Em seu primeiro discurso no cargo, Pedro Parente diz que apoia mudança na lei do pré-sal e que, a partir de agora, a política de preços de combustíveis vai atender a interesses da estatal
SAMANTHA LIMA
Em um discurso repleto de críticas tanto à política do governo anterior para o setor de petróleo quanto às gestões da Petrobras
no período petista, o novo presidente da empresa, Pedro Parente, usou
os termos “absurdo” e “inominável” para classificar “o que aconteceu”
com a empresa, referindo-se à crise financeira e à corrupção
que tomou conta da companhia. Em seu primeiro discurso no cargo,
Parente também afirmou que a sociedade tem uma visão “mais clara das
verdadeiras causas” do atual quadro da companhia. “A euforia e o
triunfalismo no discurso de anos recentes não servem mais para esconder o
verdadeiro descalabro que vitimou a companhia", afirmou. Para Parente,
a estatal “foi vítima de uma quadrilha organizada para obter os mais
escusos, desonestos, antiéticos e criminosos objetivos”. “Crimes que
foram praticados por pessoas que se valeram de seus cargos para
sustentar seus projetos de riqueza e poder.”
As críticas foram delimitadas ao período entre 2003 e 2014. Parente só poupou seu antecessor, Aldemir Bendine,
cujo trabalho na gestão da dívida foi elogiado. Bendine, que permaneceu
16 meses no cargo, não estava na cerimônia. Seu diretor financeiro,
Ivan Monteiro, continua na empresa, a convite de Parente. Para o novo
presidente, Bendine e equipe “tiveram a coragem de enfrentar essa
situação e arcar com o ônus das decisões difíceis, sem pautar-se por
questões partidárias”.
Parente indicou uma nova postura da Petrobras em relação à
obrigatoriedade de ser operadora única no pré-sal, com participação
mínima de 30%. O projeto de lei que retira essa obrigatoriedade, de
autoria do senador José Serra (PSDB/SP), já foi aprovado no Senado e
está sendo apreciado na Câmara. Antes, a empresa não opinava no assunto.
“A empresa apoia a revisão da lei de exploração do pré-sal”, disse.
Segundo Parente, a lei, como está atualmente, "não atende aos interesses
da empresa nem do país". Segundo ele, a manutenção da exigência vai
retardar a exploração do pré-sal, em razão da situação financeira da
Petrobras. Além disso, diz, a obrigação tira da Petrobras a liberdade de
escolher projetos que “atendam seu melhor interesse”.
Parente diz que as duas prioridades da empresa serão reduzir o
endividamento e investir no pré-sal. Afirmou que a empresa continuará
cumprindo função social. Neste ponto, teceu mais uma crítica às gestões
petistas, quando disse que a Petrobras, embora considere o interesse
público e as políticas de seu controlador, o Estado brasileiro, “não
pode se confundir com ele”. Aproveitou para lembrar que a Lei do
Petróleo, de 1997, assegurou a desregulamentação de preços de
combustíveis e a independência financeira e operacional da estatal.
Parente voltou a dizer que a política de preços de combustíveis vai
atender ao interesse empresarial. Confrontado com a informação de que,
minutos antes, também presente à cerimônia, o ministro de Minas e
Energia, Fernando Coelho, havia falado que a tal política ainda seria
alvo de discussões entre diversos ministérios, ele reafirmou o que
dissera. “Esta é uma decisão empresarial, que vai atender aos interesses
das empresas”.
O executivo atacou a política de conteúdo local,
segundo a qual a Petrobras deve atingir percentuais mínimos, em geral
superiores a 60%, de itens de fabricação nacional em seus projetos.
Considera seus resultados “pífios”. Segundo Parente, a atual política é
“necessária” para ajudar “nosso setor industrial a ser competitivo
globalmente”. Mas defende outro foco. “Que [a política] prevaleça pela
competência, que permita passar pelo teste ácido da concorrência e não
pela constituição e reserva de mercado”.
Sobraram, também, críticas à política de investimentos e aos projetos
das gestões anteriores, considerados “irrealistas, seja sob o ponto de
vista do prazo de conclusão, de seus custos finais e pelas premissas
utilizadas”. Os resultados, disse Parente, resultaram em um “grave
legado”, que, em seu entender, “explodiu” a dívida e drenou dinheiro do
caixa da companhia em projetos que não trarão retorno.
O novo presidente da Petrobras disse não ter tido tempo de reavaliar a carteira de negócios da Petrobras à venda. A anterior, montada por Bendine, visava arrecadar US$ 15 bilhões.Parente
disse “não gostar” da proposta de que a União injete dinheiro na
Petrobras por meio de emissão de novas ações, ou capitalização. “Joga
nas costas do contribuinte brasileiro a solução de um problema que ele
não ajudou a criar”, disse. Além disso, a opção não condiz com a grave
situação fiscal do país. “Vamos buscar e encontrar saídas que não sejam
uma injeção direta de capital do Tesouro na Petrobras.” Mas deu a
entender que a solução passará pelo governo federal. “Não quer dizer que
poderemos dispensar o apoio das autoridades brasileiras para o nosso
plano de recuperação.”
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