O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, disse nesta
quarta-feira, 25, que a presidente afastada, Dilma Rousseff, só voltará a
comandar o País se houver um "acidente de percurso" e negou que o novo
governo, de Michel Temer, com apenas 13 dias, já enfrente uma crise
política. Padilha defendeu o senador Romero Jucá (PMDB-RR), que foi
afastado do Ministério do Planejamento, ao sugerir, em conversa gravada,
um pacto para frear a Operação Lava Jato, e observou que um governo com
mais de dois terços de apoio "não pode ter medo" de oposição.
"A menos que haja um acidente de percurso, fica muito difícil que se
tenha retorno da presidente Dilma", afirmou Padilha, em entrevista ao
Estado. Advogado, o chefe da Casa Civil disse que, sob o ponto de vista
legal, é "perfeitamente possível" a absolvição da presidente, mas
observou que quem fez o movimento pela saída dela não foi o Congresso,
mas, sim, as ruas.
Questionado sobre o fato de Dilma dizer que a conversa gravada entre
Jucá e o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado escancara o "caráter
golpista do impeachment", Padilha foi econômico no comentário.
"Tenho muita dificuldade em ver pessoas com boa formação falar em
golpe quando o processo é regido pelo Supremo Tribunal Federal e foi
aprovado, até o momento, por mais de dois terços do Congresso", disse
ele. No diálogo com Machado, ocorrido em março, semanas antes da votação
do impeachment na Câmara, Jucá admitiu a necessidade de mudar o governo
para "estancar essa sangria", numa referência à Lava Jato.
À pergunta se o governo não temia que a Lava Jato acabasse
contaminando a nova administração, o chefe da Casa Civil enfatizou, com
um gesto de cabeça, a negativa: "O governo absolutamente não. Nós temos
certeza de que o presidente Michel Temer passa ao largo dessa questão da
Lava Jato".
Ao ser lembrado de que há, no governo, seis ministros citados em
investigações da Polícia Federal, o chefe da Casa Civil reagiu: "Muita
calma nessa hora. A menção pura e simples (de nomes) pode não ter nenhum
significado. A investigação pode chegar à conclusão de que é o caso de
arquivamento."
Padilha não quis comentar gravações feitas por Machado envolvendo o
presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e foi lacônico quando
lembrado de que a delação de Machado ameaça outros peemedebistas de
peso. "Cada dia com sua agonia", disse.
Planejamento. Embora o governo já esteja procurando
um substituto para Jucá, que seja afinado com o ministro da Fazenda,
Henrique Meirelles, Padilha não quis antecipar nomes. Cauteloso, disse
até mesmo que Jucá pode voltar ao comando do Planejamento, "na medida em
que o Ministério Público Federal dê o atestado de que não houve nada
censurável" na conversa mantida por ele com o ex-presidente da
Transpetro.
Sem esconder a alegria com a vitória do novo governo em seu primeiro
teste no Congresso, com a aprovação, na madrugada desta quarta-feira, da
revisão da meta fiscal - que elevou a possibilidade de déficit no ano
para R$ 170,5 bilhões -, o chefe da Casa Civil afirmou que o governo
Temer dará uma "guinada político-administrativa" no País.
Medidas. Padilha assegurou que a nova gestão fará
uma "auditoria" em todos os ministérios e repartições, mas disse que não
haverá devassa. "A intenção do governo não é fazer caça às bruxas",
insistiu.
O ministro também destacou a necessidade de reformar a Previdência
para equilibrar as contas públicas. Ao ser indagado sobre as críticas ao
pacote de medidas anunciado na terça-feira - que cria limite para
elevação dos gastos públicos e restringe o crescimento para despesas com
saúde e educação - disse que é preciso "fazer mais com menos".
Diante da pergunta sobre a possível inconstitucionalidade da medida,
Padilha fechou o semblante. "Não há nada inconstitucional. Zero. Eu sou
advogado. Isso é discurso de oposição", afirmou ele.
Aos 71 anos, conhecido por montar planilhas "certeiras" sobre votos
dos parlamentares, Padilha acertou o placar da Câmara para o impeachment
de Dilma. Agora, o ministro - que já foi titular da Aviação Civil no
governo Dilma e ajudou Temer na articulação política, no ano passado -
está certo de que a oposição ao presidente em exercício não vingará. E
como ficam as alianças municipais entre o PT e o PMDB nas eleições deste
ano?"
Acho que a votação no plenário, nesta madrugada dá a ideia da
possibilidade de aliança. É óbvio que inviabiliza", argumentou Padilha
Fonte: (AE)
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