Tour nas dunas e galinhada: a desfaçatez dos alvos da Lava-Jato

Nas horas seguintes à divulgação da delação do fim do mundo, políticos encrencados tentam mostrar que está tudo bem - e celebram a vida nas redes sociais

Por Marcela Mattos
(Divulgação/Twitter/Divulgação)

Nas principais democracias do mundo, virar alvo de uma investigação criminal é motivo suficiente para desestabilizar qualquer político. No Brasil, é diferente. Até mesmo quando estão no olho do furacão do maior esquema de corrupção da história nacional, as excelências não se incomodam – e, com uma boa dose de desfaçatez, ainda fazem questão de mostrar que tudo segue como dantes.

Na semana passada, enquanto fervilhava a videoteca dos delatores da Odebrecht, com revelações estarrecedoras sobre o submundo da política, alguns dos citados faziam questão de exibir que não estavam nada incomodados. Se nos bastidores a delação da maior empreiteira do país os atemoriza, em público eles tentam passar a impressão de normalidade. Nas redes sociais, até ostentavam momentos de celebração.

O site de VEJA selecionou 10 exemplos de como políticos da chamada “Lista de Fachin” reagiram, em seus perfis na internet, nas horas seguintes à revelação dos detalhes da delação do fim do mundo.

A reação à lista da Odebrecht

1. Robinson Faria (PSD), governador do Rio Grande do Norte: passeio nas dunas
(Divulgação / Instagram)

O governador é acusado de ter recebido, durante a campanha eleitoral de 2010, 350.000 reais da Odebrecht, que estava de olho em firmar contratos com o estado. Ele vai ser investigado por corrupção e lavagem de dinheiro. Três dias após a divulgação da lista do ministro Edson Fachin, Faria embarcou com as filhas em um passeio de buggy pelas famosas dunas do litoral potiguar. O tour foi registrado nas redes sociais. 

2. Vicentinho (PT-SP), deputado federal: aprovação na OAB
(Divulgação/Twitter/Divulgação)

Acusado de receber 30.000 reais em caixa dois, o deputado Vicentinho encontrou motivos para comemorar: ele compartilhou, nas suas redes sociais, a aprovação na primeira fase no exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). “Precisava acertar 40 questões, acertei 50. Vou enfrentar a 2ª fase!”, escreveu aquele que, até recentemente, era um dos principais defensores do fim do exame para advogados.

3. Renan Calheiros (PMDB-AL), senador: mão na massa
(Divulgação/Facebook/Divulgação)

O senador reagiu com naturalidade à abertura de inquérito – mais um – no Supremo Tribunal Federal. Correu às redes sociais e alterou a imagem principal do perfil, expondo um sorridente e confiante Renan Calheiros. Um dia depois de tornarem-se públicos os quatro novos inquéritos por recebimento de propina em troca de favores políticos, ele ainda decidiu colocar a mão na massa e a cara na rua: participou do anúncio da construção de um novo hospital e visitou obras em municípios de Alagoas. Renan precisa ser reeleito em 2018 para manter, por mais oito anos, o foro privilegiado.

4. Eduardo Braga (PMDB-AM), senador: romantismo no Dia do Beijo
(Divulgação/Instagram/Divulgação)

Sobre o senador Eduardo Braga recai a acusação de ter recebido 1 milhão de reais da Odebrecht enquanto era governador do Amazonas. Disso, ele tem evitado falar. Usa as redes sociais para discutir temas diversos: Braga trata de projetos em andamento no Congresso ao mesmo tempo em que escreve sobre a reta final do Big Brother Brasil (BBB). Há espaço ainda para exaltar seu romantismo. No último dia 13, aproveitou o Dia do Beijo para divulgar uma foto “beijando a pessoa amada”. 

5. Arthur Maia (PPS-BA), deputado: o homem do momento
(Ananda Borges/Câmara dos Deputados)

A despeito da acusação de ter engordado a sua campanha de 2010 com 200.000 reais não contabilizados, o deputado Arthur Maia é o homem do momento: relator da reforma da Previdência, tornou-se escudeiro de Michel Temer e de assessores palacianos para viabilizar um texto consensual do projeto. Nesta semana, ele apresentou o relatório do novo modelo previdenciário, com modificações em relação à proposta inicialmente apresentada pelo governo. Na semana que vem, precisará convencer os membros da comissão a acompanhá-lo.

