Os bancos seguem sem atendimento. População ainda tenta se recuperar do confronto entre policiais e assaltantes que terminou com cinco presos e sete mortos. Polícia segue no Município em busca dos que fugiram
Desde o momento dos disparos até o amanhecer, dona Aldenia Oliveira se apegou às orações. "A felicidade é que estava deitada. Aí a bala passou por cima de mim", conta
Dois dias após o ataque a agências bancárias que resultou em sete mortos e cinco presos, é impossível percorrer a cidade de Jaguaruana, a 173 quilômetros de Fortaleza, sem notar as paredes marcadas pelos tiros. Moradores ainda tentam se recompor depois da madrugada do último sábado, 1º.
As agências do Bradesco e do Banco do Brasil, além do posto bancário da Prefeitura, que foram atacados, estão sem realizar atendimento. Apenas o banco Bradesco está com os caixas eletrônicos em funcionamento.
Cada morador tem uma história dos momentos de pânico para contar. Alguns falam de renascimento, feito a dona Aldenia Oliveira, de 80 anos. Com residência na avenida Simão de Góis, em frente ao Banco do Brasil, viu sua única televisão ser atingida por um tiro de fuzil. Nas paredes da residência, nas portas, as marcas permanecem. Dona Aldenia lamenta que, além do trauma, agora não pode mais acompanhar os programas de oração.
A bala passou por cima da rede em que a viúva estava deitada. Ela diz que foi protegida pelas orações. Não soltou o terço desde o momento que começaram os tiros até o dia amanhecer. “Peguei o terço, comecei a rezar e me deitei na rede. A felicidade é que estava deitada. Aí a bala passou por cima de mim”, relata.
Já a família do representante comercial Francileudo da Silva, de 46 anos, teve que dar adeus ao ente querido. O sepultamento dele aconteceu no domingo, 2. A irmã, Maria Erineuda da Silva, de 37 anos, diz que o pior é ter de lidar com os boatos de que o irmão seria um dos criminosos. Ela viu foto do corpo de Francileudo pelas redes sociais, junto dos outros mortos no tiroteio. “A gente foi lá e não deixavam a família encostar. Disseram que o rabecão ia levar, mas depois cataram o corpo dos assaltantes e levaram ele junto. Quando chegaram lá postaram um vídeo do necrotério como se fosse um bandido”, lamenta.
Em uma das casas vizinhas ao Banco do Brasil, uma idosa que preferiu não ser identificada, diz que muita gente pensou se tratar de fogos, devido a alguns festejos políticos que aconteceram na última sexta-feira, 31. Mas o barulho não cessava. “Ouvi o primeiro tiro e pensei que era bomba. Fiquei esperando ver os fogos, mas o negócio aumentou. E era tátátátá. Acordei meu marido e disse que estavam assaltando o banco, o banco ia cair e nossa casa ia cair. Quando ele sentou na rede foi passando mal”, conta.
Pendências
Na porta do banco, a cliente Ana Teresa de Carvalho, de 47 anos, dizia ontem que ia pagar boletos, mas, como o atendimento ainda não foi retomado e ela não usa o caixa eletrônico para esse tipo de ação, seria necessário buscar a cidade vizinha. “A gente tem que vir ao banco porque a vida segue, mas é com medo”, ressaltou.
Agradecimentos
Moradores relatavam que se sentiam amparados pela presença do Comando Tático Rural (Cotar) no Município. A maioria diz que conhece histórias dos ataques nas cidades vizinhas em que as quadrilhas faziam reféns, usavam moradores como escudo humano e levavam as pessoas amarradas em cima de caminhonetes. Para o morador Flávio Joaquim Oliveira, de 38 anos, o reforço policial é fundamental para inibir que outras ações aconteçam.
Reclamações
Uma moradora questionou o fato de, se já sabiam da possibilidade de um ataque, por qual motivo não impediram a seresta na sexta. Muitos moradores voltavam da festa na hora do tiroteio.
Fonte: Jornal o Povo
JÉSSIKA SISNANDO
0 comentários:
Postar um comentário