Estudo feito na Holanda revela que os indivíduos não costumam desprezar uma "oportunidade de ouro" para a prática da corrupção
Em um país onde escândalos de corrupção têm se tornado comuns e investigações como a Lava Jato parecem
envolver todas as instâncias políticas, muitos brasileiros
provavelmente se perguntam como um cidadão se transforma em um sujeito
desonesto capaz de cometer tais atos. Cientistas já haviam tentado
solucionar essa questão, mostrando que a mentira e a desonestidade podem
ser estimuladas pela prática e,
gradativamente, pequenos atos se tornam grandes crimes. Um estudo
publicado recentemente, porém, avaliou o comportamento de quase cem
pessoas durante um jogo envolvendo dinheiro virtual e concluiu que,
quando uma boa oportunidade surge repentinamente, somos mais propensos a praticar atos de corrupção.
“Comportamentos
antiéticos como a corrupção nem sempre surgem gradualmente, mas, às
vezes, ocorrem de maneira abrupta, espontânea e inesperada”, afirmou
Nils Köbis, da Universidade Livre de Amsterdã, na Holanda, líder do
estudo, em comunicado. “Especialmente quando as decisões aparecem em
rápida sucessão, as pessoas podem ser relutantes em praticar corrupção
repetidamente e preferir aproveitar os benefícios de formas maiores de
corrupção em um ato único.”
Oportunidade de “ouro”
A teoria mais aceita pelos pesquisadores a
respeito da corrupção é que esse tipo de comportamento se desenvolve
como uma “slippery slope”, expressão do inglês que corresponderia a algo
como “ladeira escorregadia”. Esse termo costuma ser utilizado na área
da psicologia para fazer referência a um pequeno desvio no
comportamento, considerado moralmente aceitável, que começa a ser usado
como desculpa para praticar atos cada vez maiores.
Partindo dessa ideia, Köbis e sua equipe
levantaram a hipótese de que o comportamento corrupto poderia também ser
acionado quando alguém encontra uma “oportunidade de ouro” — que
definiram como uma circunstância única que poderia se converter em
benefícios imediatos. Em outras palavras, uma chance que parece boa
demais para ser desperdiçada. Os pesquisadores decidiram, então, testar
as duas teorias em uma série de quatro estudos.
No primeiro, 86 estudantes participaram
de um jogo com cinco rodadas. Em cada uma delas, dois competidores
assumiam o posto de chefe executivo de construtoras concorrentes e
recebiam um orçamento de 50.000 moedas virtuais cada. O objetivo era
negociar uma licitação de 120.000 moedas virtuais com um terceiro
jogador, que representava um oficial público e assinaria o contrato que
tivesse a maior oferta. Se as ofertas eram iguais, os participantes
dividiam o prêmio no meio. Porém, apenas um dos jogadores era um
participante real – tanto o outro competidor que fazia as ofertas quanto
o funcionário público eram computadores.
Os participantes também tinham a opção de
subornar o oficial público. Um dos grupos foi apresentado a uma
oportunidade única, na qual poderiam oferecer uma viagem paga em troca
da garantia da vitória. Já ao outro foi dada a chance de oferecer
primeiro um jantar com tudo pago, que aumentava em apenas 50% suas
chances de conseguir a licitação, para depois ter a oportunidade de
oferecer a viagem. O custo total de ambas opções era o mesmo, a
diferença estava apenas no caminho que eles poderiam fazer para
conquistar a vitória – um ligeiramente mais longo que o outro.
Os resultados mostraram que as pessoas
eram muito mais propensas a praticar o suborno quando a oportunidade de
garantir a vitória aparecia logo no primeiro momento. O mesmo padrão foi
observado nos outros três estudos, que testaram o mesmo jogo com
algumas alterações, incluindo uma terceira opção de suborno menos grave,
substituindo todas as máquinas por participantes reais ou oferecendo
dinheiro real em proporção ao número de vitórias dos jogadores.
Segundo os cientistas, os participantes
alegaram ter conhecimento da transgressão moral envolvida no ato de
corrupção, classificando o oferecimento de um suborno de maior dimensão
como algo mais grave do que formas menores de suborno ou não oferecer
nada.
Corrupção inesperada
Os resultados da pesquisa foram
surpreendentes para os pesquisadores, pois contrariam a ideia de que a
desonestidade se fortalece com a prática de pequenos atos.
“Considerando que a corrupção traz muitos
efeitos negativos para a sociedade em todos os países do mundo,
pesquisas que ajudam a compreender quando e como as pessoas começam a
praticar esses atos podem trazer benefícios sociais cruciais”, afirma
Köbis. “Com a ajuda de mais estudos nesse tópico e o intercâmbio de
conhecimentos entre profissionais e acadêmicos, no futuro essas
situações poderiam ser identificadas e, assim, medidas preventivas
poderiam ser designadas.”
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