Geraldo Aurélio Feitosa relatou que a Petrobras lhe deu calote
Geraldo
Feitosa, dono da Cogefe Engenharia, relatou à Justiça Federal em Minas
que estatal lhe deu calote e que, via Frei Betto, chegou ao então
presidente que lhe teria prometido apoio que nunca veio (Foto:
Reprodução/Youtube)
O dono da empresa Cogefe Engenharia, Geraldo Aurélio Feitosa,
disse em depoimento à Justiça Federal de Minas Gerais, no dia 9 de
dezembro de 2016, que sua companhia foi vítima do esquema de corrupção
na Petrobras e que chegou a buscar ajuda do ex-presidente Lula, via Frei
Betto, para tentar resolver o calote que tomou da estatal por não pagar
propina, segundo ele a “mala preta” que foi exigida para as obras do
Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes), no Rio de Janeiro.
“Trabalhamos por 24 anos para a Petrobrás, em todos os Estados do
Brasil, São Paulo, Sul, Rio de Janeiro, Minas Gerais, nunca tivemos o
menor problema. Mas na obra do Centro de Pesquisas, na Ilha do
Governador, o Cenpes, que era uma obra de porte, começou tudo”, relatou.
“Não pagaram as medições, não liberaram, não pagaram projeto”, seguiu
Feitosa.
O engenheiro não deu detalhes de como teria sido o diálogo com o
ex-presidente, disse apenas que Lula lhe prometeu ajuda e que Paulo
Okamotto, presidente do Instituto Lula, teria indicado um diretor
jurídico na estatal para ele conversar, tudo sem sucesso. “Pediam
(ex-dirigentes da Petrobras) inclusive para ir no Lula, como eu fui,
através de um amigo aqui de BH (Belo Horizonte), o Frei Betto, me levou
lá, estive pessoalmente e (disseram) ‘não, vamos resolver’, ‘vamos
resolver’”.
O depoimento dono da Cogefe foi encaminhado em vídeo pela
Procuradoria da República em Minas para o juiz Sérgio Moro no dia 1.º de
fevereiro.
Feitosa era réu até novembro do ano passado em uma ação penal em
Minas acusado de sonegar R$ 2,2 milhões por meio de empresas de fachada
com as quais sua companhia teria mantido contrato, segundo a
Procuradoria da República do Estado. Segundo ele, por causa desse calote
da Petrobras sua companhia teve um prejuízo contábil de R$ 65 milhões.
Ele foi absolvido pelo juiz Murilo Fernandes de Almeida, que entendeu
não haver elementos suficientes para condenar Geraldo e Paulo Rogério
Feitosa e acabou absolvendo os sócios da Cogefe.
O engenheiro contou que neste período era recebido mensalmente pelo
ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco e o ex-diretor de Serviços Renato
Duque que lhe prometiam resolver o assunto ‘em breve’. Mais de um ano
depois, sua companhia ainda não tinha recebido os recursos e os
ex-dirigentes da estatal, atualmente condenados na Operação Lava Jato,
lhe sugeriram que a Cogefe fizesse um contrato de cessão da obra para a
Andrade Gutierrez, empreiteira que participava do cartel que fraudava
licitações na estatal.
Feitosa relatou que aceitou fazer o contrato, que acabou sendo
assinado, e passou a responsabilidade pelas obras para a Andrade
Gutierrez. Na ocasião, segundo relatou, ele pediu que fosse feito um
acordo para que sua empresa recebesse o pagamento que faltava, o que
nunca ocorreu. “Trocaram de interlocutor (a Andrade Gutierrez) oito
vezes e nos deram uma banana, todas as canetas caíram, inclusive da
Petrobras”, afirmou.
“Eu falei, eu não entendo isso e as vezes a gente nem entende como
deus age por linhas tortas, porque se tivéssemos entrado nesse esquema
poderíamos estar lá em Curitiba, como inúmeros, todos esses que estão lá
eu via, via trânsito na Petrobras, porque eu ia todos os meses e por
incrível que pareça era recebido todos os meses e nada se resolvia”,
disse.
As obras do Cenpes envolvendo a Andrade já foram alvo de denúncia na
Lava Jato em Curitiba. A Procuradoria da República no Paraná denunciou
em julho de 2015 treze pessoas, incluindo executivos da empreiteira, por
167 atos de corrupção, no total de R$ 243 milhões, e 62 atos de lavagem
de dinheiro, envolvendo um montante de R$ 6,79 milhões e US$ 1 milhão.
Defesa de Lula
O criminalista José Roberto Batochio, que coordena a defesa do
ex-presidente Lula, afirmou que o depoimento se trata da fala de um réu
que lança acusações sobre outras pessoas para tentar se safar da Justiça
e que por isso deve ser visto com cautela.
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