6. Lindbergh Farias (PT-RJ), senador: espalhando notícias falsas
(Dvulgação/Facebook/Divulgação)

Um dos mais aguerridos petistas no Congresso, o senador é acusado de receber vultosos 4,5 milhões de reais em propinas da Odebrecht durante as campanhas de 2008 e 2010. O congressista rebate a explosiva delação com uma velha tática adotada entre seus pares: espalhando mentira. Em sua página oficial, Lindbergh divulga a informação de que a empreiteira admitiu ter comprado 140 deputados para aprovar o impeachment de Dilma Rousseff. A publicação é facilmente desmascarada, já que nenhum delator fez relatos desse tipo. Vai ser mais trabalhoso para o “Lindinho”, como o senador era identificado no setor de pagamento de propinas, fazer crer que são falsas as acusações de que arrecadou dinheiro sujo.

7. Romero Jucá (PMDB-RR), senador: mensagens motivacionais
(Divulgação/Facebook/Divulgação)

Nas entranhas da Odebrecht, o senador Romero Jucá era tratado como um parlamentar estratégico: dizia-se que ele atuava como a porta de entrada dos interesses da empreiteira no Congresso. O ex-executivo Cláudio Melo afirmou, por exemplo, que negociou repasses entre 15 e 16 milhões de reais ao congressista. O momento, então, não seria mais propício para mensagens motivacionais. Dizia uma delas, publicada no dia seguinte à divulgação da delação: “A paz do coração é o paraíso dos homens”, disse, sem esclarecer se está mesmo no paraíso - ou no inferno.

8. Fernando Collor (PTC-AL), senador: o senhor do destino
(Divulgação/Facebook/Divulgação)

O enroladíssimo senador Fernando Collor foi acusado por dois delatores de ter embolsado 800.000 reais na campanha de 2010. Ainda assim, sente-se credenciado para dar pitacos, em rede nacional, sobre os rumos do país. Em entrevista à RedeTV!, ele discorreu sobre o desemprego e a recessão no país e ainda fez projeções sobre seu futuro político. Indagado se disputaria uma nova eleição para Palácio do Planalto, Collor tergiversou: “A questão da Presidência não me passa pelos dias de hoje, mas não posso, em sã consciência, dizer que isso está afastado. Tenho que me submeter aos planos que o destino traçou pra mim”, disse.

9. Yeda Crusius (PSDB-RS), deputada federal: vôlei e chocolate
(Divulgação/Twitter/Divulgação)

A deputada interagiu com seus seguidores para comentar uma partido do campeonato nacional de vôlei, realizada no último sábado. O jogo, “emocionante”, forçou a deputada a devorar uma caixa de bombom. Antes de dormir, ela precisou da ajuda de um chá de boldo. Usuária compulsiva das redes sociais, Crusius disse não ter “nada a esconder” sobre a suspeita de ter embolsado 1,7 milhão de reais da Odebrecht, nas campanhas de 2006 e 2010, em troca de favorecer a empreiteira.

10. Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), deputado federal: rabada e galinhada
(Divulgação/Instagram/Divulgação)

Com quase 10 mil seguidores no Instagram, o deputado baiano Lúcio Vieira Lima, ou Bitelo, como era conhecido na Odebrecht, adora publicar seus momentos de descontração com familiares, amigos e próprios colegas de trabalho. Acusado de receber 1 milhão de reais em troca de destravar um projeto de interesse da Odebrecht, ele não comentou o assunto. Mas fez um aceno a seus eleitores: registrou uma foto degustando uma rabada e uma galinhada.
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Sobre jaguarverdade

Sou Casado, pai de 3 filhos, apaixonado pela minha família e pela minha querida cidade Jaguaruana... Jaguaruana Verdade, Porque Mentira tem Pernas Curtas!

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