O aposentado João Rosendo diante de agência que teve a entrada explodida em Barra de Santa Rosa (PB)
Era madrugada no momento em que começaram as explosões na agência do
Banco do Brasil do município de Pilar (PB), a 55 km de João Pessoa. "Foram mais de 40 minutos de tiros e bombas.
Todo mundo ficou assustado, parecia que o chão ia desabar", relata a
aposentada Maria das Dores Costa, que, desde então, todo mês precisa se
deslocar até o município vizinho para tirar dinheiro e pagar suas
contas.
Uma parte da prefeitura ficou destruída, inclusive muitos documentos, porque funcionava colada à agência da Caixa.
A comerciante Gorete Almeida também comenta sobre a insegurança.
"Vivemos reféns dos bandidos. Eles chegam em bandos e tocam o terror na
cidade, nem os policiais se arriscam a enfrentá-los", diz.
No dia da explosão ao banco, ela se abraçou com os dois filhos e o marido e começou a rezar pedindo proteção para a família.
É esse o clima que os criminosos deixam por onde passam na maioria dos municípios do interior da Paraíba. Além de ficar sem banco, a população dessas localidades vive com medo de uma nova investida.
Neste ano, segundo levantamento do Sindicato dos Bancários do Estado, foram registrados 101 ataques a agências bancárias,
sendo explosão a modalidade mais recorrente, com 61 casos. Em seguida, o
crime mais recorrente é de arrombamento, com 31 ocorrências. O Banco do
Brasil é o principal alvo dos ladrões, seguido do Bradesco.
No município de Pilar, de agosto a dezembro deste ano, foram
registradas três explosões: uma à agência da Caixa Econômica, que fica a
poucos metros da Companhia da Polícia Militar, na rua principal, e duas
ao Banco do Brasil. O modus operandi é de vários homens chegarem em
dois ou mais carros, jogarem os explosivos e espalharem pregos nas ruas
para impedir o acesso da polícia aos locais dos crimes.
No
município de Barra de Santa Rosa, distante 190 km de João Pessoa, a
população está sem banco desde março, quando a agência foi explodida
dois dias após retomar as atividades. O local passava por reformas para
recuperar a estrutura danificada por uma explosão ocorrida meses antes.
Os relatos da população lembram cenas de filmes de faroeste. O
aposentado João Rosendo mora próximo ao banco e ainda hoje, nove meses
depois, se lembra com detalhes do dia da ação criminosa. "Foi tiro para
todo lado, parecia até que era dentro de casa. Com medo de morrer, foi
todo mundo para debaixo da cama, foi muita bala."
Francisco
Oliveira, que também mora próximo à agência, disse que não sabe o que é
pior: ficar sem banco na cidade ou o banco voltar a funcionar e
novamente ser alvo de bandidos. "É muito ruim ter que ir pra outra
cidade sacar o benefício da aposentadoria, mas é ainda pior saber que os
bandidos podem voltar para explodir o banco de novo"
Temor dos funcionários
Entre os funcionários de bancos, o clima também é de medo, sobretudo
nas agências do interior, segundo Marcos Henriques, presidente do
Sindicato dos Bancários da Paraíba.
"Há um temor generalizado. Temos muitos bancários com síndrome do pânico,
estresse, depressão. Não sei precisar quantos, mas posso afirmar que
isso hoje é uma consequência desse problema", afirmou. Na avaliação de
Henriques, os bancos estão sendo negligentes. "Eles assinam o atestado
de incompetência quando deixam de investir em segurança."
Para o
sindicalista, o monitoramento integrado 24 horas poderia ser uma medida
contra os recorrentes ataques a bancos. "Infelizmente os bancos não se
adaptam a essa necessidade. Quem sofre é a população e os bancários, que
se tornam reféns das ações de criminosos", diz.
A Febraban
(Federação Brasileira dos Bancos) informou, por meio da assessoria de
imprensa, que os bancos estão empenhados em apoiar as autoridades,
incluindo as da Paraíba, no combate aos problemas de segurança pública
dos quais também são vítimas.
Sobre os ataques, a Febraban
ressaltou que seus bancos associados vêm acompanhando os casos com
extrema preocupação. "O dano das explosões força as instituições
financeiras a reformar o local e a repor os equipamentos danificados,
sem reaproveitamento de peças ou maquinário, e essa reforma exige certo
tempo.
"Nesses assaltos e arrombamentos, os criminosos usam
força desproporcional, com armamentos pesados, de elevado poder de
destruição. A ação de segurança necessária para fazer frente à violência
empregada está fora de alcance das instituições privadas, como
estabelecimentos comerciais e bancos", informa trecho da nota.
Colaboração para o UOL, em João Pessoa
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