Brasileiro descobre via de tratamento para câncer de mama em Harvard

Resultados de uma pesquisa encabeçada pelo oncologista Romualdo Barroso nos EUA podem abrir caminho para uso da imunoterapia contra a doença

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O câncer é a bola da vez na medicina. Com as evoluções e possibilidades de tratamento caminhando a passos tão largos, a impressão é de que a comunidade científica não sossegará até encontrar a solução – ou a coisa mais próxima possível dela – para o problema. Embora a maior parte dos estudos ocorra nos Estados Unidos e em países da Europa, o Brasil tem seus representantes na batalha científica. Um médico brasileiro pesquisador na Escola de Medicina de Harvard, nos EUA, e sua colega norte-americana nessa instituição chegaram aos resultados mais recentes sobre o combate a um tipo raro de câncer de mama contra o qual, até agora, os profissionais de saúde ainda têm poucas armas. A estimativa é que a pesquisa possa ser a esperança para 1,8 mil pacientes no Brasil.

Se os achados em laboratório do oncologista Romualdo Barroso, pesquisador do Dana-Farber Cancer Institute, na universidade americana, forem confirmados em testes com humanos, a sobrevida de pessoas com câncer de mama metastático do tipo triplo negativo pode saltar de meses para anos – isso se, eventualmente, esses casos, hoje tidos ainda quase como sentenças de morte, não desaparecerem completamente. Como em tratamentos de câncer só se fala em cura depois de cinco anos de remissão da doença, no entanto, só o tempo irá dizer até onde as descobertas mais recentes são capazes de chegar ou levar as enfermas.

No estudo, Barroso e Sara Tolaney, a pesquisadora de Harvard, analisaram os sequenciamentos genéticos das biópsias de 4 mil pacientes de câncer de mama, para rastrearem quantos deles apresentavam aquilo chamado, em oncologia, de hipermutação (quando um tumor apresenta muito mais tipos de mutação que o normal).

A ideia, a princípio, era descobrir quantas dessas pacientes seriam boas candidatas para receber imunoterapia, um tratamento relativamente novo em câncer, altamente individualizado e que, até agora, não foi aprovado para uso nos casos da mama. O estudo baseia-se neste entendimento: em outros tipos da doença, tumores com hipermutação tendem a responder melhor que a média à imunoterapia. Então, por que não aplicar a mesma lógica ao câncer mais comum entre as mulheres?

“Hoje, sabemos que só uma fração muito pequena de pacientes com câncer de mama tem benefício com essa droga”, disse Barroso. Até agora, o tratamento-padrão para esses tumores é feito com quimioterapia, apenas. “Qual o problema, hoje, de qualquer outro medicamento? É que, infelizmente, não sabemos qual paciente vai responder. Então fazemos uma tentativa. Todas as pesquisas que temos feito atualmente são para tentar identificar qual paciente vai responder a quê. Isso é individualizar o tratamento. É medicina de precisão”, explicou o médico.

Tão precisa que, pelo mapeamento de Barroso e de Tolaney, cerca de 3% das pacientes com tumores na mama têm o tal tipo de hipermutação de câncer. “Quando falamos de medicina de precisão, é isto o que procuramos: populações muito pequenas que podem se beneficiar muito de um protocolo específico”, explica Romualdo Barroso.

Em se tratando de câncer de mama, o achado, mesmo baixo em porcentagem, pode significar esperança para um número grande de mulheres. Pelas contas do Instituto Nacional de Câncer, 60 mil novos diagnósticos são feitos todos os anos no Brasil.
Se você pensar assim, são 1,8 mil pacientes. É mais do que o total de casos de sarcoma, por exemplo."
Romualdo Barroso, oncologista clínico, doutor pela Universidade de São Paulo e pós-doutor pela Harvard Medical School

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Próxima fase
A equipe que o brasileiro integra em Harvard deve começar, a partir do início de 2019, a observar se os resultados práticos serão tão animadores quanto os teóricos. Para isso, o grupo de pacientes pode ser menor. Apenas 30 pessoas serão recrutadas e receberão imunoterapia. Essa fase, no entanto, vai ser acompanhada pelo médico aqui do Brasil: após três anos em Harvard, ele retorna ao país em julho para integrar o quadro do Hospital Sírio-Libanês em Brasília.

Os resultados são esperados para daqui a três anos. Se confirmados, no entanto, poderão significar uma quebra de paradigma em tratamento de câncer de mama. “Não estamos prontos para usar isso no dia a dia. Esses estudos precisam de muita validação porque estamos tratando da vida das pessoas”, diz.
Esse é um primeiro passo. Até hoje, sabemos que imunoterapia não funciona em câncer de mama. E, sem o rigor científico, não conseguimos saber se os casos de sucesso são um padrão ou acaso."
Romualdo Barroso

O que é imunoterapia?
A imunoterapia é considerada atualmente a menina dos olhos dos estudos em tratamento de câncer, justamente pela sua capacidade de atuar em níveis bastante específicos da doença, o que lhe garante taxas bem maiores de sucesso. De um jeito simples de se explicar, é como se as drogas usadas nesses casos agissem como “capacitadoras” do sistema imunológico, para que ele, então, sozinho, identifique e destrua o tumor.

“O que elas fazem é ‘religar’ o sistema imune desligado pelo câncer”, explica o médico. A ideia é que, para crescer e se desenvolver, a doença “tapeia” o sistema imunológico, a fim de ele fazer vista grossa à massa de células estranhas se proliferando no organismo. Além de prolongar a vida dos pacientes de tumores antes fatais, essas terapias não têm os efeitos colaterais clássicos da quimioterapia, como náuseas, queda de cabelo e baixa da imunidade.

Na verdade, seus efeitos adversos são em decorrência do mecanismo oposto: um hiperfuncionamento do sistema imune da pessoa. “Em alguns casos, os pacientes passam a ter sintomas de doenças autoimunes, quando o sistema imunológico está tão ativo que começa a atacar o próprio organismo”, diz Barroso. A lista inclui principalmente inflamações, como pancreatite e tiroidite. “Os efeitos não são os mesmos da quimioterapia, mas podem ser chatos também. No entanto, acontecem com menor frequência”, tranquiliza o médico.

Desde que foram aprovadas, as chamadas drogas moduladoras do sistema imune são usadas no combate a 10 tipos diferentes de câncer. O primeiro deles foi o melanoma, uma variedade agressiva de câncer de pele cujos pacientes costumavam ter não mais que nove meses de sobrevida. Hoje, os dados dão conta de que entre 40% e 50% dos enfermos dessa doença tratados com imunoterapia continuam vivos quatro anos depois. Como os resultados ainda estão sendo acompanhados, esses números podem se mostrar ainda melhores no futuro.
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Sobre jaguarverdade

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