Ao retratar estrangeiros, escravos ou sátiros, os artistas desenhavam órgãos grandes, só que eles não eram exemplos a serem admirados
As esculturas de homens da Grécia e da Roma
Antigas são dotadas de pênis pequenos, algo que muita gente evita
comentar por educação ou por vergonha.
Em parte, isso acontece porque seus membros
foram esculpidos para parecer que estão moles, e não em posição sexual.
Quem usou esse argumento foi a historiadora da arte Ellen Oredsson no
seu blog How to talk about art history. “Se alguém compara com o tamanho
da maioria dos pênis moles, (os dos gregos) não são na verdade tão
significativamente menores quanto os da vida real”, escreveu ela ao
responder a uma pergunta de um leitor.
Outro motivo é cultural. Os gregos valorizavam os pênis de
tamanho menor. Quando pintavam um grego inteligente e admirado, eles o
retratavam com um pênis pequeno. Assim, queriam dizer que prezavam o
intelecto e as divagações filosóficas. Pênis grandes eram considerados
feios e grosseiros, coisa de bárbaro.
Ao moldar no mármore aqueles que não se encaixavam nessa categoria, a atitude era oposta. “Os artistas gregos mostravam o seu desprezo pelos estrangeiros e pelos escravos pintando-os com órgãos grandes”, escreveu David M Friedman no seu livro A Mind of its own: a cultural history of the penis
(Penguim). Além disso, quando faziam um sátiro, um ser mitológico
pequeno, festeiro e com patas de cabra, os artistas o faziam com o pênis
grande e ereto.
“A conclusão mais razoável é a de que se um pênis
grande vem com uma face horrível e o pênis pequeno com um rosto bonito,
então o pequeno é que era admirado“, escreveu o historiador Kenneth Dover no seu livro Greek Homossexuality (Bloomsbury Academic), lançado inicialmente em 1978.
Ao longo dos séculos, embora os gostos fossem mudando, o
padrão de beleza permaneceu o mesmo. Os romanos, que vieram depois dos
gregos, valorizavam o membro avantajado a ponto de alguns generais serem
promovidos por causa do tamanho de seus órgãos. Contudo, essa admiração
não foi refletida nas estátuas, que continuaram na tradição grega.
Quando os pintores e escultores renascentistas, a partir do século XIV,
passaram a se espelhar no período antigo, eles seguiram a tradição.
A estátua de Laocoonte e seus filhos, que ilustra esse blog, é do século 1 a.C. e foi desenterrada em Roma em 1506. Hoje está no museu do Vaticano. Há até uma réplica no parque do Ibirapuera,
em São Paulo. Fica perto do lago. O italiano Michelangelo Buonarroti
foi um dos que foram acompanhar a retirada das peças. Ele se
impressionou tanto que depois fez duas esculturas retratando escravos, inspiradas no que viu. Ambas
estão atualmente no Louvre, em Paris. O membro de Laoconte tem
dimensões diminutas. Os dos dois escravos estão escondidos pelas
túnicas.
Mas a obra de Michelangelo cujo tamanho de pênis mais causa alvoroço é a estátua de Davi, que fica em Florença e foi concluída por Michelangelo em 1504, dois anos antes da descoberta do Laocoonte em Roma.
Para o historiador inglês Martin Gayford, autor da biografia Miguel Ángel: una vida épica
(Taurus), a falta de proporção foi intencional e também pode ser
observada no tamanho de sua cabeça (a de cima), que foi
superdimensionada.
“No que se refere ao conjunto, sem dúvida, é qualquer coisa menos proporcional. Pelo contrário. Davi
é um monstro: a soma de suas partes não constitui uma figura humana
real; tem o corpo e o desenvolvimento muscular de um adulto, mas em
vários aspectos, sua compleição é a de um menino“, escreveu Gayford.
Para o crítico, “o fato de que passemos por alto (ou
simplesmente não vejamos) essa desproporção é um tributo da força da
arte de Michelangelo”.
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