & Melvyn Kinder)
Para sair da rotina, precisamos ter uma
personalidade chamada filoneísta. A rotina não pega relacionamentos, pega pessoas.
É engraçado perceber que mesmo após anos de casamento, um buque de rosas ainda
pode reacender a chama. Mas apesar de saber disso, alguns não fazem. Por quê? Talvez
o que mais explique é o próprio egoísmo, ou a falta de capacidade de amor. Mas
o amor se perde? O problema é que muitos confundem amor com paixão.
Num relacionamento, amor e paixão estão unidos num laço único. Paixão é padecer porque o outro tem o que precisamos. Já o amor é renascer porque temos o que o outro precisa, este é o amor, aquele é a paixão.
Mas o que seria a rotina? O tempo passado? O costume com o outro? Ou a previsão de como o outro é? Talvez este último seja mais eficiente para explicar a rotina. A rotina é a antevisão de uma expectativa que será realizada porque você já sabe como o outro é e vai reagir. Previsibilidade: isso é rotina. Mas o outro é sempre complexo, possui partes de si que se renovam a cada dia, mas nunca vemos isso.
Por outro lado, podemos nos reinventar, buscar redescobrir sempre o mundo novo que nos cerca e nos parecer cada vez mais diferente do que éramos, só assim podemos possibilitar que o outro se relacione sempre com uma pessoa que se renova a cada dia. Facilitamos assim o processo de enlaçar o outro a nós. Esta é a personalidade filoneísta.
Há ainda os que se casaram por conveniência e assim o amor não tem como recriar-se De inicio, o sexo mantém a chama acessa, com o tempo, não se sabe amar, se doar, enfim, há uma circunstancia que impossibilita o amar, justamente a falta de saber a amar aquele outro que esta ali.

O Amor é criação, ato ativo elaborado e que perdura até o exato instante em que nasce, depois se torna história. Muitos vivem dessa história e não do amor novo. O antônimo de amor é egoísmo. Amar é uma habilidade aprendida e não uma condição proporcionada por alguém, isto é paixão.
Há os que com a idade perdem o interesse
pelo novo, ficam arrogantes e sabem de tudo, não toleram mais o ridículo de
amar. Não se deixam invadir pelo outro e se fecham em si. Logo, o esfriamento
do amor é resultado de uma mudança na personalidade.
Mas então é uma luta já vencida?
Não. A vida de casal é uma construção a
dois e uma batalha constante contra os desejos pessoais de cada um. Estar
casado é saber que agora você tem dois desejos a conciliar e não somente um.
Olhe nos olhos, continue a brincar, não espere dele o que você já sabe que ele fará pois isso enjoa. Espere o diferente e busque onde está o diferente no seu amor de ontem que ainda é o mesmo só que renovado pelas experiências.
Só se permite amar quem suporta o ridículo, já disse Lacan. As cartas de amor são ridículas, já dissera Fernando Pessoa.
Estar casado ou em relacionamento é
saber que se possui um compromisso. Um compromisso ativo de reinventar o amor e
a paixão. Isso é sua responsabilidade. Não possui formulas mágicas desencantadoras
e levantadoras de defunto, salvo os casos de comprimidos azuis, como alguns de vocês
sabem.
Amar é um dever teu. Ser amado é uma opção do outro. Permanecer não sendo amado é um autosacrificio seu. Perecer sendo amado é um gozo de ambos.
Do que você tem medo? Do que se protege? A vida passa? Os anos voam, todos morremos. O tempo passa o tempo voa e o que fica numa boa é só a poupança do extinto banco Bamerindus. Tenha noção de que sua vida é limitada, de que o outro partirá e te deixara mergulhado em culpa por não ter dado aquilo que poderia dar e que era tão fácil, mas que pelo seu egoísmo, pareceu difícil naquele breve instante.
Saia do seu egoísmo. É ele que não te deixa amar. Tudo bem, o outro não é aquilo que você esperava que fosse, ok. Mas não permita que ele pague por seus erros de escolha. Alias, o ser humano não sabe escolher. Isso é fato. Escolher nunca é um ato certeiro, porque nunca sabemos o que queremos. Isso é ser humano. Ser humano é suportar um desejo que nos impulsiona para um alvo ridículo e que não temos o mínimo controle sobre ele e nem sabemos o que ele é.
Em clinica a frase mais ouvida por pacientes da terceira idade são: ‘ah, se eu soubesse’. O resto você completa e seria mais ou menos assim: ‘eu faria diferente....’. Mas se eu soubesse de que? De que arriscar não doeria tanto e de que o tempo passa e você percebe que era mais forte do que pensava ser.
"O
amor é um egoísmo a dois." (Anne Louise Gemaine Necker).
Saiba que você se une a uma pessoa através
dos afetos paixão, libido e amor. Paixão é completude que o outro oferece à nossa
alma, libido é a vontade de introjetá-lo em nós mesmos, daí o verbo chulo comer
referido ao ato, e amor é o único que depende de você para existir. Só que
alguns acham que só se deve amar se valer a pena, só se deve amar se for amado
de volta e ai o amor vira dólar.
Ao ler esse artigo, saiba que a luta contra o egoísmo é constante. Às vezes vencemos e às vezes somos vencidos. Mas o que importa é a batalha para fazer das nossas vidas um melhor momento enquanto dure, para que seja eterno, posto que morre.
Pra finalizar, indico o texto O Casamento Ainda Está na Moda? texto onde tento abordar algumas vantagens dessa instituição em época de crescentes separações.
Até o próximo. Espero enriquecimentos,
pois você é portador da Psicologia.
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