O trabalho de consultoria que rendeu R$ 2,5 milhões a Luís Cláudio
Lula da Silva, filho mais novo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, foi baseado em “meras reproduções de conteúdo disponível na rede
mundial de computadores, em especial no site do Wikipedia”, informa
relatório da Polícia Federal.
Para os investigadores, a cópia de “conteúdo disponível na rede
social” reforça as suspeitas de que a empresa está envolvida no suposto
esquema de compra de medidas provisórias para favorecer montadoras de
veículos com inventivos fiscais. O caso, investigado na Operação
Zelotes, foi revelado pelo “Estado”. “Os estudos apresentados pareciam
ser de rasa profundidade e complexidade, em total falta de sintonia com
os milionários valores pagos”, diz o documento.
A PF já indiciou 19 pessoas supostamente envolvidas no esquema. Luís
Claudio não consta da relação dos indiciados, segundo a PF, porque foi
descoberto durante busca e apreensão, na última fase da Zelotes, um
contrato sem o nome da LFT, empresa de Luís Cláudio que prestou a
consultoria, bem similar aos que ele assinou com a Marcondes &
Mautoni, que pagou os R$ 2,5 milhões. Se for confirmado outro vínculo
com a empresa, o valor dos negócios da com a Marcondes pode chegar a R$ 4
milhões.
Conforme o relatório, o mesmo valor é “suscitado pelo lobista
Alexandre Paes dos Santos, um dos investigados, como sendo o que tinha
sido acertado como pagamento para os ‘colaboradores’ de Mauro
Marcondes”, dono da Marcondes & Mautoni no lobby para viabilizar as
MPs. Segundo a PF, os pagamentos para a empresa de Luís Claudio só
cessaram com a deflagração da primeira fase da Zelotes.
Foi a localização desse novo contrato que levou a PF a decidir por
instaurar uma nova investigação específica sobre os negócios envolvendo o
filho de Lula. “Essa hipótese, bem como o real propósito desses
pagamentos, não foi confirmada até o presente momento, razão pela qual
será dada continuidade à investigação em outro inquérito policial em que
será analisado todo o material coletado com vista à pela elucidação dos
fatos apurados”, afirma a PF.
O relatório da Polícia Federal cita ainda supostas investidas dos
envolvidos “junto à Presidência da República”, que teriam enviado
documentos ao então Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva,
tratando dos pleitos das montadoras para a prorrogação de incentivos
fiscais.
O ex-ministro Gilberto Carvalho também é citado no relatório da PF.
Ele não foi indiciado, mas será investigado em nova frente. “Constatamos
que as relações mantidas entre a empresa do lobista Mauro Marcondes e o
Gilberto Carvalho são deveras estreitas, o que reforça o envolvimento
deste nas tratativas para a edição da medida provisória para
beneficiamento do setor automotivo, utilizando-se de servidor público
que ocupava a “antessala” do então Presidente da República, Luiz Inácio
Lula da Silva, responsável direto pela edição de Medidas Provisórias.”
O relatório reitera que Marcondes “recorre ao ‘amigo’ Gilberto
Carvalho para que chegue documento às mãos do então Presidente Lula, mas
para isso pede que o cumprimento dessa incumbência seja “daquela forma
informal” e “low profile” que só o Gilberto Carvalho consegue fazer, sem
“formalidades” e no momento oportuno.”
Ainda sobre a LFT Marketing Esportivo, o relatório da PF considerou
que os “vultosos” pagamentos ao filho do ex-presidente foram um “ponto
fora da curva”, por se tratar de uma empresa “que nunca tinha aparecido
como prestadora de serviços da empresa de lobby”, não possui nenhum
funcionário cadastrado nos seus quadros e tampouco informa pagamento de
salário ou recolhimento de contribuições previdenciárias de empregados.
Luís Claudio e Mauro Marcondes já foram ouvidos pela PF a respeito
dos contratos. “Contudo, a nosso ver, as versões por eles apresentadas
se mostraram por demais contraditórias e com conteúdo pouco aferível”,
afirmam os investigadores.
O relatório da PF menciona que o fato de o “Estado” ter revelado o
esquema antes da deflagração da Operação Zelotes pela PF fez com que
Luís Claudio fosse até a sede da LFT retirar a documentação referente
aos serviços prestados a Marcondes para levá-las ao escritório Teixeira,
Martins Advogados, pertencente ao “seu padrinho Roberto Teixeira, para
uma “validação” dos contratos, como se o momento mais apropriado para
uma análise jurídica desses vultosos contratos que envolviam a cifra de
R$ 2.500.000,00 fosse realmente após sua a celebração e, mais, após
recebimentos dos valores contratados. É como se os pagamentos não fossem
uma confirmação tácita do contratante de que os contratos já tinham
sido “validados””.
A defesa de Luís Cláudio sustenta que seu cliente prestou serviço na
área de marketing esportivo para a Marcondes & Mautoni por meio da
LFT e que tais serviços foram “comprovados”.
“Ao final dos trabalhos, foram entregues relatórios sobre cada um dos
projetos elaborados. A LFT recebeu pagamentos da Marcondes &
Mautoni entre junho de 2014 e março de 2015, à medida que os trabalhos
contratados foram executados. Todos os valores foram declarados à
Receita Federal e houve a emissão de notas fiscais, com os devidos
impostos recolhidos”, explica nota subscrita pelo advogado Cristiano
Zanin Martins.
Procurado, o advogado de Mauro e Cristina não se pronunciou. O
ex-ministro Gilberto Carvalho não foi localizado ontem. Ele tem negado
que atuou para favorecer montadoras.
Fonte: http://politica.estadao.com.br
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