
Sem dúvida, o misticismo popular vem desde o Brasil colonial,
quando o povo se valia das crendices e fórmulas naturais em busca de
melhorias na luta contra as enfermidades, diante da precária assistência
à saúde. Assim, de acordo com os costumes e levado pelo limitado
conhecimento científico disponível na época, o homem une os recursos da
natureza à própria fé, dando início a uma variada farmacopeia composta
de meinhas, garrafadas, infusões, chás, amuletos e oferendas aos
santos para tratamento médico. A essas crendices se misturaram os traços
culturais e religiosos das três raças que formaram a etnia brasileira,
resultando em receitas, habilidades e saberes que se perpetuaram
oralmente, passando de pai para filhos de geração a geração.
Ainda
hoje, em qualquer parte do Brasil, principalmente no Nordeste rural, é
possível encontrarmos pessoas dispostas a exercer seus conhecimentos
dando assistência às aflições físicas, existenciais e espirituais. Essas
pessoas carregam consigo uma áurea misteriosa que inspira respeito e
confiança aos que as procuram. Dependendo da maneira como são usados
esses saberes, numa mistura de dom, solidariedade e ofício, é possível
identificar tipos e denominações diferentes em relação as suas
características de atuação.
Rezadeiras e
benzedeiras são denominações distintas para designar quase o mesmo
ofício. Porém, segundo o livro Rezas, benzeduras e simpatias, a
diferença é que benzedeiras são em geral mulheres, sendo mais
solicitadas para prestação de serviços e muitas vezes são as únicas
parteiras do lugar. Por ser uma função exercida em geral por mulheres, é
sempre referida no feminino.
As rezadeiras e
benzedeiras se diferenciam de outros indivíduos que promovem a cura das
doenças e afastamento do mal, pois fazem da oração a principal forma de
assistência, embora muitas vezes a rezadeira faça uso de ramos de
plantas durante a benzedura. Todo o trabalho da rezadeira, seus gestos, ejaculatórios, palavras e expressão corporal dão um clima de misticismo
ao ambiente e acabam proporcionando um grande poder de sugestão sobre os
presentes.

Nas rezas são usadas formas
modificadas das orações oficializadas pela Igreja Católica, misturadas a
palavras resmungadas e incompreensíveis de um latim corrompido. Essas
rezas abrangem as mais variadas necessidades, podendo solucionar
conflitos familiares, chamar pessoas de volta à responsabilidade, acabar
com o poder maléfico de um ambiente, e outros problemas que contribuem
para a credibilidade da rezadeira, como a cura do mau-olhado, quebranto,
espinhela caída, cobreiro, febre, tristeza, míngua, ar na cabeça,
erisipela, dores em geral e outras doenças que muitas vezes variam de
nome de acordo com a cultura local.
Por serem
consideradas portadoras de um dom Divino especial, as rezadeiras não
costumam cobrar por seus serviços, mesmo porque em geral os usuários
desses serviços são pessoas de baixa renda ou com renda mínima e com
dificuldades de acesso a serviços formais de saúde. Mas, caso o paciente
possa e queira pagar, elas aceitam a contribuição que em grande maioria envolve objetos e não dinheiro.
No
meio rural as rezadeiras e benzedeiras comumente têm formação católica,
já nos centros urbanos, seus rituais variam seguindo a diversidade
religiosa local conforme preceitos que podem ser católico, kardecista,
adventista, umbandista ou esotérico. Entretanto, mesmo baseadas em
cultos ou religiões diferentes, as rezadeiras e benzedeiras seguem os
mesmos princípios de humildade, solidariedade, justiça e contato diário
com o divino.
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