Setembro é conhecido
mundialmente como o mês de prevenção ao suicídio. Assunto sério, mas
ainda um tabu social que não desperta interesse na grande mídia.
Todos os dias, cerca de 30 brasileiros se suicidam, taxa superior a das vítimas de aids e
de diversos tipos de câncer. E para cada morte desse gênero, em média, 5
ou 6 pessoas próximas ao falecido sofrem consequências emocionais,
sociais e econômicas.
Na cartilha de prevenção ao suicídio da
Associação Brasileira de Psiquiatria e do Conselho Federal de Medicina,
eles revelam que de cada 100 brasileiros 17 já pensaram, ao menos uma
vez, em tirar a própria vida. Vale lembrar que fazem parte do que
habitualmente chamamos de comportamento suicida os pensamentos, os
planos e as tentativa de tirar a própria vida.
É importante destacar, antes de tudo, que
suicídio não deve ser visto como uma decisão individual, de expressão do
livre arbítrio. Tampouco é um ato de “coragem” perante um sofrimento
extremo. Isso porque, conforme explica Karen Scavacini, psicóloga e
fundadora do Instituto Vita Alere de Prevenção e Posvenção do Suicídio,
as pessoas que concretizam esse ato estão passando quase que
invariavelmente por uma doença mental que altera, de forma radical, a
sua percepção da realidade.
“Quem toma esse tipo de atitude sempre está
muito cheio de sofrimento e acaba ficando cego por conta disso. Não
enxergam nenhuma solução possível no momento. Então, o tratamento da
doença mental é um dos pilares mais importantes de prevenção. Cerca de
90% dos casos poderiam ter sido evitados se a vítima tivesse recebido
ajuda de qualquer pessoa, além de profissionais, pois após o tratamento o
desejo de se matar diminui”, complementa a especialista.
Mas como é possível ajudar alguém que
esteja passando por problemas graves e ainda ter condições de suspeitar
de que a pessoa tenha plano de tirar a própria vida? A psicóloga reforça
que na grande maioria das vezes, o indivíduo dá sinais de sua intenção.
Entretanto, como não estamos tão acostumados a ouvir e escutar o outro
com clareza, esses sinais passam despercebidos ou só fazem sentido após o
suicídio. Ou então, o que é muito comum, não levamos a sério a
declaração e a interpretamos equivocadamente como uma brincadeira de mau
gosto.
“Pergunte com todas as letras se você, de
repente, suspeitar da intenção de algum amigo ou familiar. Mas pergunte
querendo ouvir, porque no geral o indivíduo acaba desabafando. Questione
sobre o plano, os motivos, as consequências, esteja com tempo. Isso
pode ser de uma ajuda extrema. O grande diferencial é mostrar que você
se importa. Ofereça ajuda se achar necessário, como apoio psicológico,
psiquiátrico e instituições confiáveis. E se a atitude for extrema
(ameaça direta de se jogar da janela, se cortar), é necessário uma
tomada de decisão imediata: leve a pessoa para um pronto-socorro ou
ligue para o Samu (192)”, ensina Scavacini.
Um exemplo de algo que pode ajudar nos momentos de crise suicida é o CVV (Centro de Valorização da Vida – telefone 141).
Os telefones não possuem bina e os atendentes (todos voluntários) nunca
irão perguntar o nome da pessoa. O CVV não trabalha com aconselhamento,
não dá opiniões, tampouco faz qualquer espécie de julgamento.
“Por trás de uma ligação sempre existe um
sofrimento muito grande. Perdas, separações, solidão, gente que liga só
para conversar. A pessoa liga desesperada, mas depois que coloca tudo
para fora se sente melhor. A gente não se envolve, só damos a
oportunidade do outro falar. E muitas vezes verbalizando ele consegue
compreender melhor o que está acontecendo”, diz Carlos Correia, de 63
anos e voluntário há 24 anos.
Os voluntários não têm condições de fazer
nenhum diagnóstico, o que eles fazem, na verdade, é ouvir. Mas, por meio
da conversa – e se a pessoa pedir -, eles conseguem indicar locais
específicos e gratuitos onde é possível conseguir ajuda, seja para um
tratamento para dependentes químicos, prevenção ao suicídio, luto difícil etc.
Mas, tenha consciência que, às vezes, os
sinais de que a pessoa está pensando em cometer suicídio não são tão
sutis, mas envolvem alguns comportamentos quase típicos como: estocar ou
comprar uma enorme quantidade de comprimidos, comprar armas, deixar
pendências resolvidas, dar algo de muito valor para alguém que ela goste
muito, ter tentado tirar a própria vida anteriormente, entre outros.
“Na dúvida sempre questione. Além disso, se
a pessoa confessar o desejo e, de repente, lhe pedir para manter
segredo, não faça isso. Porque, na verdade, você pode estar colaborando
para que ela ponha o plano em prática”, explica a psicóloga.
Importante: se você estiver lendo este
texto e passando por problemas sérios ou conhecer alguém que esteja, não
tenha medo de procurar ajuda. Suicídio é uma solução permanente para um
problema temporário.
Por Juliana Conte
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